Mídia russa: a China é um falso amigo

Crescente crítica editorial aponta para uma fraca relação entre Moscou e Pequim

24/11/2018 14:30 Atualizado: 26/11/2018 09:04

Por Sunny Chao, Epoch Times

Nas últimas décadas, China e Rússia têm trabalhado juntas para combater os Estados Unidos, proteger a Coreia do Norte e estreitar laços econômicos mútuos. Mas a mídia russa vem expressando um crescente escrutínio das relações sino-russas, de acordo com um comentário do jornal japonês Sankei Shimbun.

O artigo do Sankei, publicado em 15 de novembro, aponta que a insatisfação da Rússia com a China está aumentando devido à percepção de que o relacionamento da China com seu vizinho do norte contribuiu pouco para a economia local e que não beneficia muito a Rússia.

Vedomosti, um jornal de negócios publicado em Moscou, informou em 24 de outubro que os bancos chineses recentemente suspenderam suas operações na Rússia. As empresas e cidadãos russos estavam relutantes em abrir contas em bancos chineses, como o Banco Agrícola da China, o Banco de Comunicações, o Banco Ping An, o Banco de Dalian ou o Banco de Desenvolvimento Pudong de Xangai.

Empresas e indivíduos russos afetados por sanções internacionais também não podem abrir contas. “A China bloqueou as transações de todas as empresas russas sem identificar se a empresa está sujeita a sanções”, disse a Vedomosti.

Vedomosti citou o Kommersant, um jornal distribuído nacionalmente publicado na Rússia que informa principalmente sobre política e negócios. Segundo o Kommersant, representantes de três bancos russos e dois chineses com filiais nos dois países relataram que os principais problemas surgiram em 2014.

Embora os problemas estivessem “mais ou menos resolvidos” no final de 2015, a situação piorou a partir de janeiro e fevereiro deste ano e não melhorou desde então, segundo as pessoas e empresas contatadas pelo Kommersant.

Novaya Gazeta, jornal russo conhecido por sua cobertura investigativa crítica dos assuntos políticos e sociais russos, informou em 26 de outubro que “a China age como um amigo da Rússia, mas, na verdade, só considera seus próprios interesses”. Ele alertou que “à medida que o crescimento econômico da China desacelera, o país pode embarcar em uma política externa agressiva para desviar o descontentamento público e garantir sua legitimidade, por exemplo, ocupando a Sibéria e a região do Extremo Oriente”.

De acordo com o jornal, empresas e trabalhadores no nordeste da China, que faz fronteira com o Extremo Oriente da Rússia, estão migrando para lá em busca de oportunidades para se desenvolver, enquanto a população russa do Extremo Oriente deve diminuir. O jornal expressou preocupação de que “a região do Extremo Oriente esteja um dia sob controle chinês”.

O Nezavisimaya Gazeta, um jornal russo, citou a China como uma ameaça em um artigo de 29 de outubro sobre a iniciativa “Um Cinturão, Um Caminho” (OBOR, na sigla em inglês) do regime chinês.

A OBOR, anunciada pela primeira vez por Pequim em 2013, procura construir redes comerciais terrestres e marítimas centradas na China, através do financiamento de projetos de infraestrutura na Europa, Ásia, África e América Latina.

Nezavisimaya Gazeta observou que “nenhuma das propostas da OBOR que dizem respeito à Rússia foi implementada”. Enquanto isso, a China e a Rússia estão em intensa competição pela influência na Ásia Central, onde os projetos OBOR estão bem avançados. O artigo observa que, embora Rússia e China pareçam amigos, a cooperação entre eles é praticamente inexistente.

A China é cada vez mais questionada por suas ações predatórias contra a Rússia, como o roubo de tecnologia.

De acordo com o jornal online russo Vzglyad, o avião de passageiros CR929, uma empresa conjunta sino-russa apresentada em 7 de novembro no Zhuhai Airshow, no sul da China, foi objeto de queixas de plágio por parte da empresa russa de design OKB Atom.

A United Aircraft Corp. da Rússia e a Commercial Aircraft Corp. de propriedade estatal chinesa estabeleceram uma empresa para o projeto CR929, mas a OKB Atom alegou que o projeto foi roubado de seus próprios planos, que em 2016 foram submetidos para outro projeto de avião de passageiros chinês.

Maxim Kuzin, gerente geral e engenheiro-chefe da OKB, disse que, embora estivesse chocado com o comportamento descarado, sua empresa não tomará medidas legais porque seria inútil.