Por Alicia Marquez
A influência de Pequim na América Latina está se tornando cada vez mais acentuada, ameaçando até mesmo as condições ambientais e as populações locais das nações latinas que comercializam suas matérias-primas com a China.
Em um documento recente, “Investimentos e Uso da Terra da China na América Latina”, do Instituto Jack D. Gordon de Políticas Públicas da Universidade Internacional da Flórida (FIU), alertou que Pequim lucra com esses recursos sob condições altamente questionáveis.
“O aumento da demanda por produtos básicos está afetando os recursos naturais e as populações locais em um momento em que as mudanças climáticas tornam as práticas de sustentabilidade mais urgentes”, aponta o documento, cuja autora é Mónica Nuñez Salas.
O relatório alerta que a região precisa rever suas práticas e priorizar sua gestão de recursos como água, minerais e seus resíduos mediante a sua relação com a China.
Os investimentos e o comércio da China, segundo o documento, aumentaram quando a América Latina “já estava em sua capacidade máxima para abastecer seus mercados internos e outros países ocidentais”.
O estudo do relatório da FIU concentrou-se na análise das três matérias-primas latino-americanas mais exportadas para a China: soja, carne bovina e cobre.
O relatório observa que, embora a extração de lítio e a produção de soja para o mercado chinês “não sejam mais prejudiciais ao meio ambiente do que as operações de outras empresas ocidentais”, a demanda de Pequim se destaca porque “tem a capacidade de processar e consumir enormes quantidades de produtos básicos em um nível que excede em muito o de outros países”.
No caso do Brasil, o relatório destaca que a carne bovina é um exemplo de como as regulamentações locais afetam o comportamento da atividade econômica, já que existem brechas legais que permitem “e até incentivam a degradação ambiental”.
“A carne bovina comprada pela China tem maior probabilidade de estar relacionada ao desmatamento”, alerta o relatório.
E no caso do Peru, em torno da mina de cobre Las Bambas, o impacto não só afeta o meio ambiente, mas também pode levar a problemas sociais.
O relatório também destaca que existem produtos agrícolas, como a carne suína, que em países como a Argentina apresentam desafios locais – como riscos epidemiológicos e degradação ambiental.
Da mesma forma, o Chile é um dos principais produtores mundiais de cobre e lítio, dois minerais com grande demanda por Pequim e que representam 25% da demanda mundial do mineral. A extração de lítio do deserto de Atacama leva a uma grande extração de água na região, já que grande parte do mineral na América Latina está contida no recurso hídrico, afirmou o documento.
“Isso torna a extração barata do ponto de vista tecnológico, mas onerosa em termos de segurança hídrica e conflitos socioambientais com as comunidades locais.”
A dependência dos países latino-americanos e os poucos benefícios que obtêm com o comércio com a China significam que o regime aproveita os mercados da região e acessa cada vez mais seus recursos.
Até agora, 19 países latino-americanos fazem parte da “Iniciativa Cinturão e Rota”, um acordo que muitos descrevem como uma armadilha da dívida, onde os países que assinam o acordo com a China acabam abrindo mão de sua independência e soberania.
Alguns especialistas alertaram que o controle que Pequim tem sobre o comércio exterior na América Latina é “indiscutível”.
“O que Pequim está fazendo é basicamente transferir um acúmulo muito grande de influência no campo econômico, para o campo político e progressivamente para o campo da segurança”, disse Román Ortiz, analista do Centro de Segurança Internacional da Fundação Francisco de Vitoria na Universidade de Madri.
Ortiz destacou que é muito fácil para a China entrar na América Latina, pois há uma virada política favorável nas repúblicas latino-americanas “porque são governos de orientação esquerdista, questionam o modelo liberal e têm um forte sentimento anti-americano. Então eles veem na China um modelo alternativo para equilibrar a influência norte-americana”.
E destacou ainda que outro motivo é o endividamento e a grande necessidade de gerar crescimento econômico após a pandemia.
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