Nova postura da UE enfrenta resistência chinesa em cúpula anual

Depois de anos oferecendo livre acesso a seus mercados, a UE está perdendo a paciência com o ritmo lento da liberalização do mercado de Pequim

09/04/2019 22:36 Atualizado: 10/04/2019 00:42

Por Reuters

BRUXELAS – O primeiro-ministro da China, Li Keqiang, e líderes de instituições da União Europeia se reuniram em Bruxelas, em 9 de abril, para a cúpula anual UE-China que a UE aproveitou para pressionar Pequim sobre o comércio e investimentos.

Depois de anos oferecendo livre acesso a seus mercados, a UE está perdendo a paciência com o ritmo lento da liberalização do mercado de Pequim. Também está crescendo a preocupação com o domínio das empresas chinesas controladas pelo Estado de alguns mercados da UE e aquisições de indústrias estratégicas.

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, disse que a cúpula “não seria simples”.

“Vamos explicar que na Europa estamos insistindo que as empresas européias na China devem ter os mesmos direitos que as empresas chinesas na Europa”, disse ele em um discurso antes da reunião.

Li chegou em um Mercedes preto com duas bandeiras chinesas antes de entrar no prédio do Conselho Europeu com Juncker e o chefe do conselho Donald Tusk.

A nova posição assertiva da UE dificultou a aprovação de uma declaração final da cúpula, um marco de tais reuniões de alto nível, que este ano a UE vê como forma de estabelecer por escrito promessas chinesas de se abrir para investidores europeus.

Negociadores da UE e da China concordaram com um projeto preliminar, na terça-feira pela manhã, disseram quatro diplomatas da UE. Mas qualquer comunicado final precisa ser assinado por Li, Juncker e Tusk.

Diplomatas disseram que um novo esboço inclui novos compromissos de Pequim para acelerar as conversações sobre um esforço de uma década para alcançar um pacto de investimento, bem como textos sobre subsídios industriais e abertura do mercado da China para empresas europeias.

Como os Estados Unidos, muitos países da UE querem reprimir os subsídios industriais e forçar as transferências de tecnologia. Um novo plano da Comissão descreveu a China como um “rival sistêmico” pela primeira vez, no mês passado.

“A velha narrativa é absolutamente obsoleta”, disse à Reuters o vice-presidente da Comissão, Jyrki Katainen.

Principais parceiros comerciais

Um diplomata disse que uma cúpula de líderes da UE, em março, ajudou a forjar uma posição europeia mais unificada que estava dando resultado: havia uma maior consciência da política da China de promover o livre comércio somente quando isso atendesse aos seus interesses.

A UE é o principal parceiro comercial da China e a China é o segundo maior mercado para as exportações da UE depois dos Estados Unidos. O regime chinês nega a tentativa de dominar as indústrias européias estratégicas e afirmou repetidamente que quer uma relação de benefício mútuo.

Mas Pequim está lutando para aliviar as preocupações sobre a iniciativa “Um Cinturão, Uma Rota” (OBOR, também conhecida como Belt and Road), do líder chinês Xi Jinping, enquanto se prepara para uma cúpula importante no final deste mês.

Espera-se que Tusk e Juncker levantem preocupações sobre a iniciativa de Xi, ou seja, que o vasto plano de infraestrutura é insustentável, prejudicial ao meio ambiente, cria dependência financeira e é principalmente sobre projetar o poder da China no exterior.

A China aponta para uma nova lei de investimentos estrangeiros que deve entrar em vigor no início de 2020. Ela inclui dispositivos para proibir transferências forçadas de tecnologia e garantir que empresas estrangeiras tenham acesso a licitações públicas.

Autoridades da UE dizem que a lei carece de detalhes e questionam a eficácia que terá na proteção de empresas estrangeiras.

Por Philip Blenkinsop e Robin Emmott