Proeminente socialista tenta justificar sua riqueza e acaba fazendo um tributo ao capitalismo

“Virei milionário pelo meu próprio esforço. Qualquer um também pode!”

25/04/2019 14:39 Atualizado: 25/04/2019 14:39

Por Ryan McMaken, Instituto Mises Brasil

Bernie Sanders pertence à ala da extrema-esquerda do Partido Democrata. Ele quase foi o candidato à presidência dos Estados Unidos pelo partido, em 2016, mas perdeu a nominação para Hillary Clinton.

No entanto, sua base de apoio é extremamente fervorosa, e é formada majoritariamente por adolescentes e jovens millennials, todos defensores abertos do socialismo.

Mais do que isso: o próprio Sanders é um auto-declarado socialista, e um contumaz defensor do regime venezuelano, o qual ele diz que deveria ser imitado pelos Estados Unidos.

Ainda mais famoso que sua defesa do socialismo é o seu desdém pelo ricos (sendo que ele próprio possui três mansões), os quais, segundo Sanders, são a fonte de todos os problemas dos americanos, bem como os causadores do aquecimento global.

Na semana passada, Sanders, que quer ser o candidato democrata às eleições presidenciais americanas de 2020, tornou públicas suas declarações de imposto de renda. E, para a surpresa de ninguém, o socialista que odeia os ricos é ele próprio um milionário.

Graças aos royalties das vendas de um livro que escreveu, Sanders está hoje, como a disse a CNN, “na categoria dos super-ricos”. Ou, como alguns diriam, ele é parte do 1%.

Após toda uma vida política denunciando “milionários e bilionários” como a causa de tudo o que há de ruim nos Estados Unidos, esta revelação foi um tanto embaraçosa para Sanders.

Contradição constrangedora

Alguns críticos de Sanders afirmaram que isso faz dele um hipócrita. Eis um homem que vitupera milionários, mas ele próprio é um.

“Hipócrita”, no entanto, não necessariamente seria o termo certo, desde que Sanders pague as alíquotas de impostos que ele diz que os milionários deveriam pagar, sua renda, por si só, não faz dele um hipócrita.

No entanto, até o momento, isso não ocorreu. Como mostra sua declaração de IR, ele e sua mulher pagaram uma alíquota de 26%, bem abaixo do valor de 52% que ele defende que os ricos devem pagar — e que, dependendo do humor dele, pode chegar a 77%.

Para compensar essa “magra” tributação, o casal doou US$ 19 mil para instituições de caridade, o que equivale a apenas 3,4% de sua renda.

Vale lembrar que nada proíbe Sanders de doar voluntariamente seu dinheiro ao governo federal. Qualquer americano pode fazer doações para o governo, como o website do Tesouro claramente instrui (até o momento, o Tesouro já recebeu US$ 3,7 milhões em doações).

O fato de Sanders não ter feito isso mostra que, na prática, ele quer que apenas “os outros” sejam confiscados, e não ele.

Ainda sobre “hipocrisia”, é fato que Sanders também pode escapar da pecha de hipócrita dizendo que, quando denuncia milionários, ele não se refere a todos eles, mas apenas a, digamos, 90% deles. E então ele pode se autoincluir entre os 10% do bem.

Não obstante, Sanders não parece estar muito confortável com seu status de rico. Ao ser confrontado por estar entre aqueles que ele sempre vituperou, Sanders foi para a defensiva:

“Eu escrevi um livro que se tornou um best-seller”, declarou. “Se você escrever um best-seller, você também pode se tornar um milionário.”

Tradução: “Ganhei meu dinheiro de maneira justa e honesta; portanto, pare de me importunar!”.

E é exatamente neste ponto que começamos a ver Bernie Sanders contradizer suas próprias afirmações sobre milionários, riqueza e capitalismo.

Bernie Sanders, o capitalista, refuta a desigualdade e a teoria da exploração

Para uma pessoa normal, a defesa feita por Sanders de suas riquezas não seria problema nenhum. Não há dúvidas de que muitas pessoas ricas, ao serem perguntadas sobre como ganharam seu dinheiro, responderiam: “Trabalhei para isso. Mereço.”

No entanto, quando é o socialista Bernie Sanders quem diz isso, a coisa se torna mais espantosa.

Afinal, um dos principais mitos difundidos por Sanders e por toda a ala socialista da esquerda é que as pessoas que enriquecem fazem isso explorando os pobres. Assim como ocorre com os marxistas ortodoxos, há uma crença ampla e muito difundida entre a esquerda de que a riqueza só pode ser obtida por meio da exploração dos trabalhadores. Ademais, essas pessoas acreditam que as economias de mercado sistematicamente favorecem os ricos ao mesmo tempo em que proíbem o sucesso econômico daqueles que não nasceram ricos. Segundo esta narrativa, aqueles que porventura são ricos, mas que não exploraram os trabalhadores diretamente, provavelmente herdaram seu dinheiro de outras pessoas que inegavelmente exploraram trabalhadores.

Entretanto, ao ouvirmos Bernie Sanders explicando sua riqueza, é perceptível que ele próprio acredita que a riqueza pode ser obtida por meio do trabalho duro e honesto: “Eu escrevi um livro que se tornou um best-seller. Se você escrever um best-seller, você também pode se tornar um milionário.”

Tradução: “Você pode ganhar muito dinheiro se você for bom no que faz. É realmente simples assim!”.

Isso inegavelmente se parece muito com o argumento do “enriquecer por meio de seus próprios esforços”, o qual a esquerda tão veementemente rejeita. E é um tanto bizarro ouvi-lo de um autodeclarado socialista.

Mas, realmente, não deveria ser surpresa nenhuma o fato de que, ao ser questionado sobre suas riquezas, Sanders tenha recorrido a um clichê capitalista. Ele obviamente fez isso porque o argumento faz sentido para qualquer pessoa racional. Dado que Sanders tinha de argumentar que sua riqueza foi obtida moralmente, ele recorreu ao argumento mais lugar-comum possível: ele enriqueceu porque fez por merecer.

Supondo que estamos falando apenas da renda que ele obteve com as vendas de seu livro, ele está certo. Ninguém foi obrigado a comprar seus livros. Ele ganhou dinheiro porque as pessoas voluntariamente entregaram seu dinheiro em troca do livro. Por esta medida, Sanders de fato “mereceu” seu dinheiro.

Porém, as observações de Sanders sobre as origens de sua riqueza não terminam aí. Há várias constatações interessantes.

Para começar, ao enfatizar que seu livro foi um “best-seller”, ele está admitindo que toda a logística envolvendo a distribuição e entrega do produto para um grande número de pessoas foi um fator crucial para que ele pudesse enriquecer.

Sendo assim, por definição, Sanders aparentemente acredita que é possível produzir um bem ou serviço sem explorar trabalhadores. Afinal, seus livros não simplesmente apareceram magicamente no mundo. Seres humanos trabalharam para editar e imprimir os livros, organizá-los, montá-los e distribuí-los por todas as livrarias do país. Sanders ganhou dinheiro utilizando a mão-de-obra destas pessoas.

Com efeito, ele ganhou muito mais dinheiro do que todos os caminhoneiros que distribuíram seus livros para as livrarias de todo o país. Ele ganhou muito mais dinheiro que todos os trabalhadores que atuaram na montagem dos livros.

Será que Sanders acredita que ele explorou esses trabalhadores? Aparentemente não. Sanders justifica sua riqueza como consequência de ter escrito um livro que as pessoas voluntariamente compraram. Ele não menciona absolutamente nada a respeito de todos os trabalhadores envolvidos no processo de produção que fizeram com que seu livro chegasse aos leitores.

Ademais, ao admitir que a enorme venda dos livros foi o que o tornou um milionário, ele está confessando que o ato de entregar um bem ou serviço desejado pelos consumidores é essencial para permitir o enriquecimento. Em outras palavras, tivesse ele apenas escrito um livro, ele não teria virado milionário. Porém, dado que ele escreveu um livro que virou best-seller — isto é, que agradou os consumidores —, isso trouxe a ele muito dinheiro.

Logo, dado que o segredo — como admite o próprio Sanders — para enriquecer é vender algo que as pessoas querem, isso não significaria que, em uma economia de mercado, os milionários e bilionários são aqueles que estão fornecendo um benefício para a sociedade?

Sanders está reconhecendo que o tamanho da riqueza está ligado a quantos consumidores um empreendedor atende no mercado. Sanders aparentemente acredita que pelo menos um milionário — ele próprio — enriqueceu porque forneceu às pessoas o que elas queriam. E, se este é o caso, qual é o sentido de dizer que os ricos não estão pagando a “quantidade justa” de impostos?

E dá para ir ainda mais fundo.

No que tange à questão da desigualdade de renda, Sanders deixa claro que entende sua causa. E se nem todos tiverem a capacidade e o talento para escrever um best-seller? Isso não significaria que algumas pessoas terão milhões de dólares ao passo que outras terão muito menos? Isso não criaria uma desigualdade?

A resposta, obviamente, é sim.

Vale enfatizar: estima-se que 73% da população adulta dos Estados Unidos tenha um computador. Isso equivale a 187,4 milhões de pessoas. Quantas delas são capazes de produzir um best-seller? Muito poucas. Já Sanders, utilizando um laptop que custa apenas algumas centenas de dólares, produziu um livro que lhe trouxe uma renda de US$ 795 mil. Utilizar um insumo que vale poucas centenas de dólares e criar um produto que gera US$ 795 mil é a essência do capitalismo empreendedor.

Logo, podemos constatar — pelo próprio sucesso de Sanders ao vender livros — que a desigualdade não é necessariamente resultado de ricos explorando pobres. Ela pode simplesmente ser o resultado de algumas pessoas venderem mais livros que outras.

Conclusão

Nesta sua curta entrevista, aprendemos algumas coisas com Sanders:

1. Ele acredita que fornecer um produto (ou serviço) que seja demandado justifica a alta renda obtida por aqueles que o produzem.

2. Há um elo entre a renda obtida e o número total de pessoas servidas.

3. Se você fizer o mesmo — isto é, atender demandas de um grande número de pessoas — poderá virar um milionário também.

4. Esses três fatores geram uma desigualdade natural entre as pessoas.

Sem exageros, eis aí um pequeno manifesto capitalista de Sanders.

Infelizmente, é improvável que ele utilize estas recém-descobertas revelações e as coloque em prática em termos de políticas públicas. Ele certamente continuará fazendo discursos socialistas e anti-capitalistas. E por que não deveria? Foi isso o que o tornou um milionário.

Ryan McMaken é o editor do Mises Institute americano

O conteúdo desta matéria é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Epoch Times