A Amazônia vive uma “crise sem precedentes” devido aos incêndios que devastam a região e à pior seca dos últimos 121 anos, alertaram nesta quarta-feira vários representantes dos povos indígenas da América do Sul em entrevista coletiva em Nova Iorque, onde exigiram ações da comunidade internacional.
“Nossas florestas estão queimando, nossos rios estão secando, nossas comunidades estão sofrendo. O mundo precisa agir agora para proteger a Amazônia e todos os ecossistemas vitais da América do Sul, não apenas para o nosso bem, mas para o futuro de todo o planeta”, lamentou o líder indígena brasileiro Raoni Metuktire.
Representantes de povos indígenas de Brasil, Peru, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Suriname, Venezuela e Paraguai, além de uma coalizão de organizações socioambientais, pediram à comunidade internacional para enfrentar essa emergência e apoiar suas comunidades diante das múltiplas ameaças que sofrem.
Nesta quarta-feira, foi apresentado o relatório “Amazônia à beira do colapso”, elaborado pela Coordenação dos Povos Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), que descreve 2024 como o ano que superou todos os registros históricos de seca, temperatura e níveis dos rios, tornando-o o cenário mais crítico já registrado na região.
Dados do Sistema de Informação de Incêndio para Gerenciamento de Recursos da Nasa revelam que, até 17 de setembro, mais de 2,4 milhões de focos de calor foram registrados em 13 países.
“Eles estão queimando vidas. Essa conscientização precisa chegar a todos os seres vivos”, disse Patricia Gualinga, defensora da comunidade Kichwa de Sarayaku, no Equador.
A situação é particularmente dramática no Brasil, onde, em comparação com o mesmo período em 2023, as regiões afetadas por secas extremas e severas aumentaram 620%, de 21,5 milhões de hectares para 155 milhões de hectares em 2024.
Há 149 territórios indígenas na Amazônia brasileira que estão em situação de seca severa ou extrema, e 42 deles estão enfrentando seca extrema.
Por exemplo, incêndios afetaram 180 mil hectares de florestas nativas e fazendas na região de Chovoreca, localizada no Chaco Boreal, na fronteira entre Brasil, Bolívia e Paraguai, resultando na perda quase total do território indígena Ayoreo Garaigosode.
“Como podemos proteger nossos irmãos se nossas vidas também estão em perigo?”, perguntou Tagüide Picanerai, do povo Ayoreo do Paraguai.
Nos últimos cinco anos, de acordo com o Observatório Regional da Amazônia, 447.517 hectares da Amazônia foram queimados. Os países mais afetados são Brasil, com 112.319 hectares, e Bolívia, com 52.259.
Precisamente na Bolívia, entre 1º de janeiro e 17 de setembro de 2024, foram registrados 657.222 focos de calor, um aumento de mais de 600% em relação ao mesmo período de 2023.
O observatório também informou que, somente na última semana, esses países perderam 4.639 hectares e 504 hectares de sua Amazônia, respectivamente.