Oposição venezuelana usará “corrente humana” para romper bloqueio de Maduro

Membros da oposição venezuelana nos últimos dias confirmam que os planos estão concentrados em romper a fronteira por meio de uma mobilização pública em massa

14/02/2019 22:20 Atualizado: 14/02/2019 22:20

Por Luke Taylor, especial para o Epoch Times

CUCUTA, Colômbia – Membros da oposição venezuelana que trabalham para enviar ajuda humanitária para o país dizem que a resposta para romper o bloqueio pelo regime de Maduro envolverá a mobilização em massa do povo venezuelano.

Os esforços de uma coalizão da oposição, dos Estados Unidos e da Colômbia para enviar alimentos, remédios e suprimentos de higiene pessoal para aliviar o sofrimento causado pela crise econômica e política do país se complicaram na semana passada, quando a Guarda Nacional, leal ao líder venezuelano Nicolas Maduro bloqueou uma ponte que ligava o nordeste da Colômbia ao oeste da Venezuela com dois conteiners virados e um caminhão tanque.

Autoridades do governo dos Estados Unidos e da Colômbia disseram pouco sobre como a ajuda poderia ser entregue à Venezuela, mas entrevistas com membros da oposição venezuelana nos últimos dias confirmam que os planos estão concentrados em romper a fronteira por meio de uma mobilização pública em massa.

A migrante venezuelana Lulexis Gonzalez chora depois de parar na estrada de Cucuta para Pamplona, no departamento de Norte de Santander, na Colômbia, em 10 de fevereiro de 2019 (Raul Arboleda / AFP / Getty Images)

Lester Toledo, um enviado de Juan Guaidó – reconhecido por Washington e outros como presidente interino da Venezuela – sugeriu que a oposição pediria ao público que obrigasse a passagem da ajuda humanitária.

Opositores, em conversas com o Epoch Times, também confirmaram que uma mobilização em larga escala é o plano preferido para obter suprimentos evitando a Guarda Nacional.

Gaby Arellano, membro do partido de Guiadó e membro eleito da Assembleia Nacional, disse que o plano para entregar a ajuda é “com o povo” e que envolveria “a poderosa arma da desobediência civil” para romper a fronteira. Arellano falou de uma estratégia envolvendo “milhões de venezuelanos da [Colômbia à Venezuela] e milhões de venezuelanos que a recebem [na Venezuela]”.

Omar Lares, ex-prefeito de uma cidade no estado venezuelano de Merída, atualmente exilado na úmida cidade fronteiriça de Cúcuta, ecoou o sentimento de Arellano, dizendo que há planos para uma “corrente humana” para garantir a passagem segura da ajuda através da fronteira.

Tal plano poderia colocar seus participantes em risco caso os militares permaneçam leais a Maduro e obedeçam às ordens para frear os esforços, mas a oposição diz que o único perigo é Maduro continuar no poder.

“O maior risco para o meu povo é que Maduro permaneça dentro do palácio presidencial”, disse Arellano, em um ponto de encontro local para os membros da oposição que coordenam o esforço de ajuda.

Arellano também confirmou que outras duas remessas de ajuda, enviadas do Brasil e de uma ilha do Caribe, devem chegar nos próximos dias, e que Guiadó fornecerá mais detalhes sobre as rotas de embarques para a Venezuela em 12 de fevereiro, coincidindo com o anúncio no mesmo dia, marcado como o Dia Nacional da Juventude, o que poderá potencialmente se espalhar para a fronteira.

Voluntário carrega uma sacola com produtos de ajuda humanitária em Cucuta, na Colômbia, na fronteira com Táchira, na Venezuela, em 8 de fevereiro de 2019 (Raul Arboleda / AFP / Getty Images)

Ajuda humanitária

O primeiro carregamento, uma das três iniciativas financiadas por US$ 20 milhões prometidas pelos Estados Unidos para a Venezuela, está num depósito na ponte Tienditas, na Colômbia.

Maduro diz que a iniciativa de ajuda é uma artimanha internacional para derrubá-lo e que os venezuelanos não permitirão, já que não são “mendigos”. Guaidó, que hoje é reconhecido por mais de 40 países como o líder interino legítimo da Venezuela, pediu a ajuda para acabar com o sofrimento de 300.000 pessoas famintas.

Cerca de 3 milhões de venezuelanos deixaram o país desde o início da crise, há quatro anos, fugindo da escassez generalizada de alimentos e remédios e da hiperinflação desenfreada de mais de 1 milhão por cento, o que torna inacessíveis até os produtos mais básicos.

Guiadó invocou a constituição em 23 de janeiro para assumir a presidência, com base em que Maduro fraudou as eleições. Enquanto Guaidó ganhou reconhecimento internacional e seu apoio popular cresce, Maduro continua no poder com o apoio dos militares.

Desde a barricada dramática da ponte, não houve nenhum anúncio oficial sobre como a oposição planeja romper as forças armadas, que tem ordens para impedir a entrega da ajuda. Se a oposição conseguir convencer os militares a desobedecer às ordens, a ajuda poderá ser entregue e servirá para enfraquecer – e potencialmente até abalar – o regime de Maduro, rompendo a lealdade dos militares a seu líder.

O embaixador dos Estados Unidos na Colômbia, Kevin Whitaker, falando em frente a um grande armazém cheio de sacos de lentilhas, arroz e macarrão perto da ponte Tienditas em 8 de fevereiro, encorajou as forças armadas venezuelanas a deixar a ajuda ser entregue.

“A decisão que você tomar será lembrada por suas mães, suas irmãs e suas filhas”, disse Whitaker em frente à imprensa internacional.

Se os militares se mantiverem firmes, os sacos brancos que incluem kits de comida suficientes para 5.000 venezuelanos e suplementos nutricionais ricos em proteína para 6.700 crianças desnutridas, podem ficar em armazéns indefinidamente.