Por Jennifer Zeng, Epoch Times
Em um episódio muito raro para a diplomacia de Pequim, nenhum esforço foi feito para disfarçar a atmosfera fria e tensa na qual o Secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, chegou recentemente para uma visita de um dia.
A causa provável foi o discurso histórico proferido pelo vice-presidente Mike Pence há alguns dias, o qual muitos analistas comparam ao discurso de Winston Churchill sobre a Cortina de Ferro em 1946, que marcou o início da Guerra Fria.
Em 8 de outubro, Pompeo se encontrou separadamente com o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, e com o diretor do Escritório do Comitê de Relações Exteriores, Yang Jiechi. Enquanto Pompeo conseguiu esboçar um sorriso ao apertar a mão de Wang Yi na frente das câmeras, este mal se incomodou em mostrar hospitalidade como anfitrião.
Em uma coletiva de imprensa conjunta com Pompeo, Wang afirmou, com uma expressão severa: “Recentemente, à medida que o lado norte-americano aumentava constantemente o atrito comercial em relação à China, também adotou uma série de medidas sobre a questão de Taiwan de interesse da China e fez críticas infundadas às políticas internas e externas chinesas”.
“Consideramos que isso foi um ataque direto à nossa confiança mútua e que ofuscou as relações entre a China e os Estados Unidos”.
“Nós exigimos que os Estados Unidos parem com esse tipo de ação equivocada. ”
Pompeo, que comentava sobre a visita de Wang ao líder norte-coreano Kim Jong-un, referiu-se diretamente às questões em que os Estados Unidos e a China discordam, incluindo o Mar do Sul da China e os direitos humanos, com um sorriso no rosto. “Nos assuntos que você apontou, nós temos um desacordo fundamental”, disse ele.
Pompeo também enfatizou a importância de manter a paz e a estabilidade em todo o Estreito de Taiwan.
“Estamos muito preocupados com as medidas implementadas pela China, e espero ter a oportunidade de discutir cada uma delas hoje, porque é uma relação extremamente importante”, disse ele.
Pompeo não se encontrou com o líder do regime chinês Xi Jinping durante esta visita. Uma alta autoridade do Departamento de Estado que o acompanhou na viagem disse que isso não era incomum, embora autoridades norte-americanas tenham se encontrado com chefes de Estado chineses durante suas visitas.
Os Estados Unidos ainda estão esperando pela cooperação de Pequim em seus esforços para desnuclearizar a Coreia do Norte, acrescentou Pompeo.
O discurso de Pence
O discurso de Pence feito há quatro dias sobre as relações entre os Estados Unidos e a China continua a causar comoção entre acadêmicos, observadores, dissidentes e cidadãos comuns da China. Alguns deles comparam-no com o discurso de Churchill sobre a Cortina de Ferro; outros dizem que é um chamado oficial que marca uma época para uma nova era nas relações entre os Estados Unidos e a China.
He Jian, analista chinês, disse em um editorial na edição chinesa do Epoch Times que o discurso de Pence marcou o fim da era da “política de conciliação” e abriu uma nova era de defesa contra a infiltração maliciosa e extensa do Partido Comunista Chinês nos Estados Unidos.
Ele descreveu que a conciliação do Ocidente em relação ao Partido Comunista Chinês não foi muito diferente da atitude que teve com a Alemanha nazista na década de 1930. No entanto, ele esclareceu, desde que Trump iniciou seu mandato, os Estados Unidos acordaram.
O escritor e comentarista político chinês Chen Pokong enfatizou que a importância do discurso de Pence não pode ser exagerada: marca um ponto de virada significativo e fundamental nas relações EUA-China.
Chen descreveu que essa mudança, no entanto, oferece a oportunidade de melhorar o relacionamento, como Pence expressou no final de seu discurso: “Como nossa Estratégia de Segurança Nacional diz: ‘Competição nem sempre significa hostilidade’. Como o Presidente Trump deixou claro, queremos um relacionamento construtivo com Pequim, onde nossa prosperidade e segurança cresçam juntas, não separadas. Embora Pequim tenha se distanciado cada vez mais dessa visão, os líderes chineses ainda podem mudar de rumo e voltar ao espírito de ‘reforma e abertura’ e maior liberdade”.
O regime comunista chinês só precisa fazer três coisas para melhorar as relações com os Estados Unidos, disse Chen.
Uma delas é que Pequim honre as promessas feitas quando aderiu à Organização Mundial do Comércio, aceitando o conceito de comércio livre e justo e parando de prejudicar os Estados Unidos. A segunda é parar de perseguir o povo chinês e permitir maior liberdade. A terceira é acabar com as operações militares provocativas, especialmente no Mar do Sul da China e no Estreito de Taiwan.
No entanto, Chen disse que será muito difícil para o regime chinês cumpri-lo, especialmente permitir às pessoas maior liberdade.
A analista de assuntos correntes Lan Shu observou que Pence fez uma distinção muito clara entre a China e o Partido Comunista Chinês (PCC). Pence disse “Partido Comunista Chinês” sete vezes ao criticar o comportamento do regime, mas continuamente apontou a boa vontade dos Estados Unidos em relação à China e ao povo chinês.
A visita de Pompeo à China se seguiu a viagens para o Japão, Coreia do Norte e Coreia do Sul para impulsionar a desnuclearização da Península Coreana. O presidente Donald Trump sugeriu a possibilidade de outra reunião de cúpula com Kim no fim de semana, dizendo no Twitter que ele espera ver o líder norte-coreano novamente em um futuro próximo.