Prova visual das atrocidades na Síria é apresentada em evento sobre seis anos do conflito

31/03/2017 06:30 Atualizado: 29/03/2017 17:55

A guerra na Síria já dura seis anos, com um pesado tributo de morte e sofrimento para o povo sírio. Para tornar o mundo ciente da carnificina e de que o regime de Bashar al-Assad tem cometido crimes contra à humanidade, o Museu do Memorial do Holocausto dos Estados Unidos patrocinou um evento intitulado “A Máquina de Tortura na Síria” no Edifício Dirksen do Senado, no Capitólio dos EUA, em 21 de março, “para reconhecer as atrocidades e crimes contra a humanidade sofridos pelos civis sírios”.

Entre os participantes do evento estavam os membros do Comitê de Relações Exteriores do Senado dos EUA e do Comitê de Assuntos Exteriores da Câmara dos EUA, numa expressão de unidade bipartidária e bicameral. O evento incluiu uma exibição de fotos tiradas por um ex-fotógrafo da polícia militar síria que fornecem evidências gráficas da culpabilidade do regime de Assad. Ele contrabandeou um total de 55 mil fotografias da Síria durante um período de dois anos e meio. Para proteger sua identidade, o fotógrafo é chamado de “César”.

As fotos mostram as marcas de tortura nos corpos de prisioneiros e outras exibições de desumanidade do regime. As poucas fotos mostradas no evento foram exibidas pela primeira vez no Capitólio há dois anos.

“Ele arriscou sua vida para revelar a brutalidade que o regime estava infligindo a homens, mulheres e crianças inocentes”, disse Cameron Hudson, diretor do Centro Simon-Skjodt para a Prevenção do Genocídio, parte do Museu do Holocausto.

Quase três anos atrás, em julho de 2014, diante do Comitê de Assuntos Exteriores da Câmara, César testemunhou: “Eu vi imagens horrendas de corpos de pessoas que sofreram enormes quantidades de tortura, feridas profundas, queimaduras e estrangulações.”

“Crimes de guerra”

Os oradores do evento referiram-se às atrocidades cometidas pelo regime de Assad. Um bom resumo disso está contido na Resolução 5732 da Câmara, introduzida pelo congressista Eliot Engel (D-N.Y.), que foi aprovada na Câmara em 15 de novembro e transitou para o Senado. O texto afirma que o regime de Assad atacou populações vulneráveis, “por meio do uso de bombas de barril, armas químicas, campanhas de fome em massa, tortura em escala industrial e execução de dissidentes políticos, ataques de franco-atiradores a mulheres grávidas e ataques deliberados a instalações médicas, áreas residenciais e locais de aglomeração comunitária, incluindo mercados.”

O senador Ben Cardin, membro do Comitê de Relações Exteriores do Senado, mencionou o ataque a hospitais e comboios que levavam medicamentos e que houve 13 mil assassinatos extrajudiciais, segundo a Anistia Internacional. “Esses são crimes de guerra”, disse ele.

“Durante seis anos, o povo sírio tem sido alvo de uma campanha militar. Isso é ultrajante e não pode ser permitido que continue incontestado”, disse ele.

Engel disse que as fotos de César nos lembram de que não devemos nos tornar complacentes diante dessa tragédia. “Essas imagens estão gravadas em minha mente e alma”, disse ele, e que não devemos dizer que não há nada que possamos fazer. “Há muito que podemos fazer”, disse Engel.

Al Munzer, um sobrevivente do Holocausto e voluntário no Museu do Holocausto, concentrou-se nas crianças sírias com as quais ele poderia se relacionar, porque ele foi um bebê judeu de 9 meses escondido dos nazistas. Crianças foram queimadas, mutiladas e tornaram-se órfãs por bombas na Síria, observou ele. “Sua tragédia deve estar na frente e no centro da política externa do país e da atenção mundial. Como no Holocausto, a inação é ser cúmplice.”

(À esquerda) Al Munzer, sobrevivente do Holocausto e voluntário no Museu do Memorial do Holocausto dos EUA, diz relembrar-se das atrocidades nazistas ao ver as mortes e a destruição na Síria hoje. Ele falou em 21 de março no Capitólio. (Centro) Naomi Kikoler, vice-diretora do Centro Simon-Skjodt para a Prevenção do Genocídio, parte do Museu Memorial do Holocausto, fala no Capitólio dos EUA em 21 de março. (À direita) Qutaiba Idlibi escapou da Síria depois de ter sido detido duas vezes pela segurança interna síria nos primeiros dias de protesto em 2011. Ele falou no evento "A Máquina de Tortura na Síria" para "reconhecer as atrocidades e crimes contra a humanidade sofridos pelos civis sírios". (Gary Feuerberg/Epoch Times)
(À esquerda) Al Munzer, sobrevivente do Holocausto e voluntário no Museu do Memorial do Holocausto dos EUA, diz relembrar-se das atrocidades nazistas ao ver as mortes e a destruição na Síria hoje. Ele falou em 21 de março no Capitólio. (Centro) Naomi Kikoler, vice-diretora do Centro Simon-Skjodt para a Prevenção do Genocídio, parte do Museu Memorial do Holocausto, fala no Capitólio dos EUA em 21 de março. (À direita) Qutaiba Idlibi escapou da Síria depois de ter sido detido duas vezes pela segurança interna síria nos primeiros dias de protesto em 2011. Ele falou no evento “A Máquina de Tortura na Síria” para “reconhecer as atrocidades e crimes contra a humanidade sofridos pelos civis sírios”. (Gary Feuerberg/Epoch Times)

“Evidência irrefutável”

Edward Royce (R-Calif.), presidente do Comitê de Assuntos Exteriores da Câmara, disse que as dezenas de milhares de execuções e tortura foram feitas numa “escala industrial”, adotando as mesmas palavras que Hudson e a resolução da Câmara usaram. As imagens das fotos de César forneceram “evidência irrefutável” das atrocidades que ocorrem na Síria, disse ele.

Royce mencionou seu pai, que estava no Terceiro Exército do General Patton no momento da liberação dos campos de concentração nazistas, quando o mundo finalmente pôde ver os campos de extermínio. Jovens perguntaram a seu pai, depois da guerra, por que as pessoas ignoraram o que estava acontecendo? Seu pai explicou que não havia evidência visual naquele tempo.

“É por isso que César correu esse risco, para que evidências visuais estivessem bem aqui na nossa frente”, disse Royce. Para o mundo de hoje explicar sua inação na prevenção das atrocidades na Síria, “Qual é a nossa desculpa?”, perguntou ele.

A importância das imagens de César também foi sublinhada por Naomi Kikoler, do Museu do Holocausto, que disse que as fotos serão úteis no futuro para levar os culpados à justiça.

“Essas imagens ajudam a estabelecer o registro histórico do que aconteceu, para contrariar aqueles que negariam que civis foram alvo e vítimas das atrocidades de Assad.”

Inação dos EUA

Todos os oradores, implícita ou explicitamente, criticaram os EUA e a comunidade internacional por não impedirem de alguma forma as atrocidades e aliviarem o sofrimento.

“O mundo não verá para os EUA e o mundo ocidental com bons olhos. Seremos julgados pelo que não fizemos”, disse Bob Corker, presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado.

“Até que levemos Assad à justiça, até que garantamos que pessoas como Assad que cometem atrocidades sejam levadas à justiça, nosso trabalho não está feito”, disse ele.

Numa crítica indireta à administração Obama, Corker disse: “Houve um tempo em que nosso país em conjunto com outros poderia ter impedido que isso ocorresse.”

Mensagem de “César”

Mais direto em suas críticas foi o sobrevivente sírio Qutaiba Idlibi, um nativo de Damasco, que foi detido duas vezes pelos serviços de segurança interna da Síria logo após os protestos começarem em 2011. Ele teve sorte em sobreviver à sua detenção e em fugir da Síria. Ele nomeou vários sírios que foram detidos e mortos sob tortura e outros cujas vidas estavam em perigo na prisão. Então, ele leu uma declaração do próprio César, com quem ele mantem contato.

César disse que há três anos, quando veio aos Estados Unidos para testemunhar sobre a tortura e os assassinatos de inocentes, ele tinha “grandes esperanças e sonhos” de que isso bastaria para “parar a maquinaria de morte em meu país”.

“Infelizmente, o presidente Obama falhou conosco e traiu o sangue de nossas vítimas”, disse César na mensagem lida por Idlibi. César fez o desafio: “Eu estou aqui mais uma vez para lhes perguntar, quantos sírios devem morrer antes que os EUA e a comunidade internacional possam defender os oprimidos.”

A mensagem de César dizia que muitas vezes ouvimos nos últimos seis anos, “Nunca mais”, enquanto “víamos o sangue sendo continuamente derramado”. A expressão “Nunca mais” refere-se à determinação e ao juramento solene que emergiram das lições do Holocausto judio.

César disse que a política dos EUA falha porque ela só entende a situação síria como uma luta contra o Estado Islâmico, o Irã e contra Assad como um agente do Irã. Ela não reconhece o povo sírio. “Sangue está sendo derramado apenas porque a administração passada virou as costas para a nossa humanidade.”