Mugabe renuncia presidência do Zimbábue após quatro décadas no poder

21/11/2017 21:28 Atualizado: 21/11/2017 21:28

Robert Mugabe renunciou como presidente do Zimbábue na terça-feira, uma semana depois que o exército e seus ex-aliados políticos se mobilizaram contra ele, terminando quatro décadas de governo de um homem que se transformou de herói da independência num arquetípico homem forte africano.

Com 93 anos, Mugabe resistiu durante uma semana após o exército assumir o controle e expulsá-lo de seu próprio partido ZANU-PF, mas ele renunciou pouco depois que o parlamento deu início a um processo de impeachment, visto como a única maneira legal de destituí-lo.

Grandes celebrações emergiram numa sessão conjunta do parlamento quando Jacob Mudenda, o presidente do parlamento, anunciou a demissão de Mugabe e suspendeu o processo de impeachment.

Muitos dançaram e buzinas de carros soaram pelas ruas de Harare em reação à notícia de que a era de Mugabe, que liderou o Zimbábue desde a independência em 1980, finalmente terminou.

Alguns exibiram cartazes do chefe do exército do país, o general Constantino Chiwenga, e do ex-vice-presidente Emmerson Mnangagwa, cuja destituição nesse mês desencadeou a mobilização militar que forçou Mugabe a renunciar.

Mugabe é o único líder que o Zimbábue conheceu desde que uma luta de guerrilha acabou com o domínio da minoria branca na antiga Rodésia.

Durante seu reinado, Mugabe conduziu um país outrora rico para a ruína econômica e manteve seu poder por meio da repressão de oponentes, embora ele se considere o Grande Homem da Política Africana e ainda tenha a admiração de muitas pessoas em toda a África.

O exército tomou o poder depois que Mugabe demitiu Mnangagwa, o favorito do ZANU-PF para sucedê-lo, visando abrir o caminho da presidência para sua esposa Grace, de 52 anos, conhecida por seus críticos como “Gucci Grace” por seu gosto por marcas de luxo e fazer maratonas de compras.

Mas Mugabe se recusou a renunciar, levando ao processo de impeachment que teria sido a única maneira legal de forçá-lo a sair.

Mnangagwa, cujo paradeiro é desconhecido depois de fugiu do país temendo por sua segurança, deve assumir o cargo de presidente.

Um ex-chefe de segurança conhecido como “O Crocodilo”, Mnangagwa foi um comandado fiel e fundamental para Mugabe durante décadas e é acusado de participar da repressão contra os zimbabuenses que desafiaram o líder.

A Reuters informou em setembro que Mnangagwa conspirava para suceder Mugabe com apoio do exército e sob o comando de uma ampla coalizão. O plano postulava um governo de unidade provisório com bênção internacional para permitir o reengajamento do Zimbábue com o mundo após décadas de isolamento de credores e doadores globais.

Mugabe liderou a guerra de libertação do Zimbábue e é saudado como um dos fundadores da África pós-colonial e um fervoroso defensor da iniciativa para libertar a vizinha África do Sul do apartheid em 1994.

Mas muitos dizem que ele danificou a economia, a democracia e o judiciário do Zimbábue ao permanecer no poder por tanto tempo e usou a violência para esmagar potenciais adversários políticos. O país enfrenta uma crise de pagamentos cambiais e uma inflação significantes.

Desde que a crise começou, Mugabe confinou-se principalmente em sua mansão na capital, onde sua esposa Grace também estaria.