Após mais de duas semanas as manifestações decorrentes da eleição presidencial não parecem esmorecer. Para além do Brasil, protestos irromperam também em outros países da América Latina. Alguns analistas especularam uma tendência na região.
No domingo (13) e na segunda-feira (14), foi a vez dos mexicanos saírem às ruas. Milhares de pessoas se reuniram para se manifestar contra uma reforma no Instituto Nacional Eleitoral do país, o INE. A proposta foi apresentada pelo presidente André Manuel López Obrador, apelidado pela sigla AMLO, esquerdista do partido MORENA.
Em sua grande maioria os manifestantes saíram vestidos de rosa, cor que representa o Instituto Nacional Eleitoral. Entre alguns dos slogans vistos nas manifestações estavam as seguintes frases: “Marcha pela Democracia”, “Obrador, Obrador, já pareces um ditador!”, “Defendo o INE!”, “Pelo futuro dos nossos filhos, o INE não se toca”.
Membros do governo mexicano estimaram que houvesse entre 10 a 12 mil pessoas nas manifestações, mas pessoas que estiveram presentes nos protestos citaram números maiores.
Vídeos das manifestações divulgados nas redes sociais, parecem corroborar essa afirmação dos presentes.
Atualmente as eleições no México são controladas pelo INE, um órgão independente que foi criado com o objetivo de tirar do governo o controle das eleições. Segundo López Obrador, essa organização estaria por trás das derrotas que ele sofreu nas eleições presidenciais de 2006 e 2012.
Já a reforma eleitoral apresentada por AMLO propõe a substituição desse órgão independente por um instituto que, segundo informações divulgadas no México, seria mais alinhado ao governo.
O temor citado por alguns manifestantes quanto a essa reforma eleitoral seria a concentração do poder nas mãos do governo do país. Governo esse que tende muitas vezes a um viés de esquerda radical e a uma aproximação com ditaduras comunistas.
No site oficial do próprio INE, foi publicada uma carta listando as razões para que o Instituto não fosse substituído.
“O México não pode retornar a uma instituição eleitoral alinhada com o governo, incapaz de garantir a necessária imparcialidade em todo o processo eleitoral.” – INE
A proposta prevê também o corte do financiamento para partidos políticos e a redefinição da forma como as propagandas são feitas, permitindo que o governo se manifeste durante as eleições. A ação foi criticada por alguns, sob alegações de que isso favoreceria o partido que estivesse no poder.
Ontem (14), López Obrador divulgou em seu twitter um pronunciamento em vídeo sobre os acontecimentos no país. Juntamente com o vídeo, vinha a seguinte descrição:
“Necessitamos deixar estabelecido um órgão eleitoral que realmente faça valer a democracia do país.”
Além do México e do Brasil, no início deste mês manifestações foram vistas no Peru, em Cuba e na Bolívia. No Peru, pedindo a renúncia do socialista Pedro Castillo; em Cuba, segundo vídeos e relatos, os manifestantes clamavam por liberdade sob o governo de Miguel Diaz Canel – que é o sucessor da ditadura comunista de Fidel e Raúl Castro; na Bolívia, liderada pelo socialista Luis Arce, o adiantamento do Censo para 2023. O adiamento da pesquisa poderia beneficiar o governo de Arce, protegido de Evo Morales, com um aumento de recursos estatais e assentos no congresso.
Antes, em setembro, Colombianos foram às ruas pedir a saída do presidente recém eleito Gustavo Petro. Em abril os Chilenos saíram para protestar contra a nova constituição apoiada pelo presidente do Chile, Gabriel Boric – que subiu ao poder em aliança com o Partido Comunista do país.
Os líderes alvejados pelos protestos possuem laços direta ou indiretamente com o Foro de São Paulo. A organização, fundada por Lula e Fidel Castro em 1990, visa fomentar governos esquerdistas na América Latina. Laços documentados entre partidos políticos, guerrilhas e crime organizado através do grupo o tornam comumente alvo de críticas.
Acrescentando aos laços históricos entre as lideranças socialistas do continente, em março deste ano Lula fez uma visita a López Obrador. Gleisi Hoffmann, presidente do PT, publicou a respeito em suas redes, e citou a assinatura de uma “carta de intercâmbio e colaboração” entre o PT e o Morena, o partido de Obrador.
Ainda em março, o presidente socialista da Argentina, Alberto Fernández, enviou ao presidente mexicano uma carta mencionando um aprofundamento de laços entre México, Brasil e Argentina, em prol de uma suposta “maior democracia” e “distribuição mais justa de renda”, considerando à época um eventual retorno de Lula da Silva ao poder.
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