O Governo do Brasil decidiu nesta quinta-feira (08) expulsar a embaixadora da Nicarágua no Brasil, Fulvia Castro, em “reciprocidade” a uma medida similar adotada pelas autoridades de Manágua com o representante brasileiro, confirmaram fontes oficiais à agência de notícias EFE.
A decisão foi anunciada após o regime de Daniel Ortega formalizar a expulsão do embaixador brasileiro, Breno Souza da Costa, justificada pela ausência do diplomata, no último dia 19 de julho, nos atos comemorativos do 45º aniversário da Revolução Sandinista.
Segundo fontes consultadas pela EFE, o Brasil não fez mais do que aplicar o “princípio da reciprocidade” frente a uma medida que considerou “injustificada”.
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, teve no passado uma relação estreita com Ortega desde 1980, quando o líder brasileiro viajou a Manágua para o primeiro aniversário da Revolução Sandinista, ocasião em que também conheceu pessoalmente o então ditador cubano, Fidel Castro.
Nos últimos meses a relação se deteriorou, sobretudo devido à perseguição política que a ditadura de Ortega direcionou a opositores, incluindo membros antigos de seu movimento e religiosos.
Lula abordou a situação em uma coletiva de imprensa com correspondentes estrangeiros em Brasília em julho, na qual revelou que Ortega não atende suas ligações desde que o papa Francisco pediu que ele intercedesse pela situação de um bispo detido na Nicarágua.
“Conversei com o papa e ele me pediu que conversasse com Ortega sobre um bispo que estava preso”, disse Lula em referência ao religioso Rolando Álvarez, encarcerado por sua oposição ao governo nicaraguense.
“O fato é que Ortega não atendeu o telefone e não quis falar comigo. Então, nunca mais falei com ele”, acrescentou.
Lula lamentou a postura de Ortega, relembrando-o como “um sujeito que fez uma revolução como a que Ortega fez para derrotar (Anastasio) Somoza” e disse que hoje não sabe “se essa revolução foi porque ele queria o poder ou porque queria melhorar a vida do seu povo”.
O presidente brasileiro declarou ser favorável a que em todo país “haja uma alternância no poder”, pois isso é “o mais saudável” para uma democracia.
Segundo Lula, “quando um dirigente põe na cabeça que ele é imprescindível ou insubstituível, é aí que começa a nascer o espírito do ditador”.
A Nicarágua é um dos poucos países da América Latina que reconheceu Nicolás Maduro como presidente eleito da Venezuela, apesar de as autoridades eleitorais do país ainda não terem apresentado as atas, documentos de verificação dos votos, e de denúncias de fraude reconhecidas pela maior parte da comunidade internacional.