Por Frank Fang, Epoch Times
Em meio à atual turbulência política na Venezuela, Pequim tem expressado continuamente seu apoio ao ditador venezuelano Nicolás Maduro, que insiste em sua legitimidade como presidente do país, apesar das críticas generalizadas.
Em 23 de janeiro, Juan Guaidó, líder da Assembleia Nacional da Venezuela, controlada pela oposição, foi declarado presidente em exercício, seguindo as regras da Constituição do país que lhe permitem ser nomeado. Desde então, muitos países anunciaram seu apoio a Guaidó, incluindo Argentina, Brasil, Canadá e Estados Unidos, enquanto Grã-Bretanha, Alemanha, França e Espanha disseram que reconhecerão Guaidó até que Maduro anuncie novas eleições nos próximos dias.
A Venezuela está atravessando uma crise socioeconômica marcada pela escassez de alimentos e hiperinflação após duas décadas de políticas socialistas. O país andino tem agora uma dívida de cerca de 150 bilhões de dólares, dos quais cerca de 20 bilhões são devidos à China, segundo a Reuters.
A China, por sua vez, expressou seu apoio incondicional a Maduro após a declaração de Guaidó.
Maduro, que se recusa a renunciar, rapidamente adotou represálias contra o apoio dos Estados Unidos a Guaidó, rompendo os laços diplomáticos. Em resposta, Washington anunciou que manterá relações diplomáticas com Caracas através do governo de Guaidó.
Durante uma coletiva de imprensa em 24 de janeiro, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying, disse: “A China apoia os esforços feitos pelo governo venezuelano para manter a soberania nacional, a independência e a estabilidade”, e acrescentou que Pequim se opõe a qualquer interferência estrangeira no país sul-americano.
Embora Hua não tenha mencionado um país específico, o jornal estatal chinês Global Times publicou um editorial em 24 de janeiro dizendo que o rápido reconhecimento diplomático de Guaidó era um sinal do “forte desejo de Washington de interferir nos assuntos internos da Venezuela”.
Em uma entrevista para a Fox News em 25 de janeiro, o senador Marco Rubio (republicano da Flórida) explicou por que acredita que a China expressou seu descontentamento com o reconhecimento de Guaidó pelos Estados Unidos: “A Venezuela deve muito dinheiro à China. Eles só querem ser pagos”.
Fortes vínculos com a China
A China emprestou mais de US$ 50 bilhões para a Venezuela em contratos de “petróleo por empréstimo” ao longo da última década, segundo a Reuters.
Maduro, que assumiu o cargo de presidente após a morte de Hugo Chávez em 2013, antes de vencer uma eleição especial, foi empossado para seu segundo mandato em 10 de janeiro. Mas as eleições presidenciais de 2018 foram consideradas fraudulentas pela Assembleia Nacional — controlada pela oposição — e pela comunidade internacional.
Cinco dias depois da posse de Maduro, a assembleia venezuelana declarou-o formalmente “usurpador” e anunciou que todas as ações iniciadas por seu poder executivo seriam anuladas, segundo o site de notícias em inglês Caracas Chronicle.
Mas a China tem apoiado o regime de Maduro de maneira consistente.
Mais recentemente, o embaixador da China na Venezuela, Li Baorong, reafirmou o compromisso chinês com Maduro, dizendo que os dois países “fortalecerão a cooperação estratégica”, ao discursar em uma recepção do Ano Novo Chinês organizada pela embaixada chinesa no hotel Gran Meliá em Caracas em 26 de janeiro, de acordo com o site da embaixada.
Autoridades venezuelanas participaram da recepção, incluindo Delcy Rodríguez, vice-presidente da Venezuela na administração de Maduro desde junho de 2018; Simón Zerpa Delgado, Ministro da Economia e Finanças; e o major-general Pascualino Angiolillo Fernández, secretário geral do Conselho de Defesa Nacional.
Rodríguez também fez um discurso, que foi transmitido para todo o país pela emissora estatal venezuelana VTV, agradecendo à China por seu apoio. Ele disse que a relação especial entre Venezuela e China deve ser comemorada, já que este ano marca o 45º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas entre os dois países, acrescentando que as relações bilaterais “floresceram desde a chegada de Hugo Chávez”.
Como sinal de fortes laços com a China, Rodríguez disse que “todo o petróleo que a China precisa, a Venezuela tem”, e aplaudiu a iniciativa chinesa “Um Cinturão, Uma Rota”, através da qual Maduro assinou 28 acordos durante uma visita à China em setembro do ano passado.
De acordo com um artigo publicado em setembro de 2018 pela rede venezuelana de televisão Telesur, esses acordos incluem a cooperação entre a Corporação Nacional Chinesa para Exploração e Desenvolvimento de Petróleo e Gás (CNCEDPGS) e a petroleira estatal venezuelana PDVSA para explorar e extrair gás natural. Outro acordo concedeu à mineradora estatal chinesa Yankuang Group direitos para explorar e extrair ouro na Venezuela.
Embora a Assembleia Nacional, desde então, tenha declarado que os acordos assinados por Maduro “carecem de validade e são nulos e sem efeito”, já que exigem uma lei especial que os autorize.
Banco de Desenvolvimento da China
Os investimentos chineses na Venezuela permitiram a corrupção desenfreada sob o regime socialista de Maduro, segundo especialistas. Em abril de 2018, o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais dos Estados Unidos (Center for Strategic and International Studies) alertou em um relatório sobre os perigos do investimento chinês.
“A influência da China na América Latina não é nem transparente nem orientada para o mercado”, diz o relatório, e alguns dos empréstimos e acordos são ilegítimos. “Esta falta de transparência acrescenta outra camada à corrupção arraigada do regime de Maduro.”
O investimento chinês na Venezuela se dá por meio de investimentos diretos no exterior (ODI, na sigla em inglês) ou empréstimos por meio de bancos chineses, diz o relatório, mas em ambos os casos, eles não têm “nem mesmo o padrão mais básico” de transparência”. Com o ODI, o dinheiro chinês é geralmente enviado através de Hong Kong para destinos desconhecidos, enquanto os bancos chineses geralmente não fornecem informações detalhadas sobre empréstimos por país.
“A China injetou fundos na Venezuela às custas dos cidadãos venezuelanos e do sucesso em longo prazo”, conclui o relatório.
A China começou a investir na Venezuela em 2001, depois que o então líder do Partido Comunista Chinês (PCC), Jiang Zemin, se encontrou com Chávez em Caracas. Ambas as partes assinaram oito acordos bilaterais sobre energia, cultura, tecnologia e mineração, segundo a BBC.
Desde então, o Banco de Desenvolvimento da China (BDC) tem sido um dos principais canais através do qual Pequim envia dinheiro para a Venezuela. De acordo com um artigo de agosto de 2017 do Global Times, o BDC ofereceu cerca de 37 bilhões de dólares em empréstimos à Venezuela entre 2008 e 2015, o que tornou o banco o maior credor da Venezuela na época.
Não se sabe exatamente quanto financiamento o BDC deu à Venezuela nos anos anteriores a 2008. No entanto, de acordo com o Ministério do Comércio da China, em 2006, o BDC concedeu um empréstimo de cerca de um bilhão de dólares para um projeto de habitação pública na Venezuela, que seria construída pela estatal chinesa CITIC Construction. Em troca, a China National United Oil Corp., subsidiária da estatal chinesa CNPC, receberia 200 mil barris de petróleo por dia.
Cabe ressaltar que Chen Yuan, filho do ex-veterano do PCC Chen Yun, foi presidente do banco de 1998 a 2008. Posteriormente, ele foi nomeado presidente do BDC de 2008 a abril de 2013.
A Radio Free Asia, em uma coluna publicada em abril de 2013, observou que Jiang havia permitido que Chen Yuan garantisse sua posição no BDC como forma de retribuir um favor político.
Após a repressão do regime chinês contra manifestantes estudantis na Praça Tiananmen em 1989, o então secretário geral do Partido Comunista da China, Zhao Ziyang, foi demitido. Chen Yun sugeriu ao então líder Deng Xiaoping que Jiang assumisse o cargo de secretário geral.
Depois que Jiang foi nomeado secretário geral em 24 de junho de 1989, ele se tornou o líder do Partido.