O presidente da Conferência Episcopal da Nicarágua (CEN), bispo Carlos Enrique Herrera, foi expulso do país depois de denunciar o sacrilégio do prefeito sandinista do município de Jinotega, Leónidas Centeno, em uma missa, segundo relatos de um padre e de um investigador que monitora casos como esse.
O padre nicaraguense exilado, Erick Díaz, disso a jornalistas que Herrera, de 75 anos, foi enviado à Guatemala por ordem do governo de Daniel Ortega e sua esposa e vice-presidente.
“Trata-se de uma conspiração entre o comissário Horacio Rocha, o paramilitar e prefeito Leônidas Centeno e o padre Rafael Ríos. Os três estavam sempre atrás da cabeça do bispo Herrera”, disse a pesquisadora nicaraguense exilada Martha Patricia Molina, autora do estudo “Nicarágua: Uma Igreja perseguida?”
De acordo com os denunciantes, as autoridades forçaram o bispo Herrera a ir para o aeroporto internacional de Manágua ontem e, de lá, “o baniram para a Guatemala”, onde foi recebido na Casa Provincial dos Frades Franciscanos, a ordem religiosa à qual pertence.
Herrera tornou-se o terceiro bispo a ser expulso da Nicarágua no último ano. Os outros dois são Rolando Álvarez, da diocese de Matagalpa, e Isidoro Mora, da diocese de Siuna.
Denúncia de sacrilégio
Herrera foi expulso depois de criticar o barulho de uma atividade da prefeitura de Jinotega, em 10 de novembro, durante a Eucaristia, que o impediu de ministrar e ouvir a cerimônia.
“Peçamos perdão ao Senhor por nossas faltas e também por aqueles que não respeitam o culto, pedindo-lhe porque este é um sacrilégio que o prefeito (Centeno) e todas as autoridades municipais estão cometendo (…) Eles sabem a hora da missa”, declarou o religioso.
Herrera foi nomeado presidente da CEN para o período 2021-2024, durante a assembleia anual realizada pelos bispos em novembro de 2021.
Ele também foi presidente da pastoral social da Igreja Católica, Caritas Nicarágua, entidade proibida pelas autoridades nicaraguenses, e a partir dessa posição denunciou o bloqueio alfandegário que o governo Ortega impôs à pastoral desde 2019, impedindo o recebimento de doações do exterior.
Ele também foi um dos bispos que disse que não havia garantias de transparência nas eleições de 7 de novembro de 2021, que Ortega venceu enquanto seus principais oponentes políticos estavam exilados ou na prisão.
Ong: Igreja sofre a pior repressão
De acordo com a ONG Coletivo Nicarágua Nunca Mais, a Igreja Católica na Nicarágua está sofrendo a pior repressão de sua história sob o governo sandinista.
“Na Nicarágua não há igual aos níveis de repressão contra a Igreja Católica, assim como contra os evangélicos e outras expressões religiosas”, disse a ONG no relatório intitulado “Seis anos de repressão à liberdade religiosa na Nicarágua, cronologia de abusos e violações de direitos humanos contra membros das Igrejas (2018-2024)”.
De acordo com a ONG, o governo de Ortega deteve 74 religiosos – a maioria padres – e libertou e exilou 63 deles, e pelo menos 35 foram destituídos de sua nacionalidade.
As relações entre o governo Ortega e a Igreja Católica têm sido tensas, caracterizadas pela expulsão, prisão e desnacionalização de bispos e padres, a proibição de atividades religiosas e a suspensão das relações diplomáticas com o Vaticano.