Por Nicole Hao, Epoch Times
Em 20 de setembro, o líder da Coreia do Norte Kim Jong-un visitou o monte sagrado Paektu com o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, após duas reuniões anteriores entre ambos os líderes.
Caminhando à beira de um lago com suas esposas, Kim disse a Moon que “os chineses nos invejam porque não podem descer até o lago no lado deles, mas nós podemos”.
Situado na fronteira entre a China e a Coreia do Norte, o Monte Paektu é um local sagrado na história e cultura norte-coreanas. Aos seus pés existe o Lago do Céu, que é dividido em duas partes: 54,5% para o sul pertencem à Coreia do Norte e os restantes 45,5% para o norte, pertencem à China.
Todo o Paektu e seus arredores estiveram sob a soberania chinesa por séculos, até que as autoridades comunistas chinesas assinaram um acordo com a Coreia do Norte em 1962. Os chineses cederam metade da montanha e do Lago do Céu como um gesto de amizade entre os dois Estados comunistas.
Embora a maioria dos sul-coreanos, assim como turistas de outros países, visitem o monte pelo lado chinês, só é possível alcançar a água a partir do lado norte-coreano.
Em abril, a visita de Kim à Coreia do Sul fez história como a primeira vez em que um líder norte-coreano viajou para o sul. Os dois países foram divididos durante a Guerra da Coreia, que terminou com um cessar-fogo em 1953.
Após o recente descongelamento da diplomacia norte-sul, o presidente sul-coreano expressou seu desejo de visitar a montanha sagrada.
Enquanto estava às margens do lago, Moon encheu uma garrafa de plástico com água do Lago do Céu para levá-la com ele para a Coreia do Sul.
“Muitos sul-coreanos vão ao Monte Paektu pelo lado chinês”, disse Moon. “Mas eu decidi não fazer isso porque prometi que viria aqui pisando em nosso solo [coreano].”
“Devemos escrever outro capítulo da história entre o norte e o Sul, e refletir essa nova história nas águas do Lago do Céu”, disse Kim para Moon.
Kim Jong-un é neto de Kim Il-sung. Apesar da ideologia paramarxista Juche, a família de Kim governou a Coreia do Norte como uma dinastia de fato desde a fundação do regime em 1948.
Nos últimos meses, a Coreia do Norte tornou-se o centro da política externa dos Estados Unidos na Ásia Oriental e em um aspecto importante da relação sino-americana. Em particular, o Partido Comunista Chinês (PCC) apoiou o regime norte-coreano como um contrapeso à influência norte-americana na região, incluindo Coreia do Sul e Japão.
Mas os novos compromissos de Pyongyang com seus vizinhos e os Estados Unidos, incluindo um encontro inédito realizado em 12 de junho entre Kim e Donald Trump, em Singapura, sugerem que a Coreia do Norte pode estar tentando se livrar de seu papel de satélite chinês.
Kim se comprometeu com a desnuclearização, e a Coreia do Norte tomou medidas para desmantelar seu desafiador programa de armas nucleares. A última reunião entre Kim e Moon confirma o desejo de Kim de negociar o fim formal do estado de guerra que tecnicamente ainda existe entre o norte e o sul.
Montanha Sagrada
O Monte Paektu, chamado Montanha Changbai em chinês, é a montanha mais alta do nordeste da China e da Península Coreana. É a fonte dos três principais rios do nordeste da China: Songhua, Tumen e Yalu.
Os coreanos acreditam que o Monte Paektu é o berço de Dangun, lendário fundador do primeiro reino coreano (2333-108 a.C.), há mais de 4.300 anos.
Yeongjo (1694-1776), rei da dinastia coreana Joseon, chamou o Monte Paektu de a melhor de todas as montanhas coreanas. Yeongjo também começou a tradição de celebrar ritos anuais no local, que então pertencia à dinastia chinesa Qing.
Yeongjo também mudou o nome coreano da montanha para Paektu, que vem do nome dado a ele pelo grupo étnico mandchu que governou a China durante a dinastia Qing até 1911.
Após a Segunda Guerra Mundial, o líder comunista coreano Kim Il-sung formou seu exército nas montanhas entre a China e a Coreia. A propaganda norte-coreana afirma que seu filho, o segundo líder da Coreia do Norte, Kim Jong-il, nasceu no Monte Paektu, embora seu verdadeiro berço seja a União Soviética.
Em 12 de outubro de 1962, o então primeiro-ministro chinês Zhou Enlai aprovou um tratado de fronteira com Kim Il-sung, cedendo a Pyongyang a atual parte norte-coreana do Monte Paektu, de acordo com pesquisas do historiador chinês Shen Zhihua da Universidade Chinesa de Hong Kong.
O tratado permaneceu em segredo até o ano de 2000, quando o jornal sul-coreano JoongAng Ilbo recebeu um documento confidencial das autoridades do regime chinês.
De acordo com o tratado, o PCC concedeu à Coreia do Norte aproximadamente 1.200 quilômetros quadrados do território, incluindo a metade do Lago do Céu e toda a terra fértil que o rodeia. Dezenas de milhares de cidadãos chineses tiveram que deixar seus lares ancestrais para se adaptarem à mudança.