A crise que a Nicarágua vive desde abril de 2018 provocou o maior êxodo de sua história, com 605.043 pessoas deslocadas desde aquele ano, ainda mais do que na década de 1980, quando o país viveu uma guerra civil que deixou dezenas de milhares de mortos, segundo um relatório publicado nesta terça-feira por uma ONG local.
O relatório “Situação dos nicaraguenses deslocados à força”, elaborado pelo Coletivo de Direitos Humanos Nicarágua Nunca Mais, indica que pelo menos 605.043 nicaraguenses deixaram o país nos últimos 62 meses, 9% da população total, devido à repressão estatal contra opositores, religiosos e críticos do regime de Daniel Ortega.
“Até a data de fechamento desta atualização, 605.043 nicaraguenses tiveram que deixar suas casas devido à crise sociopolítica que a Nicarágua vem enfrentando desde 2018 e como resultado da violência política”, informou essa ONG, formada por ativistas nicaraguenses exilados.
EUA é o principal destino dos exilados
A população nicaraguense continua a ser “deslocada à força em busca de segurança” e escolhe os Estados Unidos como seu principal destino, de acordo com o estudo.
Nos EUA, desde abril de 2018, ao menos 344 mil nicaraguenses foram interceptados na fronteira sul do país, de acordo com o Serviço de Alfândegas e Proteção de Fronteiras dos EUA (CBP).
“Somente nos EUA, houve um aumento exponencial desde 2018 como resultado da repressão imparável do governo nicaraguense”, afirmou o coletivo.
Em 2018, 3.337 pessoas deixaram a Nicarágua em direção aos EUA; Em 2019 foram 13.373; em 2020, 3.169; em 2021, 50.722; 164.600 em 2022; e 108.968 em 2023 até maio, acrescentou o coletivo.
Nos EUA, de acordo com a ONG, os nicaraguenses que pediram asilo político enfrentam vários desafios no processo, já que as políticas de imigração “se tornaram mais restritivas nos últimos anos”.
“Em toda a história dos EUA, os pedidos de asilo são geralmente complexos, e a negação de pedidos é comum. Aqueles que não conseguem obter asilo podem enfrentar a possibilidade de deportação e a incerteza de retornar a um país onde sua segurança pode estar em risco”, alertou o coletivo.
Costa Rica, México e Espanha
Costa Rica, México e Espanha são, nessa ordem, depois dos EUA, os principais destinos dos nicaraguenses que buscam alguma forma de proteção internacional.
A Costa Rica, que foi o principal destino dos exilados até 2021, recebendo 209.344 nicaraguenses desde o início da crise em abril de 2018.
O México, com 17.047, e a Espanha, com 15.470, são o terceiro e o quarto maiores destinos dos nicaraguenses que fogem do governo sandinista, que está no poder desde janeiro de 2007.
“Se a curva de crescimento da migração permanecer como está, em dezembro de 2023, é provável que 341.359 (nicaraguenses) saiam. Isso significaria que, entre 2018 e 2023, pelo menos 804 mil nicaraguenses terão ido para o exílio, 11,7% da população total”, projetou a ONG.
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