O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, deixou claro nesta sexta-feira (27), ao discursar na Assembleia Geral da ONU, que não pensa em aceitar um cessar-fogo na Faixa de Gaza ou no Líbano, mas estendeu a mão à Arábia Saudita para um eventual acordo de paz e reconhecimento mútuo.
Netanyahu disse que não pretendia participar da semana de alto nível da ONU, mas decidiu fazê-lo “depois de ouvir todas as mentiras e calúnias dirigidas contra o país deste mesmo pódio, para esclarecer as coisas”, em referência a todos os pedidos de dezenas de países nos últimos dias para um cessar-fogo.
Netanyahu, que falou por 35 minutos, trouxe consigo de Israel parentes dos reféns que estavam ou estão em poder do grupo terrorista Hamas desde 7 de outubro, que o saudaram com uma longa ovação de pé da tribuna quando ele entrou no salão e o aplaudiram em várias ocasiões.
Grande parte do discurso foi dedicada a alertar sobre a ameaça que o Irã representa para o seu país e para o mundo, e apresentou – assim como fez no ano passado – um “mapa amaldiçoado” em que o Irã e seus aliados Síria, Iêmen e Líbano trazem guerra para uma região e, assim, frustram o que poderia ser um “mapa abençoado” em que um mundo árabe em paz com Israel seria a ponte perfeita entre Europa e Ásia.
Levantando a voz em várias ocasiões, ele disse: “Tenho uma mensagem para os tiranos de Teerã: se vocês nos atacarem, nós os atacaremos. Não há lugar no Irã que o longo braço de Israel não possa alcançar, e isso vale para todo o Oriente Médio”.
Segundo ele, Israel não se contenta em ser “o carneiro que vai para o matadouro, os soldados de Israel reagiram com incrível coragem e sacrifício heroico”.
“E tenho outra mensagem para a Assembleia e para o mundo lá fora: Estamos vencendo”, exclamou.
Embora tenha se referido aos ataques terroristas do Hamas, ele procurou enviar uma mensagem conciliatória à Arábia Saudita, a qual convidou a participar de um acordo de paz mútuo que supostamente traria uma era de prosperidade para a região.
“Que bênçãos a paz com a Arábia Saudita poderia trazer. Tal paz seria um marco histórico, traria a reconciliação entre árabes e Israel, islã e judaísmo, Meca e Jerusalém”, disse o premiê, detalhando que os frutos de tal acordo se refletiriam imediatamente na economia, na segurança, no turismo, na agricultura, na água e até mesmo na inteligência artificial.
Essa possível aliança, à qual já se juntaram os países dos chamados “Acordos de Abraão” – Emirados Árabes, Marrocos, Bahrein – e anteriormente Egito e Jordânia, todos signatários de tratados que reconhecem Israel, tem, segundo Netanyahu, um inimigo principal: o Irã, que, por meio de suas “delegações” na Síria, no Iêmen e no Líbano, se opõe a qualquer reconciliação.
Uma tese israelense frequentemente repetida é a de que não existe um “problema palestino”, com o argumento de trata-se de um povo árabe que poderia encontrar um lar em qualquer outro país árabe, uma ideia ou plano que o rei Abdullah II da Jordânia já descartou completamente em seu recente discurso na Assembleia Geral.
Na última terça-feira, o monarca jordaniano disse com veemência: “Há extremistas que estão arrastando a nossa região para a beira de uma guerra total, e isso inclui aqueles que continuam a propagar a ideia da Jordânia como uma pátria alternativa. Bem, vou ser muito, muito claro: isso nunca acontecerá, nunca aceitaremos o deslocamento forçado dos palestinos”, frisou.