Nova variante sul-africana da COVID-19: o que sabemos até agora

Variante Ômicron possui 'constelação única' de mais de 30 mutações

27/11/2021 23:18 Atualizado: 27/11/2021 23:18

Por Naveen Athrappully

Cientistas sul-africanos descobriram uma nova variante da COVID-19 que, segundo eles, pode estar por trás do recente aumento de infecções no país, resultando em pânico em todo o mundo à medida que os países temem a propagação internacional da variante altamente mutada.

A África do Sul estava tendo uma taxa de 200 novos casos confirmados diariamente até recentemente, quando o número subiu para 2.465 na quinta-feira. Cientistas estudaram amostras de vírus do surto – encontradas principalmente concentradas em Gauteng, a província mais populosa do país e lar de Joanesburgo – e descobriram a nova variante que a OMS batizou de Ômicron, na sexta-feira.

“Aqui está uma variante mutada que causa séria preocupação”, declarou o ministro da Saúde, Joe Phaahla, em uma entrevista coletiva na quinta-feira. Phaahla afirma que a última variante está por trás do “aumento exponencial” de casos, mas os especialistas ainda estão tentando confirmar a afirmação, pois estabelecer uma conexão real leva tempo.

Atualmente, não há indícios de que a variante tenha chegado aos Estados Unidos. A maioria dos casos ainda estão concentrados na África do Sul, com outros sendo relatados em Botswana, Israel e Hong Kong, onde a infecção foi identificada em viajantes vindos da África do Sul. A Bélgica relatou seu primeiro caso da variante na sexta-feira.

Muitas mutações

O cientista sul-africano, Tulio de Oliveira, relatou na quinta-feira à mídia, que a variante Ômicron foi descoberta possuindo uma “constelação única” de mais de 30 mutações em suas proteínas, que é significativamente maior do que a variante Delta. Como as proteínas spike se ligam às células infectadas, um grande número de mutações pode afetar a facilidade com que a variante se espalha pela população.

A variante, anteriormente conhecida como B.1.1.529, contém um total de 50 mutações. Possui 10 mutações no receptor ACE2, o que permite ao vírus infectar células humanas, comparada a três da variante Beta e duas da Delta, segundo Oliveira.

A chefe da UK COVID-19 Genomics Consortium, a professora Sharon Peacock, relatou à Reuters que “esta é uma variante mais transmissível”, mas “um número significativo de mutações detectadas é realmente desconhecido”. Ela acrescentou que estudos estão sendo realizados rapidamente na África do Sul, mas levarão várias semanas para serem concluídos.

Lawrence Young, um virologista da Universidade de Warwick, declarou à AP que a variante “parece estar se espalhando rapidamente”, embora atualmente seja encontrada apenas em partes da África do Sul.

De acordo com o Prof. Richard Lessells, da Universidade de KwaZulu-Natal, na África do Sul, a última variante carrega semelhanças com as variantes Beta e Lambda, por ser suscetível a fugir da imunidade.

“Todas essas coisas são o que nos causa a preocupação de que essa variante possa não apenas ter melhorado a transmissibilidade – então, se espalhado de forma mais eficiente – mas também ser capaz de contornar partes do sistema imunológico e a proteção que temos em nosso sistema imunológico”, afirmou Lessells.

Os casos infectados foram encontrados principalmente em jovens. De acordo com Phaahla, apenas cerca de 25% na faixa etária de 18 a 34 anos estão vacinados no país.

Semelhante à variante Alfa, a última iteração pode ter se originado em um único indivíduo imunocomprometido, o qual poderia ter modificado geneticamente o vírus quando seu corpo não conseguiu se livrar dele a tempo.

Restrições de viagens

Autoridades americanas, sob a orientação do Dr. Anthony Fauci, estão em negociações com seus colegas sul-africanos para avaliar a gravidade da situação e descobrir mais detalhes sobre a variante. Ainda não está claro se os Estados Unidos irão impor restrições à viagens.

Mesmo que restrições sejam impostas, os vírus têm uma maneira de se espalhar e é apenas uma questão de tempo antes que cheguem às costas do país, afirmou o Dr. Michael Osterholm, especialista em doenças infecciosas da Universidade de Minnesota, à Associated Press.

“Foi repetidamente demonstrado que, se a variante aparecer em qualquer lugar do mundo, você pode muito bem ter certeza de que ela estará em qualquer lugar do mundo”, de acordo com Osterholm.

Viajantes da África do Sul, Botswana, Namíbia, Zimbábue, Lesoto e Essuatíni (antiga Suazilândia) precisam se isolar por 10 dias quando chegam ao Reino Unido. A União Europeia está considerando proibir todos os voos do sul da África.

A Índia ordenou testes e triagens detalhadas de pessoas vindas da África do Sul, Botswana e Hong Kong. O Japão também restringiu viagens de países da África Meridional.

A Organização Mundial da Saúde convocou uma reunião de especialistas para descobrir a gravidade do surto.

“Não sabemos muito sobre isso, ainda. O que sabemos é que essa variante tem um grande número de mutações, e a preocupação é que quando você tem tantas mutações, isso pode ter um impacto no comportamento do vírus”, afirmou Maria Van Kerkhove, líder técnica da OMS quanto a COVID-19, em um bate-papo nas redes sociais na quinta-feira, à ABC News .

Como existem apenas menos de 100 sequências completas do genoma da variante, os efeitos das vacinas existentes não podem ser determinados. “Levará algumas semanas para entendermos o impacto que essa variante tem em quaisquer vacinas em potencial”, afirmou Van Kerkhove.

Entre para nosso canal do Telegram

Assista também: