Por James Gorrie
As consequências da desastrosa retirada dos Estados Unidos do Afeganistão continuam a influenciar a percepção de aliados e adversários dos Estados Unidos em todo o mundo. Japão e China são exemplos importantes de nações reagindo à fraqueza do governo Biden em promover seus interesses nacionais.
Ambiguidade estratégica significa fraqueza
A forma como o governo Biden está adotando a política de “ambiguidade estratégica” em relação a Taiwan, após se comprometer a defender a nação insular contra a agressão chinesa, é um claro exemplo de fraqueza e hesitação. A Casa Branca levantou dúvidas entre seus aliados quanto ao cumprimento de seus compromissos de segurança ao se retratarem pelo pronunciamento de Biden sobre a defesa da ilha contra a agressão de Pequim.
Ao afirmar que defenderia Taiwan, Biden parecia declarar ao mundo que “a América está de volta”.
Mas por que eles se retrataram? Do que os EUA têm medo?
Certamente, os Estados Unidos não estão “de volta” ao Afeganistão, nem ao Oriente Médio. Nem parece que os soberanos de Estado, Vladimir Putin e Xi Jinping, tenham qualquer respeito pelo poder americano sob o governo Biden. Esse governo claramente carece da vontade de usar esse poder na promoção dos interesses americanos.
A ‘lacuna Biden’
Há uma série de razões para isso, mas, essencialmente, trata-se de comparar o que o governo Biden afirma e o que realmente faz. Mais especificamente, tudo se resume ao que Biden acredita ser a decisão de política externa correta para os Estados Unidos. Mesmo assim, por quase 40 anos, Biden evitou suas decisões de política externa.
Hoje, em um mundo sem dúvida mais perigoso, os aliados americanos enfrentam o que poderia ser precisamente chamado de a “lacuna Biden”, marcado pela “ambiguidade estratégica” americana, seguida por um fracasso em exercer seus compromissos, resultando, eventualmente, em uma “retirada estratégica”.
É isso que os aliados da América na região da Ásia-Pacífico temem.
Claro, Pequim está aproveitando ao máximo a natureza apaziguadora e retraída do governo Biden. Ele está tentando alimentar essas dúvidas aumentando suas provocações militares a Taiwan, bem como ironizando os Estados Unidos mesmo quando Biden afirmou que atletas americanos comparecerão às Olimpíadas a serem realizadas em Pequim em 2022, apesar dos muitos crimes contra os direitos humanos que o Partido Comunista Chinês (PCC) cometeu.
Nova estratégia do Japão quanto a Taiwan
Essa realidade coloca o recente pronunciamento do Japão quanto à defesa de Taiwan em um contexto defensivo multifacetado. Em um relatório branco transformador publicado no início deste ano, Tóquio prometeu “proteger Taiwan como um país democrático“, a ponto de envolver-se em uma ação militar para defendê-lo da agressão chinesa.
Por que Tóquio decidiu realizar essa mudança fundamental de Taiwan? E por que o Japão acha que deve articular-se publicamente?
O pronunciamento de Tóquio sobre suas preocupações com a segurança é dirigido tanto à China quanto aos Estados Unidos. Em primeiro lugar, como os Estados Unidos, Taiwan e outras nações asiáticas, o Japão está preocupado com a crescente agressão do regime chinês e com os exercícios de guerra contra Taiwan.
Tóquio está certa em se preocupar. Ninguém acredita que as simulações de guerra de Pequim, sua militarização do Mar da China Meridional, sua enorme força naval e o recente teste de mísseis hipersônicos sejam desenvolvimentos benignos que não serão aplicados em um contexto militar mais cedo ou mais tarde.
Em segundo lugar, Tóquio está sinalizando a Pequim que uma invasão em Taiwan desencadeará uma guerra ampla com o Japão, não apenas com Taiwan e os Estados Unidos. Ao fazer isso, Tóquio quer criar dúvidas nas mentes dos estrategistas de Pequim quanto ao resultado de um ataque a Taiwan. Uma guerra liderada pela China contra Taiwan com as forças japonesas envolvidas seria mais complexa, arriscada e imprevisível do que uma guerra envolvendo apenas as forças americanas e taiwanesas. Certamente aumentaria a incerteza e os custos potenciais de uma guerra e poderia até impedir uma vitória da China.
Terceiro, o Japão está dizendo à China e aos Estados Unidos que não será mais um parceiro passivo na aliança de segurança apoiada pelos EUA. Isso por si só é uma indicação da baixa confiança de Tóquio no governo Biden.
Os chips de Taiwan são essenciais para o mercado global de tecnologia
Mas o relatório branco do Japão também é um reconhecimento da ameaça que uma invasão chinesa de Taiwan representaria para a região e para a economia japonesa. Como o resto do mundo desenvolvido, a economia industrial altamente avançada do Japão depende fortemente dos chips da Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC).
A China certamente gostaria de controlar o acesso mundial a esses componentes críticos, não apenas em benefício próprio, mas pela oportunidade de negá-los a rivais econômicos como Estados Unidos, União Europeia e Japão, entre outros. Ganhar controle sobre a produção e o fornecimento dessa tecnologia crítica daria a Pequim grande poder sobre a economia global como um todo e, especificamente, sobre a do Japão.
Fortalecendo a aliança militar com os EUA
Nesse sentido, Tóquio considera o regime comunista chinês o que ele é: uma força malévola voltada para o domínio regional e mundial. Portanto, o pronunciamento de Tóquio sobre segurança em Taiwan envolve mais do que tranquilizar Washington sobre a cooperação japonesa em segurança regional. O Japão também pretende pressionar os Estados Unidos a reafirmar seus compromissos de segurança com Taiwan, com o Japão e outros aliados da Ásia-Pacífico.
Os objetivos de Tóquio são compreensíveis. Os japoneses percebem que a China subjugar Taiwan quebraria os acordos de segurança regionais liderados pelos Estados Unidos. Eles também sabem que Pequim provavelmente não vai parar em Taiwan. Em vez disso, Pequim buscaria, de uma forma ou de outra, afirmar sua autoridade sobre todas as outras nações da região, incluindo Austrália e Japão, e expulsar os Estados Unidos da região da Ásia-Pacífico.
Japão tenta compensar a ‘lacuna Biden’
Essencialmente, Tóquio percebe a relutância do governo Biden em confrontar a China. Ao anunciar sua intenção de juntar-se à ação militar em defesa de Taiwan, o Japão está preenchendo o “vazio Biden” na diplomacia e segurança da Ásia-Pacífico, que costumava ser o papel inquestionável dos Estados Unidos na região.
Infelizmente, a “lacuna Biden” está presente em todas as partes estratégicas do mundo, não apenas na região da Ásia-Pacífico. Mas o Japão só pode prover sua própria segurança, e concluiu corretamente que sua segurança está vinculada à de Taiwan e ambas estão vinculadas aos Estados Unidos.
O novo pronunciamento de Tóquio é clarividente e arriscado. Mas o risco provavelmente é menor do que o cenário alternativo em que o regime chinês, aproveitando ao máximo a “lacuna Biden”, subjuga Taiwan antes de mirar em outras nações para conquistar a região.
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