Em um comunicado divulgado nesta segunda-feira (5), Edmundo González, opositor de Nicolás Maduro, declarou-se presidente eleito da Venezuela.
O posicionamento desafia os resultados oficiais divulgados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que havia anunciado a reeleição de Maduro com 51,95% dos votos, enquanto González teria obtido 43,18% nas eleições de país em 28 de julho.
No documento, González e María Corina Machado, líder de oposição que foi impedida de participar das últimas eleições, acusam Maduro de “se recusar a reconhecer sua derrota perante a nação” e denunciam uma tentativa de encobrir os verdadeiros resultados eleitorais por meio de uma “ofensiva brutal” contra a população, testemunhas e opositores políticos.
O comunicado também faz um apelo às Forças Armadas da Venezuela para que “cumpram seus deveres institucionais”.
“Nós os pedimos que impeçam o desvario do regime contra o povo e a respeitar, e a fazer respeitar, os resultados das eleições de 28 de julho. Maduro deu um golpe de Estado que contraria toda a ordem constitucional e quer torná-los cúmplices disso”, diz um trecho do comunicado reproduzido por González em suas redes sociais.
Em uma contagem paralela conduzida pela oposição com base nas “atas”, documentos de auditoria do voto, González teria conquistado 67% dos eleitores, com 30% atribuídos a Maduro.
A oposição acusa o regime venezuelano de tentar subverter a vontade popular e pediu o apoio das Forças Armadas para assegurar a integridade dos resultados eleitorais.
O CNE, responsável por declarar os vencedores das eleições na Venezuela, tem sido alvo de críticas por alegada falta de transparência. A Suprema Corte do pais conduziu uma auditoria na sexta-feira (2), repetindo o anúncio anterior de vitória de Maduro com 51,95% dos votos. González, assim como os outros candidatos, foi convidado a estar presente, mas o opositor não compareceu.
A posição da oposição venezuelana foi corroborada pela maior parte da comunidade internacional, com os Estados Unidos e a União Europeia a rejeitando os resultados anunciados oficialmente e exigindo a divulgação completa das atas eleitorais. O Secretário-Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) e representantes de países da entidade rechaçaram os resultados oficiais como fraudulentos.
Manifestações tomaram cidades da Venezuela, com milhares de pessoas saindo às ruas. De acordo com o Instituto Foro Penal, organização não governamental que defende presos políticos na Venezuela, as manifestações resultaram em mais de mil prisões e pelo menos 11 mortes.
Confira a nota divulgada por Machado e González na íntegra:
“Venezuelanos, cidadãos militares e funcionários policiais,
A Venezuela e o mundo inteiro sabem que nas eleições do passado 28 de julho nossa vitória foi esmagadora.
Desde o mais humilde cidadão, testemunha, membro de mesa, oficial das Forças Armadas, policial, até os organismos internacionais e governos, todos sabem disso. Com as atas em mãos, o planeta viu e reconheceu o triunfo das forças democráticas.
Nós fizemos a nossa parte. Realizamos a mais formidável mobilização cívica para que a vitória eleitoral fosse incontestável. É um triunfo obtido com enorme energia e firmeza, e o fizemos em paz.
Obtivemos 67% dos votos, enquanto Nicolás Maduro conseguiu 30%. Essa é a expressão da vontade popular. Vencemos em todos os estados do país e em quase a totalidade dos municípios. Dessa realidade são testemunhas todos os cidadãos, incluindo os membros do Plano República.
No entanto, Maduro se recusa a reconhecer que foi derrotado pelo país inteiro e, diante do protesto legítimo, lançou uma ofensiva brutal contra dirigentes democráticos, testemunhas, membros de mesa e até mesmo contra o cidadão comum, com o propósito absurdo de querer ocultar a verdade e, ao mesmo tempo, pretender encurralar os vencedores.
Fazemos um chamado à consciência dos militares e policiais para que se coloquem ao lado do povo e de suas próprias famílias. Com essa violação massiva dos direitos humanos, o alto comando se alinha com Maduro e seus vis interesses.
Enquanto vocês estão representados por esse povo que saiu para votar, por seus companheiros das Forças Armadas Nacionais, por seus familiares e amigos, cuja vontade foi expressa em 28 de julho e que vocês conhecem.
Estamos conscientes de que em todos os componentes das Forças Armadas Nacionais está presente a decisão de não reprimir os cidadãos que pacificamente reclamam seus direitos e sua vitória.
Os venezuelanos não somos inimigos das Forças Armadas. Com essa disposição, os chamamos a impedir as ações de grupos organizados pela cúpula madurista, uma combinação de esquadrões militares e policiais e grupos armados à margem do Estado, que golpeiam, torturam e matam, sob a proteção do poder maligno que representam.
Vocês podem e devem parar essas ações de imediato. Nós os instamos a impedir o desvario do regime contra o povo e a respeitar, e a fazer respeitar, os resultados das eleições de 28 de julho.
Maduro deu um golpe de Estado que contraria toda a ordem constitucional e quer torná-los cúmplices disso.
Vocês sabem que temos provas irrefutáveis da vitória. O relatório do Centro Carter é demolidor sobre as condições e o resultado eleitoral, enquanto Maduro tenta fabricar alguns resultados quando, além disso, o prazo legal para a publicação dos mesmos já venceu.
Membros das Forças Armadas e dos corpos policiais, cumpram seus deveres institucionais, não reprimam o povo, acompanhem-no.
Da mesma forma, pedimos a todos os venezuelanos que têm mães, pais, filhos, irmãos, cônjuges que são membros das Forças Armadas Nacionais ou funcionários policiais, que lhes exijam não reprimir, que desobedeçam ordens ilegais e que reconheçam a Soberania Popular, expressa nos votos do domingo 28 de julho.
O novo governo da República, eleito democraticamente pelo povo venezuelano, oferece garantias àqueles que cumprirem com seu dever constitucional. Da mesma forma, destaca que não haverá impunidade. Esse é um compromisso que assumimos com cada um dos venezuelanos.
Nós vencemos esta eleição sem qualquer discussão. Foi uma avalanche eleitoral, cheia de energia e com uma organização cidadã admirável, pacífica, democrática e com resultados irreversíveis.
Agora, cabe a todos nós fazer respeitar a voz do povo. Procede-se, de imediato, à proclamação de Edmundo González Urrutia como presidente eleito da República”.