Por Ricardo Roveran, Terça Livre
Mike Pompeo, secretário de Estado americano, pediu à Organização Mundial da Saúde (OMS) uma investigação completa, que esgote todas as possibilidades, sobre a possível origem do Covid-19 em um laboratório em Wuhan, na China.
De acordo com ele, a inteligência dos EUA levanta questões importantes, informou DailyMail em matéria publicada no sábado (16).
Na sexta-feira à noite Pompeo falou ao público. Pouco mais de 24 horas após uma equipe de pesquisa da OMS chegar em Wuhan, onde investiga o laboratório sobre pesada vigilância e supervisão chinesa.
Ao revelar informações novas envolvendo o Instituto de Virologia de Wuhan (WIV) na origem da pandemia, o secretário disse que “Pequim continua hoje a reter informações vitais que os cientistas precisam para proteger o mundo deste vírus mortal, e do próximo“.
Segundo a inteligência americana, pesquisadores do laboratório adoeceram no outono de 2019 com sintomas de Covid-19, cientistas trabalhavam com um coronavírus de morcego, 96,2% geneticamente semelhante ao vírus que causa a Covid, e, o laboratório tem ligações secretas com militares chineses, diz o DailyMail.
A hipótese de Pompeo é que o vírus não foi feito pelo homem, mas que se trate de um fenômeno natural que tenha escapado do laboratório por acidente durante alguma falha de protocolo de segurança.
“Infecções acidentais em laboratórios causaram vários surtos de vírus anteriores na China e em outros lugares, incluindo um surto de SARS em 2004 em Pequim que infectou nove pessoas, matando uma“, disse o Departamento de Estado em um documento informativo.
De acordo com Pompeo, a inteligência sugeriu que trabalhadores do laboratório de Wuhan ficaram doentes com “sintomas consistentes com COVID-19 e doenças sazonais comuns” meses antes do surto mais amplo na cidade chinesa.
“Isso levanta questões sobre a credibilidade da alegação pública do pesquisador sênior da WIV, Shi Zhengli, de que havia ‘infecção zero’ do SARS-CoV-2 ou vírus relacionados à SARS entre a equipe da WIV e os alunos“, disse Pompeo.
Ele também revelou que pesquisadores do mesmo laboratório estudavam um coronavírus de morcego conhecido como RaTG13 desde no mínimo 2016. O RaTG13, foi identificado pela instituição chinesa como a amostra mais próxima geneticamente, do SARS-CoV-2, com 96,2% de similaridade ao vírus que causa o Covid-19.
Segundo o Departamento de Estado, o laboratório de Wuhan obteve o RaTG13 em uma caverna na província de Yunnan em 2013, quando vários mineiros morreram de uma doença semelhante à SARS.
O laboratório de Wuhan tem um registro publicado de realização de pesquisas de “ganho de função” sobre vírus para aumentar a letalidade ou capacidade de transmissão, mas o Departamento de Estado diz que a instituição “não foi transparente ou consistente sobre seu histórico de estudar os vírus mais semelhantes ao Vírus COVID-19, incluindo o RaTG13“.
Ainda de acordo com Pompeo, apesar do laboratório de Wuhan ser aparentemente uma instituição civil, trabalhou em “projetos secretos com os militares da China“.
“A WIV está envolvida em pesquisas confidenciais, incluindo experimentos com animais de laboratório, em nome dos militares chineses desde pelo menos 2017“, afirmou.
O secretário solicitou à Pequim a permissão para que a equipe de investigação da OMS tenha liberdade para prosseguir, incluindo o laboratório de Wuhan.
“Os investigadores da OMS devem ter acesso aos registros do trabalho do WIV em morcegos e outros coronavírus antes do surto de COVID-19”, disse o Departamento de Estado.
“Como parte de uma investigação completa, eles devem ter uma contabilidade completa do motivo pelo qual o WIV alterou e depois removeu os registros online de seu trabalho com o RaTG13 e outros vírus.”
A equipe de pesquisadores da OMS que atua agora em Wuhan espera encontrar pistas sobre origem da pandemia Covid-19, mas o trabalho segue em sigilo: nem a China e nem a Organização revelam o trabalho ou o endereço dos enviados.
Encontrar a origem do vírus é um esforço de anos que pode ajudar a prevenir futuras pandemias.
Pequim tem resistido à investigação completa e alega que o vírus pode ter tido uma origem em outro lugar. Mesmo assim a equipe da OMS foi finalmente autorizada a entrar depois de meses negociando com autoridades chinesas.
Os pesquisadores investigam o chamado “mercado úmido“, inicialmente ligado a um grupo de infecções, e não está nos planos a avaliação sobre uma liberação acidental do vírus no laboratório de Wuhan.
O chefe da Organização demonstrou impaciência com a demora da China em tomar providências para a visita da equipe.
O Partido Comunista da China controla com rigidez as informações e está preocupado com as possíveis revelações sobre o manejo do vírus, que possam causar prejuízos financeiros ao país no cenário do comércio mundial.
“A China reprimiu relatórios independentes sobre o surto e publicou poucas informações sobre sua busca pelas origens do vírus“, diz o DailyMail.
“O governo controlou rigorosamente todas as pesquisas científicas relacionadas ao surto e proíbe os pesquisadores de falar à imprensa“, acrescenta o veículo.
Na China, a imprensa estatal segue divulgando reportagens sugerindo que o vírus tenha outro lugar como origem. Ao anunciar a visita dos especialistas da OMS, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian, disse que “o rastreamento da origem do vírus provavelmente envolverá vários países e localidades”.
Quem está na equipe da OMS que investiga as origens do coronavírus?
O painel da OMS contém 10 participantes com a tarefa de investigar as origens do coronavírus, incluindo a visita deste mês à China.
São eles:
- Thea Fischer, Dinamarca – Virologista e epidemiologista da Universidade de Copenhagen e do Hospital Nordsjaelland, trabalhou anteriormente no Instituto Estadual de Soro da Dinamarca. Especialista em controle de epidemias e vacinologia
- John Watson, Reino Unido – Diretor médico adjunto do Reino Unido de 2013 a 2017, após ajudar a liderar a resposta à pandemia de gripe suína de 2009. Também é professor honorário de epidemiologia da London School of Hygiene and Tropical Medicine
- Marion Koopmans, Holanda – Virologista holandesa que é chefe do departamento de virosciência do Erasmus Medical Center em Rotterdam. Escreveu sobre a disseminação de Covid-19 entre humanos e visons na Dinamarca
- Dominic Dwyer, Austrália – Microbiologista australiano da Westmead Clinical School em Sydney que ajudou a cultivar o vírus para pesquisas em fevereiro passado. Quer investigar o papel dos laboratórios no surto de coronavírus
- Vladimir Dedkov, Rússia – Epidemiologista e vice-diretor de pesquisa do Instituto Pasteur na Rússia. Ajudou a diagnosticar pacientes com ebola durante o surto de 2014
- Hung Nguyen, Vietnã – Biólogo vietnamita baseado no International Livestock Research Institute do Quênia, especializado em riscos de segurança alimentar em mercados úmidos. Diz que a equipe vai entrevistar pessoas do mercado de alimentos de Wuhan
- Fabian Leendertz, Alemanha – Microbiologista do Instituto Robert Koch da Alemanha que pesquisa como os vírus saltam entre animais e humanos. Pesquisadores liderados que acompanharam o surto de Ebola em 2014 em uma árvore cheia de morcegos na Guiné
- Peter Daszak, Reino Unido / EUA – Zoólogo britânico que é presidente da EcoHealth Alliance dos Estados Unidos e foi criticado por ligações com o laboratório de virologia de Wuhan e a chamada virologista ‘mulher-morcego’ Shi Zhengli da China
- Farag El Moubasher, Qatar – Epidemiologista do Ministério da Saúde Pública do Qatar que pesquisa doenças emergentes. Escreveu uma tese sobre a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), um coronavírus que emergiu de camelos em 2012 e matou 858 pessoas
- Ken Maeda, Japão – Diretor do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas do Japão. Possui publicações em seu nome sobre doenças de animais e coronavírus de morcegos
Informações: DailyMail