A Síria atravessa uma de suas maiores transformações recentes. A derrocada do regime de Bashar al-Assad, que esteve no poder por quase 25 anos, mudou drasticamente o cenário político do país.
Em uma ofensiva inesperada, grupos rebeldes tomaram Damasco, a capital do país, praticamente sem encontrar resistência militar. A família Assad deixou o território e foi recebida na Rússia, onde obteve asilo político.
O episódio encerra um ciclo de governo autoritário, mas abre um cenário de incertezas para o futuro do país.
Rebeldes assumem o controle
A coalizão rebelde, liderada pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), consolidou rapidamente o controle sobre a capital. Entretanto, o avanço trouxe desafios imediatos, como a necessidade de conter tumultos e saques em algumas áreas urbanas.
Relatos indicam que tanques do antigo exército foram abandonados, simbolizando o colapso completo da estrutura militar que sustentava o governo Assad.
Abu Mohammed al-Golani, principal figura do HTS, criticou duramente a ingerência do Irã na região. Ele denunciou o uso de comunidades locais para interesses externos e afirmou que o objetivo do HTS é reconstruir a Síria como um país soberano e livre de influências prejudiciais.
Golani também emitiu uma advertência direta a Israel, afirmando que as ações militares israelenses não ficarão sem resposta.
Ele apelou aos Estados Unidos para revisarem seu posicionamento político e encerrarem qualquer tipo de apoio ao regime de Assad.
Repercussões no exterior
A reviravolta no cenário sírio gerou reações diversas entre os líderes globais. O presidente francês, Emmanuel Macron, elogiou o povo sírio por seu esforço em superar o regime autoritário.
“O estado bárbaro caiu, finalmente. Expresso o meu apreço ao povo da Síria pela sua coragem e paciência. Neste momento de incerteza, desejo-lhe paz, liberdade e unidade. A França continua comprometida com a segurança e a estabilidade em todo o Médio Oriente”, escreveu o francês em uma postagem no X.
Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump expressou neutralidade, destacando que o conflito não era uma prioridade direta para seu governo.
“A Síria está um caos, mas não é nossa amiga, e os Estados Unidos não deveriam se envolver. Esta não é a nossa luta. Deixe acontecer”, afirmou Trump.
Na Alemanha, Olaf Scholz defendeu que o novo governo sírio deve assegurar estabilidade e direitos básicos para a população.
“Hoje, estamos ao lado de todas as mulheres e homens sírios que estão cheios de esperança na construção de uma Síria livre, justa e segura”, escreveu o alemão no X.
Enquanto isso, potências regionais e internacionais intensificam medidas de segurança. Os Estados Unidos e a Rússia monitoram de perto estoques de armas químicas e bases militares na região.
Israel manteve operações limitadas, enquanto a Turquia continua seus ataques contra facções curdas. O governo turco também indicou planos de repatriar refugiados sírios para áreas controladas por suas forças.
O primeiro-ministro israelense declarou que seu país permanecerá vigilante para impedir que o caos na Síria ameace sua segurança nacional.
Al-Golani sob pressão
Apesar da posição central que ocupa no cenário atual, Abu Mohammed al-Golani segue sendo alvo de sanções internacionais. Os Estados Unidos mantêm uma recompensa de até US$ 10 milhões por informações que levem à sua captura.
O HTS, anteriormente vinculado à Al-Qaeda, continua sendo classificado como organização terrorista por diversos países, incluindo os EUA. Apesar de buscar redesenhar a imagem do grupo através de aproximação com a mídia ocidental, Golani enfrenta resistência e desconfiança.
Ele tem investido em uma estratégia de comunicação voltada a apresentar o HTS como uma força política e representante dos interesses do povo sírio. No entanto, especialistas apontam que o histórico do grupo ainda é um grande obstáculo para a aceitação internacional.