Por Patricia Rodríguez – EFE
Londres, 2 fev – O executivo britânico de Boris Johnson vai endurecer a sua postura antes das negociações comerciais com a União Europeia, as primeiras após a execução do Brexit, em um momento no qual o chefe de governo do Reino Unido percebe que Bruxelas pretende, nas palavras da imprensa europeia, “frustrar seus planos”.
Em discurso que será feito nesta segunda-feira em Londres, Johnson lembrará que seu governo não aceitará qualquer alinhamento com os regulamentos da UE depois de 2021, quando o período de 11 meses terminar.
No pronunciamento, como hoje a mídia britânica noticia, espera-se que o premiê abandone o tom conciliatório utilizado na última sexta-feira, último dia de presença do Reino Unido no bloco, quando se referiu a uma “nova era de cooperação” com os vizinhos, e passe a uma retórica mais forte.
O negociador-chefe da UE para o Brexit, Michel Barnier, por sua vez, dará amanhã detalhes da abordagem do grupo de países a essas conversas, que deverão ser intensas e muito complexas.
Barnier, que apresentará as exigências da União Europeia, já deu um aviso aos britânicos neste sábado. “Uma coisa é clara: os interesses da Europa, de cada Estado-Membro e de todos os nossos cidadãos, estão em primeiro lugar”, destacou.
Como o jornal “Daily Telegraph” revelou neste domingo, a equipe de consultores da Johnson está “furiosa” com o que veem como ameaças dos 27 para frustrar o amplo acordo de livre comércio de Londres.
O sentimento no Reino Unido, de acordo com uma fonte governamental do periódico, é que Bruxelas está tentando unilateralmente mudar os termos do acordo ratificado em 2019, quando ambos se comprometeram a trabalhar para um pacto comercial ambicioso.
“Dessa forma, há apenas dois resultados prováveis na negociação: um acordo de livre comércio como o do Canadá, ou um acordo mais leve, como o da Austrália”, afirmou a fonte.
“O governo (britânico) acredita agora que Bruxela está tentando forçar algo que carrega todas as obrigações do modelo norueguês, com as restrições de acesso ao mercado no Canadá, o que é total hipocrisia e algo que o Reino Unido não aceitará de forma alguma”, acrescentou.
O ministro de Relações Exteriores britânico, Dominic Raab, também deu hoje dicas sobre a nova abordagem que o país vai adotar no seu diálogo comercial com Bruxelas. Em entrevista à BBC, reforçou que Londres não vai se alinhar com os regulamentos da UE.
Embora não haja um pronunciamento oficial, tudo indica que Johnson apoiará um acordo ao estilo canadense, que permitiria o comércio sem tarifas na maioria dos produtos, mas não incluiria a indústria de serviços, que é dominante no Reino Unido.
Bruxelas, por seu lado, defende que Londres precisa continuar a respeitar, para além do período de transição, as regras da União Europeia em matéria de normas e subsídios estatais e que deve respeitar a jurisdição do Tribunal de Justiça Europeu em qualquer litígio comercial.
Em todo caso, a abordagem que a UE seguirá nas negociações terá de ser aprovada antecipadamente pelos 27 Estados-Membros, o que não acontecerá antes do fim deste mês. Mas, como informa a “BBC”, Johnson enfatizará amanhã que não pretende seguir qualquer alinhamento, qualquer jurisdição de justiça do bloco e que não fará concessão alguma quando as negociações começarem, em março.
Ao mesmo tempo, qualquer redução dos direitos dos trabalhadores, dos padrões de higiene alimentar e das proteções ambientais está descartada.
Além das conversas com a União Europeia, o governo de Johnson também vai prosseguir acordos de livre comércio com outros países, como os Estados Unidos, o Japão, a Austrália e a Nova Zelândia.
Raab confirmou hoje que nos próximos dias negociará com autoridades japonesas e, depois, australianas em busca do que definiu como “oportunidades globais” para o Reino Unido após o Brexit.
“Estamos recuperando o controle das nossas leis, portanto não vamos ter um grande alinhamento com a União Europeia ou um alinhamento legislativo de acordo com as suas regras”, disse o chefe da diplomacia britânica em entrevista à emissora de televisão “Sky News”.