ONU adverte que Irã acumula cada vez mais urânio enriquecido, próximo de uso militar

Por Agência de Notícias
29/08/2024 22:36 Atualizado: 29/08/2024 22:36

O Irã manteve nos últimos três meses o ritmo de produção de urânio enriquecido a 60%, próximo do necessário para uso militar, até acumular 164,7 quilos deste material, 16% a mais que em maio, segundo alertou nesta quinta-feira (29) a agência nuclear da ONU.

Em um relatório reservado, enviado em Viena aos seus Estados-membros, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) especifica que os técnicos iranianos produziram entre meados de maio e meados de agosto 22,6 quilos de urânio a 60% e 62,6 quilos de urânio a 20%.

Para isso, o Irã diluiu uma parte significativa do seu urânio enriquecido a 2%, material de uso industrial para combustível atômico, cujos estoques caíram quase 36%, passando de 2.571 para 1.651 quilos.

Para fabricar bombas atômicas é necessário urânio enriquecido com pureza de entre 80% e 90%.

Embora o Irã atualmente enriqueça “apenas” até 60%, os especialistas alertam que o processo de refinamento para passar de 2% a 60% de pureza é muito mais complexo do que atingir os 90% necessários para uma bomba.

A agência estima que os estoques totais de urânio enriquecido do Irã, que segundo o acordo nuclear internacional de 2015 (conhecido como JCPOA) não devem exceder 300 quilos, totalizavam 5.751,8 quilos em 17 de agosto, cerca de 449,5 quilos menos que em maio.

Em novembro de 2022, o Irã tinha 62 quilogramas de urânio a 60%, menos de 40% que o nível atual.

Enquanto isso, as reservas de urânio com pureza de 5% caíram 55,4 quilos, situando-se agora em 2.321,5 quilos.

“A contínua produção e acumulação de urânio altamente enriquecido pelo Irã, o único Estado sem armas nucleares a fazê-lo, aumenta a preocupação da Agência”, afirma o relatório.

O acordo de 2015, do qual os EUA saíram unilateralmente em 2018 e que o Irã começou a violar um ano depois, estabelecia um limite de 300 quilos de urânio enriquecido com pureza máxima de 3,67%.

Em um segundo relatório, centrado na falta de informação sobre a origem dos vestígios radioativos em duas instalações não declaradas como nucleares, a AIEA critica que o Irã continue a dificultar os controles através da aplicação de um veto – permitido no Tratado de Não Proliferação (TNP) – contra vários inspetores, principalmente de países europeus.

O diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, lembrou mais uma vez que as atividades de verificação e supervisão dos seus inspetores continuam “seriamente afetadas” pelo não cumprimento, por parte do Irã, dos compromissos nucleares estabelecidos.

Os relatórios de hoje são publicados antes da reunião do Conselho de Governadores da AIEA, marcada para começar em 9 de setembro.