Quem está por trás da transferência ilícita de petróleo para Coreia do Norte

23/01/2018 18:46 Atualizado: 23/01/2018 19:19

O caso dos petroleiros que transportam petróleo ilicitamente para a Coreia do Norte está ficando cada vez mais interessante.

A Coreia do Sul apreendeu um navio com bandeira de Hong Kong, chamado “Lighthouse Winmore“, no final de novembro, quando suspeitou que a embarcação estivesse transferindo petróleo para a Coreia do Norte. O administrador registrado do navio, a empresa Lighthouse Ship Management, está localizada numa cidade portuária do sul da China, em Guangzhou (Cantão).

Os funcionários aduaneiros sul-coreanos concluíram que o navio carregava cerca de 14 mil toneladas de petróleo refinado na Coreia do Sul em 11 de outubro.

Em seguida, a embarcação transferiu cerca de 600 toneladas para o navio Sam Jong 2 com bandeira da Coreia do Norte em 19 de outubro em águas internacionais entre a China e a Península Coreana, por ordem de seu fretador, a Billions Bunker Group Corp., de acordo com uma reportagem da Reuters publicada em dezembro.

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O jornal sul-coreano Chosun Ilbo citou fontes do governo da Coreia do Sul que disseram que os satélites espiões dos EUA detectaram navios chineses transferindo petróleo para navios da Coreia do Norte cerca de 30 vezes de outubro a dezembro.

Um dia antes de a Coreia do Sul anunciar a notícia, o presidente norte-americano Donald Trump foi ao Twitter para repreender a China pelo tráfico de petróleo para a Coreia do Norte.

O caso destacou as dificuldades em rastrear a propriedade das embarcações marítimas e determinar o culpado por trás das operações de contrabando. A Billions Bunker, afinal, é uma empresa registrada nas Ilhas Marshalls por um empresário taiwanês chamado Chen Shih-hsien.

No início de janeiro, Chen Shih-hsien foi convocado para um tribunal em Taiwan e liberado depois de pagar uma fiança de 1,5 milhão de dólares de Taiwan (cerca de US$ 511 mil). Os promotores alegam que ele alugou o navio Lighthouse Winmore para fornecer petróleo à Coreia do Norte, em violação às sanções internacionais. Além disso, outro navio que os Estados Unidos acusam de contrabando, o Billions 18, é de propriedade da Bunker’s Taiwan Group Corp. Essa empresa está registrada nas Ilhas Virgens Britânicas e Chen Shih-hsien é o único acionista, de acordo com os promotores do distrito de Kaohsiung, em Taiwan.

O Ministério da Justiça de Taiwan congelou desde então as contas das empresas de Chen e da Bunker.

Depois que a Coreia do Norte testou uma série de mísseis balísticos intercontinentais (ICBM) este ano, o Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) impôs sanções para limitar o acesso da Coreia do Norte ao petróleo.

Mas os Estados Unidos disseram que detectaram uma série de embarcações, incluindo algumas vinculadas à China, envolvidas no comércio ilícito com a Coreia do Norte. A China é o maior parceiro comercial e fornecedor de recursos energéticos da isolada ditadura comunista norte-coreana.

Coreia do Norte, sanções, petróleo, China - Essas imagens aéreas de 19 de outubro de 2017 retratam a tentativa da embarcação "Rye Song Gang 1" da empresa Korea Kumbyol Trading Company de transferir carga entre navios em alto mar, possivelmente petróleo, num esforço para contornar as sanções internacionais à Coreia do Norte (Departamento do Tesouro dos EUA)
Essas imagens aéreas de 19 de outubro de 2017 retratam a tentativa da embarcação “Rye Song Gang 1” da empresa Korea Kumbyol Trading Company de transferir carga entre navios em alto mar, possivelmente petróleo, num esforço para contornar as sanções internacionais à Coreia do Norte (Departamento do Tesouro dos EUA)

A notícia do envolvimento de um empresário taiwanês provocou tremores na mídia local. Quem é este homem e qual é a conexão, se existe alguma, com a China?

Chen Shih-hsien vem de uma longa linhagem na indústria da pesca. Ele está envolvido no transporte de petróleo oceânico há algum tempo, de acordo com o jornal taiwanês The Liberty Times, citando a investigação dos procuradores. Seus dois petroleiros, Billions 18 e Billions 88, estão registrados no Panamá e têm uma capacidade de 5 mil toneladas.

Durante o interrogatório dos promotores, Chen Shih-hsien disse que não sabia que o navio Lighthouse Winmore estava fazendo transferências para embarcações que pertenciam à Coreia do Norte. Ele afirmou que por meio de um intermediário, um empresário chinês identificado como “Zhang Zong” perguntou-lhe sobre a compra de petróleo. O lado chinês ofereceu comprar petróleo por 15 a 20 dólares a mais por tonelada, então Chen aceitou o acordo e ordenou que o navio se encontrasse em águas internacionais.

Mas não está claro se esses empresários chineses estavam operando sozinhos ou em colusão com o regime chinês. As autoridades chinesas negaram qualquer conhecimento do caso.

Em 19 de janeiro, Chen Shih-hsien tentou suicidar-se engolindo pílulas para dormir, mas sobreviveu. Ao sair do hospital, ele disse à mídia reunida do lado de fora: “Eu fui enquadrado pela China”, de acordo com o Apple Daily, um jornal de Hong Kong com operações em Taiwan.

Ele também disse: “Por que eu faria negócios com a Coreia do Norte?”, alegando sua inocência.

Os dados de rastreamento de navios no terminal de dados financeiros da Thomson Reuters revelaram que o Lighthouse Winmore estava fazendo operações de fornecimento principalmente entre a China e Taiwan desde agosto.

Antes disso, ele era ativo entre a Índia e os Emirados Árabes Unidos. Em outubro, quando alegadamente transferiu o petróleo para o navio norte-coreano, o Lighthouse Winmore teve seu dispositivo de rastreamento desligado.

Colaborou: Reuters

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