As milícias palestinas saudaram, nesta quarta-feira (07), a nomeação de Yahya Sinwar como sucessor de Ismail Haniyeh à frente do grupo terrorista islâmico Hamas, enquanto os habitantes de Gaza, ainda surpresos com o anúncio, se perguntam sobre o impacto que isto terá na negociação do tão esperado cessar-fogo.
“As facções palestinas saúdam com satisfação a eleição pelo Hamas do líder combatente Yahya Sinwar como chefe do gabinete político”, saudou o grupo terrorista islâmico em um comunicado, no qual afirma ter recebido saudações de outros grupos e aliados terroristas como a Jihad Islâmica ou o partido secular Fatah, à frente da Autoridade Nacional Palestina (ANP) na Cisjordânia ocupada.
“Estas felicitações exaltaram o espírito de unidade e resistência que caracteriza o movimento”, acrescentou.
A Jihad Palestina, que se juntou ao Hamas na guerra contra Israel na Faixa de Gaza, expressou suas felicitações ontem à noite, acreditando que a eleição de Sinwar é “uma forte mensagem ao inimigo sionista de que o Hamas continua forte e coeso”.
Jibril Rajoub, secretário-geral do Comitê Central da Fatah, considerou que a escolha de Sinwar é “uma resposta lógica e esperada” e que o novo líder é uma figura “pragmática e realista”. Ele também enfatizou a “necessidade de aproveitar a oportunidade histórica para árabes e muçulmanos estabelecerem um Estado palestino independente”, acrescentou o comunicado do Hamas.
A Frente Popular para a Libertação da Palestina expressou confiança na “capacidade do Hamas de superar a terrível experiência do martírio de Haniyeh”, enquanto o Movimento Iniciativa Nacional Palestina esperava que Sinwar conseguisse “enfrentar os desafios”.
Saudações semelhantes vieram dos Comitês de Resistência na Palestina, do Movimento Ahrar Palestino e da Frente Democrática, que consideraram que “eleger Sinwar enquanto ele está no coração do campo de batalha é um desafio ousado para o Estado ocupante”.
Em 22 de julho, 14 grupos palestinos assinaram um acordo na China durante uma cúpula de reconciliação, que constituiu uma nova tentativa de aproximação entre as facções, especialmente entre Hamas e Fatah, que estão em desacordo desde 2007, quando o grupo terrorista islâmico expulsou à força o partido secular de Gaza após o fracasso de um governo de unidade nacional.
Em fevereiro, o governo da ANP renunciou, citando a necessidade urgente “de um consenso inter-palestino” capaz de substituir o Hamas na Faixa de Gaza.
O Hamas anunciou ontem à noite que escolheu Sinwar, até agora o chefe do grupo dentro da Faixa de Gaza, como líder máximo de seu gabinete político, substituindo Haniyeh, que foi morto há uma semana em Teerã.
Vários habitantes de Gaza reconheceram em entrevista à Agência EFE que ficaram surpreendidos com a notícia, uma vez que Sinwar, considerado o mentor dos ataques contra Israel em 7 de outubro do ano passado e que se supõe estar escondido nos túneis de Gaza, representa a linha mais dura e beligerante do grupo, em contraste com um Haniyeh mais diplomático.
A notícia “me deixou em estado de choque”, disse à EFE Abu Ahmad, 42 anos, de Gaza, garantindo que Haniyeh “era uma pessoa pacífica e política, o mais querido do movimento Hamas”.
Deslocado 15 vezes desde o início da guerra e atualmente residindo em Deir Balah, no centro do enclave, Abu Ahmad estima que com Sinwar no comando político as negociações para um cessar-fogo poderão ser “cada vez mais difíceis”.
Por outro lado, uma mulher de Gaza, de 44 anos, mãe de cinco filhos, que pediu anonimato, acredita que o novo líder político “poderia ser a única solução para obter a vitória, o fim da guerra e um acordo” sobre um cessar-fogo, pois Sinwar iria “corresponder ao nível de teimosia” do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que – segundo esta mulher – é quem tem dificultado as negociações.
A nomeação de Sinwar trouxe consigo uma onda de ameaças de morte por parte dos líderes israelenses.
O porta-voz do Exército de Israel, Daniel Hagari, disse que “só há um lugar para Yahya Sinwar, e é com Mohammed Deif”, comandante-chefe do braço armado do Hamas, morto em um bombardeio israelense em 13 de julho em Gaza.
Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores, Israel Katz, estimou ontem que “a nomeação do arquiterrorista Yahya Sinwar (…) é outra razão convincente para eliminá-lo rapidamente e apagar esta vil organização da face da terra”.
Hoje, o chanceler israelense fez novo comentário, garantindo que a nomeação de Sinwar “envia uma mensagem clara ao mundo de que a questão palestina está agora completamente controlada pelo Irã” e seu aliado Hamas.
Segundo Katz, o Irã pretende introduzir armas na Cisjordânia ocupada para criar “outro posto avançado iraniano na região”.
Esta declaração surge em um momento em que Israel permanece em prontidão para um possível ataque iraniano em retaliação ao assassinato de Haniyeh.