Por Nicole Hao
Christian Lindner, líder do Partido Liberal Democrata da Alemanha (FDP), levou uma delegação para visitar Pequim recentemente, mas foi tratado de forma rude pelas autoridades chinesas devido ao fato do grupo ter se reunido dias antes com legisladores pró-democratas de Hong Kong.
“Eu já passei por várias situações ao lidar com assuntos estrangeiros, mas nada como isso”, disse Bijan Djir-Sarai, líder de relações exteriores do FDP, que também estava na delegação, à mídia alemã Spiegel Online, em 22 de julho.
Lindner e outros membros da comitiva disseram à imprensa alemã que um alto funcionário chinês gritou com eles por cerca de 30 minutos.
Além disso, seus compromissos agendados com outros funcionários do Partido Comunista Chinês (PCC) foram cancelados poucas horas antes do horário previsto para a reunião.
Uma visita desajeitada
Lindner liderou um grupo de funcionários do FDP em uma turnê pela Ásia por 12 dias, eles visitaram Hong Kong antes de viajar para Pequim.
Hong Kong testemunhou protestos históricos desde junho em oposição a uma lei de extradição apoiada por Pequim, que permitiria que qualquer país, incluindo a China continental, procurasse a extradição de suspeitos.
O projeto de lei atraiu oposição generalizada por causa do fracasso da China em manter o Estado de direito. Milhões de moradores de Hong Kong se juntaram aos protestos de rua nas últimas semanas, levando a líder da cidade, Carrie Lam, a suspender indefinidamente o projeto em meados de junho. Mas muitos estão insatisfeitos e continuaram a exigir que a proposta seja totalmente retirada.
Lindner disse à imprensa alemã que, enquanto em Hong Kong, ele se reuniu com legisladores pró-democratas que ficaram do lado dos manifestantes; ele também teve uma reunião com Lam. Lindner disse que Lam não apertou a mão dele e não se despediu quando ela saiu da reunião.
Lindner expressou sua opinião no Twitter em 22 de julho: “Não estamos apenas buscando interesses econômicos. Também valorizamos a liberdade e a democracia em nossos corações”.
A última parada da viagem foi em Pequim. Dois dias de reuniões agendadas foram cancelados, exceto por um com Guo Yezhou, vice-ministro do Departamento de Ligação Internacional do Comitê Central do PCC, uma agência responsável pela construção de laços com partidos políticos estrangeiros.
Durante a reunião, Guo criticou o governo alemão por conceder asilo aos dissidentes de Hong Kong, Ray Wong, 25, e Alan Li, 27, em maio de 2018. Wong, um ex-membro do grupo chamado Hong Kong Indigenous, que defendia a independência formal da cidade, e Li foi acusado de um crime, ligado a um protesto que se tornou violento em fevereiro de 2016.
Ativistas em Hong Kong têm sido cada vez mais desafiadores nos últimos anos em meio a crescentes temores de interferência de Pequim, apesar da promessa de uma autonomia especial depois que o território foi revertido para o governo chinês da administração britânica, em 1997.
Lindner implorou a Guo que respondesse às demandas das pessoas. Ele explicou que em seu Estado natal, Renânia do Norte-Vestfália, em 2017, os estudantes pressionaram a legislatura estadual realizando um protesto referente a uma proposta sobre os valores cobrados para estudantes universitários que não fossem da UE na região. Lindner disse que a legislatura finalmente alterou a proposta porque “a maioria das pessoas simpatizava com os manifestantes”, disse Lindner.
Hua Chunying, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, confirmou a visita de Lindner e a reunião com Guo durante uma coletiva de imprensa em 24 de julho. Mas Hua negou que as autoridades chinesas trataram Lindner grosseiramente, dizendo que “não está de acordo com os fatos”.
A Reuters contribuiu para esta reportagem.