O FBI, ou Departamento Federal de Investigação dos Estados Unidos, tentou encobrir um encontro secreto entre o ex-presidente Bill Clinton e a ex-procuradora-geral Loretta Lynch em 27 de junho de 2016, em Phoenix, no Arizona. A reunião aconteceu apenas seis dias antes do ex-diretor do FBI, James Comey, liberar Hillary Clinton de acusações em seu escândalo dos e-mails.
Durante o testemunho em maio, Comey disse acreditar que a reunião prejudicou a credibilidade do Departamento de Justiça no caso dos e-mails de Clinton. Comey também revelou que Lynch orientou-o a descrever a investigação de Clinton como uma “questão”, um linguajar que se alinhava com o plano de campanha de Clinton.
O Judicial Watch, um grupo de vigilância conservador e não partidário, apresentou uma solicitação, sob a lei de liberdade de informação, ao FBI e ao Departamento de Justiça (DOJ) para obter os registros da reunião. O FBI inicialmente afirmou que não havia tais registros, mas depois que os documentos do DOJ revelaram comunicações na reunião com o FBI, o FBI concordou em liberar os documentos.
Em 29 de novembro, o FBI forneceu o relatório de 29 páginas ao Judicial Watch e o grupo de vigilância o publicou em seu website no mesmo dia.
Os documentos são principalmente e-mails após a reunião e revelam que o FBI tentou encobrir a reunião secreta silenciando um denunciante que revelou o encontro ao público.
Num e-mail, o FBI cita uma reportagem do Observer de 1º de julho de 2016 que cita uma “fonte da segurança” anônima que supostamente estava presente durante a reunião de quase meia hora entre Bill Clinton e Lynch dizendo que “[Clinton] falou em seu avião por pelo menos 20 a 25 minutos, e o FBI está face a face com o Serviço Secreto e apenas conversando sobre a temperatura do pavimento, quer dizer ‘Mas que diabos?’”
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O FBI, em seu e-mail, ordenou que aparentemente 22 agentes, cujos nomes foram riscados, lessem o artigo do Observer. A agência então afirma que a fonte não identificada no artigo pode ser um policial de Phoenix que ajudou com a escolta de motocicletas, e que o FBI contatou “o escritório de Phoenix” e contataria os locais “que ajudaram” no que a agência descreveu como “uma tentativa de causar mais danos”.
E continua, afirmando que incidentes como este são o porquê o critério e o julgamento dos agentes são os “fundamentos” da “confiança da AG em nossa equipe, e é por isso que nunca podemos violar essa confiança, como a fonte fez neste artigo”.
O “AG” presumivelmente se refere à ex-procuradora-geral (attorney general), Lynch.
Os e-mails revelaram que o FBI tinha como objetivo punir e silenciar o suposto policial, afirmando: “Precisamos encontrar essa pessoa e trazê-la diante de um supervisor e OPR”, e também sugeriu que a agência deveria exigir que o pessoal assinasse acordos de não divulgação no futuro.
A menção de “OPR” presumivelmente se refere ao Office of Professional Responsibility (ou Escritório de Responsabilidade Profissional), que investiga falhas de conduta nas forças de aplicação da lei.
Outro e-mail diz que um afiliado em Phoenix disse que o encontro entre Lynch e Clinton durou “quase uma hora” e que “eles achavam que estava de alguma forma conectado com o relatório de Benghazi divulgado hoje”.
O relatório de Benghazi, de 28 de junho de 2016, dos republicanos do Congresso detalhou os atentados de 11 de setembro de 2012 contra a embaixada dos EUA na Líbia, que mataram o embaixador Chris Stevens, o oficial do serviço externo estadunidense Sean Smith, e os contratados da CIA Tyrone Woods e Glen Doherty. O incidente provocou as investigações sobre os e-mails da então secretária de Estado Hillary Clinton.
De acordo com a publicação do Judicial Watch, a reunião entre Clinton e Lynch “ocorreu poucos dias antes do ex-diretor do FBI, James Comey, realizar a conferência de imprensa de 5 de julho de 2016 na qual ele anunciou que não haveria um processo judicial contra a Sra. Clinton”.
E acrescenta que, em seu testemunho de 3 de maio perante o comitê judiciário do Senado, “Comey disse que a reunião entre Lynch e Clinton foi o ‘ponto decisivo’ entre ‘uma série de coisas’ que o fez determinar que a liderança do Departamento de Justiça não poderia credivelmente completar a investigação e prevenir um processo judicial sem prejuízo grave para a confiança do povo americano no sistema de justiça”.
O presidente do Judicial Watch, Tom Fitton, disse na publicação que os novos documentos mostram que “o FBI estava mais preocupado com um denunciante que revelou a verdade sobre a infame reunião entre Clinton e Lynch do que com o próprio encontro escandaloso”.
“Os documentos mostram que o FBI trabalhou para garantir que nenhum outro detalhe da reunião fosse revelado ao povo americano. Não é de admirar que o FBI não tenha apresentado esses documentos até que o Judicial Watch pegou a agência em flagrante escondendo-os”, disse Fitton. “Estes novos documentos confirmam a necessidade urgente de se reabrir o escândalo dos e-mails de Clinton e investigar criminalmente a falsa investigação do FBI/DOJ sob o governo Obama.”