Onda de protestos na França já dura mais de duas semanas

22/02/2017 16:07 Atualizado: 14/03/2017 14:40

Há mais de duas semanas, a região da Grande Paris vive sob protestos violentos. A crise foi desencadeada após quatro policiais terem sido acusados de atacar violentamente um jovem trabalhador na periferia da metrópole, no dia 2 de fevereiro.

O ataque policial teria ocorrido no departamento de Seine-Saint-Denis, em Aulnay-sous-Bois, comuna francesa situada a nordeste de Paris. Theo, 22 anos, teria sido abordado agressivamente pelos agentes da lei e, durante a ação, sofreu ferimentos na cabeça e no ânus. Theo alega que um dos policiais enfiou o cassetete em seu reto. O rapaz precisou passar por uma cirurgia, por causa dos ferimentos no trato gastrointestinal inferior.

Os protestos tiveram início no dia 4 deste mês, em Aulnay-sous-Bois, e desde então se espalharam por outras regiões, rumo ao centro de Paris. Houve confrontos entre manifestantes e a polícia em: Tremblay-en-France, Montfermeil, Clichy-sous-Bois, Villepinte, Blanc-Mesnil e Bobigny, que são comunas situadas no nordeste da Metrópole da Grande Paris. Na Cidade das Luzes, os confrontos ocorreram em Boulevard Barbès, região norte da cidade, e no Distrito de Marais, região central. As comunas francesas são o equivalente aos municípios no Brasil.

Manifestações também ocorreram em outras partes da França. Houve choque entre a polícia e manifestantes em Nantes — região do Pays de la Loire, oeste da França; Lille — na região de Hauts-de-France, fronteira com a Bélgica; Rouen — na Normandia, norte da França; Rennes — capital da Bretagne, no noroeste do país; Dijon — capital da região de Bourgogne-Franche-Comté, fronteira com a Suíça; Poitier — em Nouvelle-Aquitaine, sudoeste do país; e Nice — no departamento dos Alpes Marítimos, fronteira com a Itália.

Em meados de fevereiro, a polícia francesa apresentou os resultados iniciais de sua investigação interna sobre o caso Theo. A corporação diz que as evidências são insuficientes para sustentar a acusação do rapaz, que diz ter sido sodomizado com um cassetete pelos policiais. Para o inquérito, os investigadores levaram em consideração o testemunho da vítima, dos agentes da lei e de testemunhas, além de gravações de câmeras de circuito interno de televisão.

Desde o início dos protestos, por volta de 254 pessoas foram presas, vários carros foram queimados, prédios vandalizados e um número não estimado de pessoas foram feridas. Apesar de em alguns vídeos que circulam pela internet parecer que a polícia perdeu o controle em certos momentos dos protestos em comparação com as manifestações de 2005, os danos causados ao patrimônio público e privado são bem menores: naquela época, 10 mil carros foram queimados e 300 prédios foram vandalizados.

Em 2005, a onda de protestos foi provocada pela morte de dois jovens, Zyed Bena, 17 anos, e Bouna Traore, 15. Eles fugiam da polícia e acabaram entrando em uma subestação de energia elétrica, onde morreram eletrocutados. A morte deles provocou uma onda de protestos que durou três semanas. Os policiais envolvidos nesse caso acabaram inocentados da acusação de negligência. Há vários anos, a polícia francesa vem sendo acusada de agir agressivamente contra pessoas de outras etnias, na periferia.

No dia 20 de fevereiro, o tribunal de Bobigny iria decidir se os quatro policiais iriam a julgamento. Contudo, até o fechamento desta matéria, não obtivemos informação de se a corte havia analisado o caso.