O peronismo, que governa a Argentina desde 2019, começa a ordenar sua estratégia eleitoral a partir desta quarta-feira (17), depois que a influente vice-presidente Cristina Kirchner confirmou que não será candidata às eleições presidenciais de 22 de outubro, em meio a um grande descontentamento social com a crise econômica.
A decisão da também ex-presidente (2007-2015) deixa desamparados seus apoiadores, que insistiam para que ela aceitasse concorrer a um terceiro mandato, e a coligação governista sem a confirmação de nenhum candidato presidencial, a poucas semanas do prazo para apresentar os pré- candidatos.
Cristina anunciou nesta terça-feira, de surpresa, que não será candidata à presidência por meio de uma longa carta, na qual criticava a oposição, a Justiça e o acordo da Argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Na verdade, a vice-presidente já havia anunciado em dezembro do ano passado que não se candidataria por acreditar que a Justiça tenta torná-la inelegível depois que foi condenada naquele mês em primeira instância por um caso de corrupção.
“A carta de ontem modifica os cenários”, disse o ministro do Desenvolvimento Comunitário da província de Buenos Aires, o kirchnerista Andrés “Cuervo” Larroque, na emissora de rádio “AM 750”.
“Temos que encontrar a síntese geral e estamos trabalhando nisso”, acrescentou.
O peronismo estava organizando um ato para o dia 25 de maio no centro de Buenos Aires como palco do “operativo clamor” para Cristina se apresentar como candidata à presidência, e seus organizadores confirmaram que o evento ainda acontecerá, apesar da carta da vice-presidente.
O prefeito da cidade de Ensenada, Mario Secco, um dos principais promotores do “operativo clamor”, considerou que Cristina é quem conduz o grupo: “No dia 25, Cristina terá que nos dizer para onde ir” porque “a única que pode dizer um plano B é Cristina”, segundo declarou à rádio “Futurock”.
Estratégia
O que seus próprios apoiadores reconhecem é que Cristina Kirchner é a candidata peronista que mais votos consegue atrair, mas a atuação da vice-presidente reflete a dificuldade de vencer as eleições.
Cristina é a figura que ganharia o voto do chamado núcleo duro do kirchnerismo – entre 25% e 30% do eleitorado -, mas as pesquisas mostram a “alta rejeição” que desperta no restante dos eleitores que lhe impediria de ganhar as eleições.
A ex-presidente já reconhecia a dificuldade de vencer encabeçando uma chapa quando escolheu Alberto Fernández como candidato à presidência em 2019 e ela se apresentou à vice-presidência.
A jogada eleitoral deu certo, mas nos últimos tempos tem sido evidente a tensão política entre os dois chefes do Executivo, com a vice-presidente lançando grandes críticas à política econômica do governo, como se dele não fizesse parte.
A economia argentina atravessa graves desequilíbrios macroeconômicos, com uma inflação de 108,8% ao ano em abril, enquanto o nível de pobreza era de 39,9% no final de 2022, está fortemente condicionada pela escassez de divisas, pelo fechamento dos mercados internacionais de dívida e pelo déficit fiscal e deve ver seu PIB cair 3% neste ano.
O presidente Alberto Fernández ficou em um estado de grande debilidade política, razão pela qual também teve que desistir de tentar a reeleição, embora tenha brincado com a ideia.
Candidatos
“A estratégia do peronismo agora é pensar no candidato que melhor se classificar nas pesquisas e que obtiver maior consenso político interno”, disse à EFE o consultor político Carlos Fara.
Fara descreveu que “nenhum candidato é um grande candidato quando se leva em conta a situação econômica”.
No partido governista, um dos líderes que mostraram interesse em se candidatar à presidência é o ministro da Economia, Sergio Massa, também líder da terceira força da coalizão governista, junto com Cristina e Alberto Fernández.
Próximos a Cristina, o ministro do Interior, Eduardo “Wado” de Pedro, busca apoio no interior do país para sustentar sua candidatura, enquanto o líder social Juan Grabois se apresenta como representante da ala mais esquerdista do peronismo.
Mais próximo de Alberto Fernández, seu chefe de gabinete, Agustín Rossi, manifestou-se “animado” com a possibilidade de concorrer e Daniel Scioli, ex-vice-presidente (2003-2007) e candidato presidencial derrotado em 2015, também vem reivindicando seu direito de concorrer nas eleições internas do peronismo.
“Hoje Sergio Massa consegue mais consenso interno”, declarou Fara, embora tenha ressaltado que “será difícil para ele fazer campanha com esta situação econômica”.
O peronismo também deve definir se apresenta uma candidatura única, como quer Massa, ou se os pré-candidatos disputam as primárias que acontecerão em 13 de agosto, como busca o grupo do presidente Alberto Fernández.
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