O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, classificou nesta terça-feira como “vergonhosas” as acusações feitas pelo chanceler israelense, Israel Katz, contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que comparou a guerra na Faixa de Gaza ao Holocausto.
“Uma chancelaria dirigir-se dessa forma a um chefe de Estado, de um país amigo, o presidente Lula, é algo insólito e revoltante”, disse Vieira no Rio de Janeiro, às vésperas da reunião dos ministros das Relações Exteriores do G20.
Ao se referir à postura do governo de Israel, o ministro brasileiro disse que “uma chancelaria recorrer sistematicamente à distorção de declarações e a mentiras é ofensivo e grave”.
“É uma vergonhosa página da história da diplomacia de Israel, com recurso à linguagem chula e irresponsável”, acrescentou o chefe da diplomacia brasileira, que disse que em 50 anos de carreira “nunca” tinha visto algo assim.
Vieira respondeu dessa forma a uma publicação de Katz em suas redes sociais, na qual voltou a insistir para que Lula peça desculpas por equiparar a ofensiva de Israel no enclave palestino, que até agora deixou 30 mil mortos na Faixa de Gaza, a maioria mulheres e menores de idade, às ações de Adolf Hitler no Holocausto.
“Sua comparação é promíscua, delirante. Envergonha o Brasil e cospe na cara dos judeus brasileiros. Não é tarde demais para aprender a história e pedir perdão. Até então, (Lula) continua sendo ‘persona non grata’ em Israel”, disse o ministro israelense.
Vieira observou que os comentários de Katz “são inaceitáveis na forma e mentirosos no conteúdo”.
“Tenho certeza de que a atitude do governo (Benjamin) Netanyahu e sua antidiplomacia não refletem o sentimento de seu povo. O povo israelense não merece essa desonestidade, que não está à altura da história de luta e de coragem do povo judeu. Em mais de 50 anos de carreira, nunca vi algo assim”, declarou o ministro.
O chanceler brasileiro insistiu que Katz “distorce posições do Brasil para tentar tirar proveito em política doméstica”.
“Não é aceitável que uma autoridade governamental aja dessa forma. Além de tentar semear divisões, busca aumentar sua visibilidade no Brasil para lançar uma cortina de fumaça que encubra o real problema do massacre em curso em Gaza, onde 30 mil civis palestinos já morreram, em sua maioria mulheres e crianças, e a população submetida a deslocamento forçado e a punição coletiva”, acrescentou.
Vieira também revelou que, embora o chanceler israelense tenha atacado o Brasil em público, em uma conversa particular com o embaixador brasileiro em Tel Aviv, este disse “ter grande respeito” pelo Brasil, a qual ele definiu como “a nação mais importante da América do Sul”.
O chefe da diplomacia brasileira também disse que o governo de Netanyahu está cada vez mais “isolado” internacionalmente, algo que ele acredita que Katz “tenta esconder”.
“Não entraremos nesse jogo e não deixaremos de lutar pela proteção de vidas inocentes em risco. O embaixador israelense em Brasília e o governo de Netanyahu foram informados de que o Brasil reagirá com diplomacia, mas com toda a firmeza a qualquer ataque que receber agora e sempre”, enfatizou.
Antes, Katz convocou o embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer, para informá-lo de que o governo israelense havia decidido declarar Lula ‘persona non grata’ até que ele se retratasse de sua declaração e pedisse desculpas. Em resposta, o Brasil chamou seu embaixador em Tel Aviv para consultas e convocou o embaixador de Israel em Brasília para protestar contra o ocorrido.