Por Epoch Times
Os problemas de abastecimento na Venezuela pioraram depois de cinco dias de apagão, com muitas pessoas lutando para obter produtos básicos e água, depois que a energia foi interrompida na quinta-feira passada, deixando todo o país no escuro.
Diante do agravamento da crise, a Assembleia Nacional liderada pelo presidente Juan Guaidó decretou estado de alerta por 30 dias, o que é autorizado quando há calamidades públicas que afetam a segurança do país, segundo a Constituição.
Devido à duração do corte, que já dura mais de 100 horas, Nicolás Maduro prolongou a suspensão das aulas e a jornada de trabalho passou a ser até quarta-feira. A falta de eletricidade em grande parte da capital desde a tarde de quinta-feira levou a falhas no abastecimento de água residencial e comercial.
Desde segunda-feira, 11 de março, habitantes de San Agustín, no município de Libertador, estão coletando água do Guaire, o rio de água não tratada que divide a cidade em duas. O afluente é o destino das águas residuais da capital. “Em seu desespero, as pessoas procuram se abastecer onde quer que estejam”, informou a mídia local Prodavinci.
Essa água “está contaminada”, “tem uma cor e cheiro insuportáveis. A visão é de água suja”, disse o engenheiro civil José María de Viana à mídia local.
“O que significa dizer que alguns venezuelanos estão bebendo água contaminada? Eles procuraram em outras fontes antes de chegar lá. O nível de desespero é tal que, para eles, não há nada melhor do que o que está acessível”, acrescentou.
Corte de energia sem solução
Embora Maduro culpe a falta de energia elétrica a uma “sabotagem”, especialistas dizem que o sistema não tem recebido manutenção ou investimentos por anos devido à profunda crise econômica.
O regime repete que está lutando para restaurar completamente o serviço, mas os incidentes em torno da infraestrutura elétrica continuam complicando a situação atual.
Na madrugada de segunda-feira, a subestação de energia de Humboldt, no leste de Caracas, explodiu e deixou algumas áreas da cidade sem abastecimento. As autoridades disseram que estavam investigando as causas.
“Não é normal que explosões de transformadores ocorram em subestações de distribuição”, disse Winston Cabas, presidente de uma associação de engenheiros elétricos, segundo a Reuters.
Com a demora no restabelecimento do serviço de energia elétrica, o acesso à água também ficou problemático.
Centenas de pessoas pagaram em dólares por sacos de gelo ou fizeram filas monumentais em algumas partes de Caracas para encher vasilhas com pequenos jatos de água que desciam de uma montanha, segundo testemunhas da Reuters.
Alguns foram ainda mais longe e desceram pelas borda de concreto que canaliza o rio Guaire, o principal deságue de resíduos líquidos da cidade, para encher garrafões de 10 litros ou mesmo garrafas plásticas vazias de suco e leite.
“É horrível. Nós queremos água!”, gritou Hidalgo. “É insuportável”, acrescentou ele.
“Eles estão nos matando (…) a água está difícil de conseguir”, disse Francisco Suárez, de 57 anos.
O governo “está nos matando de fome e sede”, disse Martínez, uma dona de casa de 52 anos moradora de um bairro que costumava ser “chavista”, mas que agora luta para conseguir produtos básicos.
Martínez e mais de cem pessoas do bairro de La Charneca fecharam na manhã de segunda-feira uma das duas pistas da rodovia principal de Caracas como forma de pressionar pelo envio de um caminhão-pipa.
Um problema de anos
O problema da água vem de muito antes. A pesquisa de Prodavinci “Viver sem água” mostra que durante anos o regime tem racionado o acesso à água.
Ele determinou que pelo menos 9,78 milhões de pessoas vivessem sob racionamento formal de água corrente entre 2016 e 2017. A oferta média era de 48 horas por semana. Os sistemas não foram mantidos e as obras não foram concluídas.
No entanto, o que acontece neste ano de 2019 é incomparável, especialmente na capital. “É definitivamente inédito”, disse o engenheiro civil José María de Viana. “Temos os centros populacionais mais importantes do país com abastecimento zero de água por mais de quatro dias. Nem uma única gota de água entra em Caracas desde quinta-feira, 7 de março. É uma situação que deve ser solucionada prontamente”.
Caracas recebeu cerca de 7 mil litros a menos de água por segundo nos últimos meses do que há 20 anos, quando recebia 20 mil litros por segundo, informou na segunda-feira José María De Viana, engenheiro e ex-presidente da Hidrocapital, empresa pública encarregada de processar e fazer chegar a água às casas venezuelanas.
De Viana disse que os problemas se devem principalmente à falta de manutenção do sistema de transporte de água.
Guaidó explicou as causas do apagão
No domingo, o presidente da Venezuela, Juan Guaidó, negou a versão de sabotagem alegada pelo regime.
“Eles roubaram tudo, não deram condições para o pessoal se manter atualizado e deixaram 80% do país depender de Guri com várias turbinas que não funcionam. E agora tudo o que eles têm para mostrar é a mesma ladainha de que “os imperialistas” nos atacaram? “, escreveu em um tuíte que é parte de uma explicação dada aos venezuelanos sobre as causas reais do apagão.
Segundo Maduro, o país foi “hackeado”, mas Juan Guaidó, após reunir um grupo de especialistas, explicou que o sistema que controla a Rede Principal de Transmissão não pode ser hackeado. “Todos os técnicos concordam que isso é impossível por uma simples razão: é um sistema analógico”, disse ele.
El usurpador no protege a nadie. Todos somos víctimas de su oscuridad.#LaUsurpaciónEsOscuridad pic.twitter.com/n3rzT6E931
— Juan Guaidó (@jguaido) March 12, 2019
Então continuou explicando que um incêndio na vegetação ocorrido na tarde de quinta-feira afetou as três linhas de 765 quilovolts entre Guri e as subestações de Malena e San Gerónimo.
Mais de 80% da energia que vai para o centro do país passa por essas linhas de 765KV. Se acontece alguma coisa em qualquer uma dessas linhas, mesmo que o Guri gere energia, essa energia não chegará ao resto do país.
Além dos problemas técnicos e da falta de investimento e corrupção relacionados ao apagão que Guaidó apontou, do ponto de vista político, o presidente encarregado indicou que o regime “bloqueia a água e a luz ao bloquear a ajuda humanitária”.
Embora os venezuelanos sofram cortes frequentes, o apagão atual foi o mais prolongado em décadas. Em 2013 houve uma falha que afetou Caracas e 17 estados dos 23 no país, que durou seis horas e em 2018 houve outra de 10 horas em oito estados, segundo relatórios oficiais da época.