Por Voice of America
Membros da Unidade Médica Nicaraguense realizaram um protesto no sábado (3) contra o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, apesar do forte aparato policial presente para conter os manifestantes, em meio à pior crise do país em décadas.
Os médicos protestaram exigindo a reintegração dos médicos demitidos após atenderem feridos durante os ataques armados do governo e pelo cerco sofrido pelos médicos que “cumpriram seu juramento hipocrático” de atender a todas as pessoas sem distinção política.
O grande destacamento policial não impediu que um pequeno grupo de médicos e profissionais de saúde entrassem na área onde realizaram o protesto, o estacionamento de um centro de escritórios particulares.
Os médicos gritaram o nome de mais de 20 pessoas que, segundo eles, morreram porque a ex-ministra da Saúde e agora assessora pessoal de Ortega, Sonia Castro, ordenou que elas não fossem atendidas nos hospitais.
“Eles eram nicaraguenses, não eram inimigos!”, gritaram os manifestantes, que também divulgaram slogans como “Chega de repressão!”, “Ditadura não, democracia em si!”, ou “Chega de tortura!”.
O operativo policial incluiu dezenas de patrulhas fortemente armadas, com fuzis de guerra, equipamento anti-motim, veículos todo-terreno, cães, cadeias móveis e ônibus.
“O protesto foi pacífico, eles tentaram nos intimidar, mas viram que os médicos não têm medo”, disse o dirigente sindical, José Luis Borge aos repórteres.
Durante a manifestação, a polícia agrediu e machucou um menor que estava tentando realizar uma gestão nos escritórios próximos à concentração, segundo denunciaram seus familiares.
Borge alertou que a qualidade da assistência médica na Nicarágua diminuiu desde o surto social contra Ortega em abril de 2018, porque o Ministério da Saúde não encontra médicos de ideologia sandinista suficientes para substituir os que foram demitidos.
Segundo a Unidade Médica Nicaraguense, mais de 75 médicos tiveram que se exilar devido à perseguição de policiais e paramilitares do governo, dos quais 56 estão na Costa Rica e 19 nos Estados Unidos, enquanto outros fugiram para a Europa ou permanecem escondidos em áreas rurais do país.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) responsabilizou o governo de Ortega por cometer crimes “contra a humanidade” no contexto da crise.
A crise já provocou pelo menos 326 mortes, segundo a CIDH, embora as organizações locais determinem o número em 594 e o governo em 200.