A oposição venezuelana anunciou a interrupção do diálogo com o regime de Nicolás Maduro, convocando a população para intensificar as manifestações. O comunicado foi publicado em 26 de janeiro no site da Mesa de Unidad Democrática (MUD), coalizão de partidos políticos venezuelanos que agrupa os movimentos de oposição. A decisão foi tomada em resposta ao Acordo de Convivência Democrática, apresentado por observadores internacionais em meados de janeiro, o qual propõe medidas objetivando resgatar o equilíbrio institucional do país.
No documento, a MUD exprime seu descontentamento com o comportamento do governo, afirmando não haver sentido em dialogar com quem não cumpre os acordos. A MUD afirma ainda que um acordo visando à mudança política e à defesa dos direitos econômicos e sociais só terá êxito se estiver respaldado em uma crescente e permanente mobilização da sociedade.
Em entrevista ao programa televisivo ‘Aló Buenas Noches’, Gonzalo Himiob, diretor do Foro Penal Venezolano, uma das mais ativas organizações não governamentais de direitos humanos, afirmou que o diálogo entre o governo e a MUD não tem produzido resultados satisfatórios: “na verdade, a repressão está crescendo desde maio de 2016”.
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Segundo ele, como o governo parece não ter interesse em pôr fim à perseguição política, a ruptura proposta pela MUD pode fazer com que o governo venezuelano opte por reprimir ainda mais a população. Buscando contrapor-se a essa situação, Himiob disse que, no dia 21 de janeiro, na Praça Bolívar de Chacao, em Caracas, foi feita uma assembleia entre os vários grupos que lutam contra a repressão na Venezuela, a fim de buscar uma unidade de atuação.
Para a Anistia Internacional, as detenções de opositores no país revelam um padrão sistemático de abusos “contra os que se atrevem a expressar uma opinião contrária a do governo”.
O Acordo de Convivência Democrática foi entregue a ambas as partes, governo e oposição, pelo Secretário-Geral da Unasul, Ernesto Samper, e pelos ex-presidentes José Luis Rodríguez Zapatero, Martin Torrijos e Leonel Fernández, bem como pelo núncio apostólico na Venezuela, Monsenhor Aldo Giordano. O documento possui 21 pontos, dentre os quais o respeito à constituição e à convivência institucional, a criação de uma comissão da verdade e da justiça e a definição de um cronograma eleitoral.
Dados da Foro Penal afirmam que, de 2014 a 2016, o governo de Nicolás Maduro fez 6.831 detenções políticas, sendo que destas, 429 resultaram em prisões preventivas ou domiciliares. Destes presos, 106 ainda estavam nessa situação no mês de dezembro de 2016, sendo que 35 haviam sido condenados por um tribunal. Apesar de 323 presos políticos terem sido libertados, eles ainda estão impedidos de sair do país.