Matheus Ferreira Lima, Epoch Times
Não havia dúvidas de que Putin seria eleito no dia 18 de março, para o seu quarto mandato como presidente da Rússia. Desde os anos 2000 governando o país direta ou indiretamente, a liderança carismática de Vladimir Putin forjou um sistema aparentemente democrático, mas que, na realidade, o tem como centro gravitacional.
Dificilmente o ex-agente da KGB partirá para um quinto mandato. O mais provável é que, ao longo dos próximos 6 anos, Putin busque um sucessor que o blinde contra retaliações, por medidas tomadas enquanto esteve oficialmente no poder, e que não coloque obstáculos a que ele exerça influência nos bastidores.
Apesar de suas práticas autocráticas, a Rússia não é uma monarquia tanista. Putin apontará o seu preferido, mas esse herdeiro também precisará do apoio do resto da elite política. Assim, Mark Galeotti, pesquisador do Instituto de Relações Internacionais de Praga, acredita ser prematuro indicar um nome como futuro sucessor. Contudo, ele acredita que o escolhido do atual presidente será alguém pouco conhecido publicamente, mas capaz de ter tanto o apoio de Vladimir Putin, quanto da elite do poder russo.
Quanto ao resto da população, na democracia gerenciada russa os meios de comunicação de massas podem facilmente criar o consenso em torno do escolhido.
Apesar de o poder de Vladimir Putin estar inconteste em solo moscovita, não podemos dizer o mesmo do pós-putinismo. Há quase uma década, Alexei Navalny se apresenta como opção ao atual sistema autocrático russo.
Tendo começado sua carreira política expondo a corrupção em empresas públicas russas do setor petrolífero, o líder do Partido do Progresso acabou por estabelecer a Fundação Anticorrupção, em 2011, para investigar crimes cometidos por membros do alto escalão do governo.
No entanto, apesar da capacidade de Navalny em angariar as massas e levá-las às ruas, Mark Galeotti acredita que ele só terá sua primeira chance verdadeira em uma eleição após Vladimir Putin instalar o seu sucessor no poder.
No atual governo, o Kremlin não teve dificuldades em barrar a candidatura de Navalny nas duas eleições das quais tentou participar, em 2013, para prefeito de Moscou, e em 2018, para a presidência da Rússia.
Esse cenário seria diferente, caso o governo russo se desestabilizasse. Mas em um contexto de recuperação econômica (crescimento do PIB previsto para 1,5% e inflação controlada na casa dos 4%, segundo o Banco Mundial) e ausência de comoção intestina, o sistema autocrático de Vladimir Putin se mantém estável.
Apesar de o governo de Theresa May, primeira-ministra do Reino Unido, ter sinalizado com sanções ao governo russo após o ataque ao ex-espião russo Sergei Skripal em solo britânico, dificilmente elas terão o impacto necessário para chacoalhar os alicerces do Kremlin. Por enquanto, os investimentos da oligarquia russa estão seguros na City of London.
Da mesma forma, a saída forçada de diplomatas russos de vários países membros da OTAN e de países europeus dificilmente se agravará, a ponto de levar o mundo a um conflito bélico. As medidas têm mais o caráter de passar uma mensagem e, como bônus, prejudicar as operações de inteligência russa em solo estrangeiro.
Enviar agentes de inteligência sob o disfarce de integrantes do corpo diplomático é prática comum entre, provavelmente, quase todos os países.