O presidente da Argentina, Javier Milei, tentará inspecionar a base espacial que a China instalou na província de Neuquén e à qual os Estados Unidos se opõem por supostos objetivos militares.
A estação espacial chinesa, que opera desde outubro de 2017 em virtude de um primeiro acordo bilateral assinado em 2012, durante o governo da peronista Cristina Kirchner, voltou ao centro das atenções nesta semana, por ocasião da visita que a general do Comando Sul dos EUA, Laura Richardson, está fazendo à Argentina.
“Estão começando as negociações para auditar e inspecionar isso, porque os chineses dizem que não é o caso (em relação aos supostos fins militares). A situação será estudada”, declarou Milei em entrevista à Bloomberg News na noite de quinta-feira.
O porta-voz da presidência, Manuel Adorni, disse que o governo está analisando o acordo que permitiu a instalação da base e, se necessário, a inspeção correspondente será avaliada.
Adorni afirmou que a Argentina não tem nenhuma preocupação porque, em princípio, não há nenhum conhecimento de que haja objetivos militares na base, mas sim atividades científicas.
Localizada em Quintuco (a 1.150 quilômetros a sudoeste de Buenos Aires) e projetada para se conectar com missões espaciais, a estação é um projeto da Agência Nacional Chinesa de Lançamento, Rastreamento e Controle Geral de Satélites (CLTC) e da Comissão Nacional de Atividades Espaciais da Argentina (Conae).
Com base em um acordo assinado em 2012 entre essas agências e a província de Neuquén, a construção da base teve início em 2013, a montagem da antena começou em abril de 2015 e a estação entrou em operação em 2017.
Embora tenha havido sucessivas críticas à instalação dessa base, o assunto voltou à tona nos últimos dias, no contexto da visita de Richardson, que no início de março do ano passado, ao falar ao Comitê de Serviços Armados da Câmara dos Representantes dos EUA, declarou que a China busca “ganhar influência e avançar sua agenda maligna” na América Latina.
Pouco tempo depois, o embaixador dos EUA em Buenos Aires, Marc Stanley, expressou preocupação com a base chinesa e disse estar “surpreso com o fato de a Argentina permitir que os militares chineses operem em Neuquén, em segredo, fazendo sabe-se lá o quê”.
Sem mencionar publicamente a espinhosa questão da base chinesa, na noite de quinta-feira, na cidade de Ushuaia, no sul do país, porta de entrada estratégica para a Antártida, Milei se reuniu com Richardson, que disse esperar “trabalhar com a Argentina para fortalecer a cooperação regional de defesa”.
Nesta sexta-feira, o governo da província de Neuquén emitiu um comunicado, no qual argumentou que, em relação à estação espacial instalada em seu território, é essencial garantir a segurança jurídica no cumprimento dos contratos e acordos estabelecidos e também deve ser assegurada a máxima transparência no desenvolvimento das atividades que são objeto desses acordos.
“Diante da sociedade argentina em geral e da sociedade de Neuquén em particular, todos os controles pertinentes, se necessários, devem ser realizados pelo governo nacional argentino para garantir o cumprimento efetivo de todos os itens incluídos nos acordos e para garantir, ao mesmo tempo, que não haja possibilidade de qualquer atividade que não esteja devidamente contemplada”, declarou o governo provincial.