Morre Ruslan Khasbulatov, de ex-presidente do Soviete Supremo a opositor das invasões russas

Por renato pernambucano e agência efe
04/01/2023 17:34 Atualizado: 04/01/2023 17:54

Ruslan Khasbulatov, o último presidente do Soviete Supremo, morreu nesta terça-feira (03) em sua casa na região de Moscou aos 80 anos, segundo informou a televisão pública russa.

“Ruslan Khasbulatov, o último chefe do Soviete Supremo da República Socialista Federativa Soviética da Rússia, morreu em sua casa de campo na região de Moscou”, noticiou a emissora “Rossiya 24”.

Segundo a emissora, a notícia foi confirmada pelos parentes de Khasbulatov e seu funeral será realizado amanhã em sua terra natal, a Chechênia.

O político ocupou o cargo de chefe do Parlamento russo entre 29 de outubro de 1991 e 4 de outubro de 1993.

Desta forma, o ex-aliado do primeiro presidente russo, Boris Yeltsin, e mais tarde seu ferrenho opositor, foi o último presidente do Legislativo russo quando ainda existia a União Soviética e o primeiro a chefiar o Soviete Supremo após a desintegração da bloco.

Entrevista com Khasbulatov revela semelhanças entre a Ucrânia e a Chechênia

Em junho de 2003, foi publicada uma entrevista pela Radio Free Europe e Radio Liberty com Ruslan Khasbulatov, que foi palestrante nas comemorações no aniversário de 500 anos da Liberty, em Praga, sede da instituição.

O ex-presidente do Soviete Supremo da Rússia participou ativamente das disputas de poder, chegando a ser preso quando confrontou as ordens do então presidente, Boris Yeltsin.

Um crítico ferrenho da política russa para sua nação de origem, Khasbulatov tentou ajudar a Chechênia com a promoção de soluções pacíficas para a guerra que assolava seu país.

Quando a Rússia aprovou uma resolução que anistiava tanto os chechenos quanto os russos que lutavam na Chechênia, ele ressaltou que o objetivo principal da anistia era evitar uma investigação contra as tropas russas, culpadas de violações de direitos humanos contra a população civil chechena desde 1993.

Ele pontuou:  “A meu ver, esta anistia tem dois objetivos principais. O primeiro objetivo é evitar que as tropas federais possam ser investigadas, digamos, por um tribunal penal internacional que os defensores dizem que deveria ser semelhante ao que existe para a ex-Iugoslávia. Eu sei – e é bastante óbvio – que o corpo de oficiais russos teme qualquer desenvolvimento desse tipo.”

Ao ser questionado sobre as estratégias da Rússia para manter a Chechênia como parte da Federação Russa, na época um referendo para uma constituição e a convocação de eleições presidenciais, ele afirmou: “Claro que faz parte de uma estratégia, que aparentemente está sendo implementada com muita facilidade. Eles organizaram um referendo e enganaram o povo por meio de cédulas e outros esquemas de manipulação de votos. Tudo correu muito bem. Da mesma forma, eles vão escolher um homem sem cérebro e declará-lo presidente. Tudo isso, é claro, faz parte dessa ideia geral de que, apesar [do que testemunhamos todos os dias], a Chechênia pode ser subjugada pela força – por meio da vitória militar não sobre os combatentes, mas sobre o povo [checheno]. Tudo faz parte de um plano geral para quebrar a vontade do povo, privá-lo de seu elemento produtivo, aniquilar seu espírito e os valores morais e culturais que carrega. Tudo isso faz parte dessa estratégia geral. Não tem absolutamente nada a ver com os valores humanitários do mundo moderno.”

Diante das especulações sobre o objetivo do Kremlin de conseguir a maior quantidade possível de poderes através de uma administração chechena pró-Rússia, Khasbulatov foi incisivo: “O Kremlin passou muitos anos pressionando os chechenos a lutarem entre si e está fazendo todo o possível para que isso aconteça. Pode-se até dizer que eles foram bem-sucedidos, até certo ponto.”

Na atual invasão protagonizada pela Rússia, desta vez com a Ucrânia como vítima, o líder da Chechénia, Ramzan Kadyrov, confirmou a participação das tropas do seu país na guerra em apoio a Moscou. Kadyrov é um aliado declarado de Vladimir Putin, responsável pela invasão e líder da Federação Russa.

Apesar do atual líder checheno ter se posicionado como aliado da Rússia, a Ucrânia conta com centenas de combatentes voluntários chechenos em suas fileiras, com o batalhão Dzhokhar Dudayev sendo um destaque. Apesar da dificuldade de mensurar os números, o fato é que muitos chechenos lutam contra a ameaça que a Rússia representa para suas liberdades e seus territórios.

A divisão de lados da Chechênia, assim como os desdobramentos da invasão russa à Ucrânia, ressaltam como a região pode ser consumida por um conflito maior e mais duradouro devido as incursões expansionistas da Rússia.

A entrevista completa, em inglês, pode ser conferida no link: https://www.rferl.org/a/1103479.html

 

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