A líder da oposição venezuelana, ex-deputada María Corina Machado, afirmou nesta segunda-feira (10) que a comunidade internacional, em particular todos os governos europeus, podem fazer “muito mais” em favor da democracia na Venezuela. As eleições presidenciais no país estão marcadas para o próximo 28 de julho.
Os dois favoritos são o atual ocupante Nicolás Maduro, que tenta o seu quinto mandato consecutivo, e o ex-embaixador da Venezuela na Argentina, Edmundo González Urrutia – que só será o candidato da oposição porque Machado foi impedida judicialmente de disputar.
Há uma forte preocupação por parte de órgãos internacionais de que haja fraude e irregularidades generalizadas no processo eleitoral. A prova disso é o acordo firmado entre a situação e a oposição, mediado por outros países, e que vem sendo descumprido por Maduro.
Convidada pela Comissão de Assuntos Ibero-Americanos do Parlamento espanhol, Machado cobrou maior pressão europeia para que seja aumentada a fiscalização do que chamou de “elemento cívico mais importante da história contemporânea da Venezuela”. Em discurso por teleconferência, a líder oposicionista sustentou que Maduro “tem de saber que existe monitorização e vigilância internacional” do processo eleitoral.
Essas falas da ex-parlamentar se referem a mais uma arbitrariedade da ditadura venezuelana: ter revogado, em maio deste ano, o convite feito à União Europeia (UE) para que enviasse observadores eleitorais no momento da votação.
O anúncio da revogação foi feito por Elvis Amoroso, chefe do Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Na televisão estatal, Amoroso esbravejou que os observadores europeus “não são pessoas dignas de vir a este país [Venezuela]”.
A atitude foi mais uma das reiteradas violações por parte de Maduro ao acordo firmado com a oposição em Barbados, em outubro de 2023, sobre as eleições de julho deste ano. O acerto havia sido mediado pela Noruega e contou com a presença de representantes do Brasil, Holanda, México, Colômbia, Rússia e Estados Unidos.
Oposição teve candidaturas barradas por Maduro
Em junho de 2023, Machado foi proibida de concorrer e exercer cargos públicos por 15 anos, sob a alegação de que não teria incluído o pagamento de abono alimentar em sua declaração de bens. Na época, ela afirmou que essa desqualificação, por parte da Corregedoria-Geral, foi ilegal.
Ainda assim, em outubro do mesmo ano, decidiu concorrer às eleições primárias da Plataforma Unitária Democrática (PUD), que reúne os principais partidos de oposição na Venezuela. Teve a vitória esmagadora de 92,35% dos votos.
Diante do resultado quase unânime, a ex-congressista recorreu dois meses depois ao Supremo Tribunal de Justiça do país, para revisar a sua proibição. Ao sair da Corte, María Corina Machado afirmou a jornalistas que “havia dado um passo inequívoco para a derrota de Maduro em 2024”.
“Estamos em meio a uma negociação nacional e internacional muito complexa e difícil, para levar adiante eleições presidenciais limpas e livres no ano de 2024, nas quais vamos derrotar Nicolás Maduro. Não daremos uma só desculpa a este regime para que saia da rota eleitoral. Vamos até o fim. A bola está agora no campo do regime, agora é a sua vez de obedecer às regras”, se esperançou Machado.
Na época, a resiliência da líder foi elogiada pela embaixada dos Estados Unidos na Venezuela.
Mesmo assim, o registro da candidatura não lhe foi permitido. Ela então tentou, em março deste ano, inscrever a professora e filósofa, Corina Yoris Villasana, como sua substituta.
“Encontramos uma pessoa de minha total confiança, honrável, que vai fazer esse trâmite com o apoio e a confiança de todos, porque isso foi uma decisão que surgiu do seio da discussão das forças unitárias”, anunciou na época a ex-deputada, em coletiva de imprensa.
Mas Yoris também não foi aceita, pois foi impedida de se registrar. Segundo um dos chefes da coalizão oposicionista, Omar Barboza, ocorreram restrições no sistema online do Conselho Nacional Eleitoral. No dia 26 de março, a frente de oposição havia feito todas as tentativas, mas o sistema estava totalmente fechado.
“Tentamos ir pessoalmente ao Conselho Nacional Eleitoral para entregar uma carta solicitando uma prorrogação e nem mesmo fisicamente pudemos fazê-lo”, denunciou Machado.
Em abril, foi aceito o nome do diplomata e analista político Edmundo González Urrutia. Aprovado pela coalizão da oposição Plataforma Unitária Democrática (PUD), ele recebe o apoio de Maria Corina Machado contra Maduro.
Em 28 de janeiro, a Organização de Estados Americanos (OEA) condenou a decisão que impediu a candidatura de Machado, juntamente com as de outros nomes. A OEA afirmou se tratar de uma “lógica ditatorial de perseguição política”, que não é restrita apenas aos políticos de oposição: também se estende ao povo venezuelano.
Líder oposicionista denunciou tirania na Venezuela
Machado aproveitou a oportunidade em seu discurso no Parlamento da Espanha para denunciar o estado de miséria, violência e tirania presentes em seu país, bem como as incontáveis denúncias de tortura e maus-tratos da ditadura de Maduro, que se estende por quase 12 anos.
A líder mencionou aos espanhóis as inúmeras violações de direitos humanos existentes em seu país, como por exemplo a perseguição de opositores pela Guarda Nacional Bolivariana (GNB) – a polícia política de Maduro.
Segundo denúncias, muitos são presos políticos mantidos em condições desumanas, humilhantes e degradantes.
Machado ainda tem esperança em concorrer
Há menos de dois meses para as eleições, Machado ainda acredita que as arbitrariedades contra vários líderes oposicionistas possa ser revertida através da pressão internacional. Ela se declarou “convencida de que a melhor opção para todos, incluindo Nicolás Maduro, é encetar uma negociação séria, que possa dar salvo-condutos institucionais e garantias a todos os intervenientes”.
Machado – que tem 56 anos, é engenheira industrial e mãe de três filhos – insiste para que os governos europeus pressionem a ditadura a reconsiderar a decisão sobre a presença da UE nas eleições, dada a grande reputação das missões de observação europeias. A lei venezuelana permite substituição do candidato inscrito até 10 dias antes das eleições – o que precisaria acontecer até o próximo 18 de julho, portanto.
Segundo a líder, o resultado do processo eleitoral terá um impacto não só na Venezuela e nas suas próximas gerações, mas em todo o Ocidente. Vários membros da oposição residentes na Espanha participaram na comissão e posteriormente reuniram-se com o presidente do Senado espanhol, o conservador Pedro Rollán.