Por André Assi Barreto, Senso Incomum
O Brexit, saída do Reino Unido da União Europeia, já consiste, sem dúvida alguma, na questão política mais importante e urgente das últimas décadas no Reino Unido.
O parlamento, majoritariamente a favor da manutenção do país no bloco, e a primeira-ministra Theresa May, arrastaram a ilha para um impasse sem fim. O prazo para saída do país era até 29 de março. May pediu uma extensão e ficou para sexta-feira, 12 de abril. Mas pleiteia nova extensão, agora mais longa – até junho ou setembro. Com um único voto de diferença, o Parlamento Britânico descartou o chamado “no-deal”, uma saída do país da UE sem um acordo que estabeleça as regras da saída (como ficarão cidadãos europeus que vivem no Reino Unido, importação de produtos, a fronteira entre Irlanda do Norte e Irlanda etc.). De maneira que ou o parlamento entra em acordo a respeito de algum acordo (May abriu as portas para o líder da oposição, Jeremy Corbyn e suas propostas, que incluem a bizarra permanência na união aduaneira), ou o impasse se prolongará.
Vale como destaque inicial que, se o formato eleitoral do Reino Unido fosse por “colégios eleitorais”, a margem de preferência pelo Brexit no país seria ainda maior, o que aumentaria ainda mais o abismo entre a vontade das pessoas e a vontade dos parlamentares, além de diminuir a narrativa de “país cindido” pela questão:
É nessa toada que o soberanista e atual membro do parlamento europeu (torturador de globalistas em seus vários discursos), figura proeminente do euroceticismo britânico e ex-líder do Ukip (United Kingdom Independence Party) fundou o “Brexit Party”, no qual disputará as próximas eleições europeias (previstas para maio) na condição de líder do partido e acompanhado por outros nomes, inclusive ex-filiados ao Partido Conservador, descontentes com os rumos da sigla sob a liderança de May.
Considerando a sensação de traição e sabotagem do Brexit, a probabilidade do novo partido de Farage ser um sucesso eleitoral é bastante considerável. Embora o sentimento de batalha e a energia na disputa para o parlamento europeu sejam positivas, a postura de seu líder e dos novos adeptos é um indicativo definitivo que eles não acreditam que o Brexit ocorrerá antes das eleições, ou seja, o impasse se arrastará com certeza, e no mínimo, até maio.
Para quem ainda não conhece Farage, alguns fatos relevantes:
• Farage foi empresário por muitos anos e costuma expor a classe política carreirista por se vender como administradores públicos sem nunca terem trabalhado ou gerado um emprego sequer em suas vidas:
• Farage foi membro do Partido Conservador no passado, mas fundou o Ukip (cuja principal bandeira sempre foi a saída do Reino Unido da União Europeia) em 1993 e esta tem sido a batalha de sua vida desde então.
• Farage também faz parte do time de políticos soberanistas, carismáticos e “de carne e osso”, por oposição (em pensamento e comportamento) às classes políticas estabelecidas, robóticas e insinceras. A autenticidade é uma de suas marcas, o que provavelmente contribuiu bastante para o cultivo de sua relação com o presidente dos EUA, Donald Trump:
• No mesmo espírito de Winston Churchill, Farage é um patriota apreciador de bons charutos e boas cervejas (com a ressalva de que, ao contrário da época de Churchill, estamos na era do politicamente correto):
Em manifestação de lançamento de seu novo partido, Farage entoou a canção “Rule, Britannia!”:
Rule, Britannia!
Posted by Nigel Farage on Sunday, April 7, 2019
“Rule, Britannia!” é uma famosa canção patriótica, originária do poema “Rule, Britannia” de James Thomson e transformada em música por Thomas Arne em 1740. Costuma ser associada à Marinha Britânica, mas também às Forças Armadas Reais como um todo.
Embora a batalha pelo Brexit já devesse estar encerrada, contar com Nigel Farage para engrossar o coro dos defensores do resultado eleitoral do referendo de junho de 2016 é um grande privilégio para os eleitores que desejavam e desejam se livrar das amarras burocráticas da União Europeia.
André Assi Barreto é professor de Filosofia e História das redes pública e privada de São Paulo. Aluno do professor Olavo de Carvalho. Mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo. Também trabalha com revisão, tradução e palestras. Autor de “Saul Alinsky e a Anatomia do Mal” (ed. Armada, 2019)
O conteúdo desta matéria é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Epoch Times