O líder russo, Vladimir Putin, se reuniu com o líder do grupo mercenário Wagner, Yevgeny Prigozhin, e seus comandantes para discutir o levante recentemente abortado contra o Kremlin, confirmou um porta-voz russo.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse em 10 de julho que a reunião presencial ocorreu no Kremlin em 29 de junho e durou cerca de três horas. A reunião ocorreu cinco dias após a revolta abortada, que representou o desafio mais sério a Putin desde que ele chegou ao poder em 31 de dezembro de 1999.
“É verdade que o presidente teve essa reunião. Ele convidou 35 pessoas para isso – todos os comandantes das unidades e a administração da companhia [militar privada de Wagner]”, confirmou Peskov em uma gravação apenas de áudio em 10 de julho.
A reunião foi noticiada pela primeira vez pelo jornal francês Libération.
“O presidente fez sua avaliação da empresa nas batalhas da linha de frente”, ele disse. “Ele também fez sua avaliação dos acontecimentos de 24 de junho. O presidente ouviu as explicações dos comandantes e ofereceu-lhes opções para novos empregos e serviços militares.
“Os comandantes prestaram contas do ocorrido. Eles enfatizaram o fato de serem leais apoiadores e soldados do chefe de estado e do comandante em chefe. Eles disseram que estavam prontos para continuar lutando por sua pátria.”
O anúncio do Kremlin revelou que Prigozhin retornou à Rússia pelo menos uma vez depois que o líder exilado e antigo associado de Putin chegou à Bielorrússia em 27 de junho. O Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, havia ajudado a negociar um acordo em que o Sr. Prigozhin impedia seus soldados de avançarem contra Moscou e concordava em deixar a Rússia como exilado.
Em uma declaração em seu canal Telegram em 24 de junho, Prigozhin confirmou que havia ordenado a seus mercenários que parassem sua marcha sobre Moscou e se retirassem para seus acampamentos na Ucrânia para evitar o derramamento de sangue russo.
A breve rebelião do Wagner, na qual paramilitares liderados por Prigozhin capturaram a cidade de Rostov-on-Don, na Rússia, e um edifício do quartel-general militar antes de avançar em direção a Moscou, foi lançada em 23 de junho e durou cerca de 24 horas.
Prigozhin disse que o motim não visava derrubar Putin, mas “levar à justiça” os chefes do exército e da defesa pelo que ele chamou de erros e ações não profissionais cometidos na Ucrânia.
O anúncio de 10 de julho veio quando o Ministério da Defesa da Rússia publicou um vídeo obtido pela Associated Press apresentando o general Valery Gerasimov, chefe do estado-maior das forças armadas da Rússia. Foi a primeira vez desde o motim fracassado do Wagner que o chefe militar foi visto publicamente, indicando que havia mantido o cargo.
O Sr. Gerasimov foi um dos alvos da rebelião do Sr. Prigozhin. Ele é uma das principais figuras militares de Moscou que comandam a invasão da Ucrânia.
“Traição e deslealdade”
Não está claro qual será o destino final do Sr. Prigozhin, embora o Sr. Peskov tenha dito aos repórteres em 24 de junho que aqueles que participaram da rebelião armada não enfrentarão retaliação, em reconhecimento ao seu serviço anterior à Rússia.
Em um pronunciamento televisivo do Kremlin em 24 de junho, o Sr. Putin afirmou que a própria existência da Rússia estava ameaçada e acusou o grupo Wagner de “traição” e “deslealdade” ao seu próprio povo.
“Não permitiremos que [a guerra civil] se repita”, disse o Sr. Putin na época, comparando a rebelião com a turbulência que envolveu a Rússia nos anos que antecederam a Revolução Russa de 1917.
“Protegeremos nosso povo e nosso estado de quaisquer ameaças, incluindo traição interna. O que estamos enfrentando agora é traição. Ambições irracionais e interesses pessoais levam à perfídia, traição do estado e traição do próprio povo [sic] e da causa comum pela qual os combatentes e comandantes de Wagner lutaram ao longo [sic] e morreram ao lado de outras [sic] nossas unidades e brigadas.”
Mais Detalhes
O Grupo Wagner, oficialmente conhecido como PMC Wagner ou Wagner Private Military Company, é uma organização paramilitar russa que foi identificada pela primeira vez em 2014, quando apoiou separatistas pró-russos no leste da Ucrânia.
Embora os detalhes exatos das conquistas do grupo muitas vezes sejam obscuros devido à natureza secreta de suas operações, eles são conhecidos por participar de conflitos e fornecer apoio militar em países como Síria e, mais recentemente, Ucrânia.
No decorrer da “operação militar especial” da Rússia na Ucrânia, as forças do Wagner têm fornecido apoio fundamental ao Kremlin, participando da maior parte dos combates na região de Donbas e sofrendo baixas significativas na luta por Bakhmut.
No entanto, durante o envolvimento do grupo Wagner na Ucrânia, o Sr. Prigozhin se tornou cada vez mais crítico da liderança militar da Rússia.
Os revezes no campo de batalha na Ucrânia, incluindo significativas baixas do Wagner em confrontos sangrentos na luta por Bakhmut, levaram o Sr. Prigozhin a fazer uma série de acusações contra a cúpula militar, incluindo que eles não estavam fornecendo munição suficiente para o grupo.
O ponto culminante foi uma acusação feita pelo Sr. Prigozhin em 23 de junho, em uma postagem em seu canal do Telegram contra o Ministro da Defesa Russo, Sergei Shoigu, a quem o chefe do Wagner acusou de “destruir” seus combatentes em um suposto ataque aéreo militar russo, e pediu uma rebelião armada.
Em suas críticas, o líder do Grupo Wagner não mirou o Sr. Putin, mas concentrou seus ataques nos principais líderes militares russos. Ele acusou o Sr. Shoigu de planejar pessoalmente uma operação para destruir os combatentes do Wagner.
Tom Ozimek e Reuters contribuíram para esta notícia.
Da NTD News
Entre para nosso canal do Telegram