Nicolás Maduro tomou posse nesta sexta-feira (10) para seu terceiro mandato como presidente da Venezuela, em uma cerimônia realizada na Assembleia Nacional, em Caracas.
O evento, conduzido pelo chavista Jorge Rodríguez, marcou o desfecho de um processo eleitoral envolto em polêmicas, com acusações de falta de transparência, repressão política e disputas intensas entre o governo e a oposição.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou Maduro vencedor das eleições de 28 de julho de 2024, com 51,2% dos votos. Porém, a oposição, liderada por Edmundo González Urrutia, não reconheceu o resultado.
Baseando-se em atas das urnas coletadas por fiscais da oposição, os opositores afirmaram que González havia conquistado a vitória de forma ampla, uma alegação que o regime venezuelano refutou veementemente.
Durante seu discurso de posse, Maduro afirmou que “ninguém impõe um presidente à Venezuela”, e não poupou críticas aos adversários políticos, incluindo um ataque direto ao presidente argentino, Javier Milei, a quem chamou de “sádico social”.
O clima tenso que precedeu o pleito, com a exclusão de figuras da oposição, como María Corina Machado, e a recusa do governo em permitir observadores internacionais, colocou em xeque a legitimidade das eleições perante à comunidade internacional.
Após o resultado, protestos eclodiram em várias partes do país e se espalharam pelo mundo.
As manifestações, que rapidamente tomaram as ruas, foram violentamente reprimidas, com relatos de prisões em massa e abuso de poder.
Organizações de direitos humanos apontaram que ao menos 28 pessoas morreram durante os protestos enquanto milhares foram detidas até o fim de 2024.
Em uma entrevista à BBC, um jovem de 20 anos acusou as forças de segurança de Maduro de tortura.
“Eles tiraram nossas roupas, nos agrediram e nos insultaram, gritando ‘terroristas’. Era proibido levantar o rosto e olhar para os carcereiros; tínhamos que manter o rosto voltado para o chão”, contou.
“Nos davam comida apodrecida, como pele com arroz picado ou sardinhas vencidas”, completou.
Repercussão internacional
Apesar da proclamada vitória de Maduro, a oposição contestou abertamente os resultados, sustentando sua versão com dados das atas de urnas, que sugerem uma vitória de González.
Organizações internacionais, como o Centro Carter, analisaram essas evidências e, embora sem uma conclusão definitiva, indicaram que as alegações de fraude poderiam ter fundamento.
A falta de transparência, com a recusa de Maduro em divulgar as atas oficiais, alimentou o clima de desconfiança.
Sob pressão internacional, alguns países, incluindo Estados Unidos, Espanha, Itália, Argentina e Chile, passaram a reconhecer González como o vencedor legítimo.
Em resposta ao crescente isolamento, Maduro reafirmou a legitimidade de sua eleição e rompeu relações diplomáticas com países como Argentina e Paraguai e intensificando suas críticas a qualquer intervenção externa.
O governo brasileiro optou por reconhecer a vitória de Nicolás Maduro ao enviar a embaixadora do Brasil em Caracas, Gilvânia Maria de Oliveira, para sua cerimônia de posse.