Julian Assange, fundador do WikiLeaks, faz seus primeiros comentários públicos desde sua libertação

Por Naziya Alvi Rahman
02/10/2024 23:53 Atualizado: 02/10/2024 23:53
Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.

Em seu primeiro discurso desde que foi libertado, o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, destacou o precedente preocupante estabelecido por nações que visam jornalistas estrangeiros e a erosão da liberdade de expressão em todo o mundo.

Em discurso perante a Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa (PACE, na sigla em inglês), Assange relatou a longa tentativa do governo dos EUA de processá-lo por vazamento de informações confidenciais.

Ele detalhou uma complexa jornada jurídica que começou quando o ex-presidente Obama encerrou uma investigação sobre suas ações, apenas para que ela fosse reaberta pelo procurador-geral dos EUA, resultando na nova prisão de Chelsea Manning.

Manning, ex-analista de inteligência do Exército dos EUA, foi coagida a prestar depoimento contra Assange e enfrentou pressões legais significativas, incluindo mais de um ano de prisão e sofrimento psicológico, o que acabou levando-a a tentar o suicídio.

“Manning não era mais apenas uma delatora; ela se tornou uma fonte forçada a testemunhar contra o jornalista”, declarou Assange.

Em dezembro de 2017, os EUA emitiram um mandado para extraditar Assange do Reino Unido, uma medida que foi mantida em segredo por dois anos, enquanto os governos dos EUA e do Equador trabalhavam nos bastidores para estabelecer as bases políticas, legais e diplomáticas para sua eventual prisão.

Após 14 anos de batalha legal, Assange retornou à Austrália como um homem livre em junho de 2024.

Em 2010, a divulgação pelo WikiLeaks de um vídeo militar dos EUA que mostrava civis sendo mortos em Bagdá, juntamente com milhares de documentos confidenciais que expunham mortes de civis não relatadas durante a guerra do Afeganistão, tornou-se fundamental para o seu caso.

Essas revelações provocaram indignação global e trouxeram um exame minucioso das ações militares americanas em conflitos no exterior.

Assange enfatizou as implicações mais amplas de seu caso, observando que nações poderosas como os EUA estão cada vez mais afirmando um precedente legal perigoso.

“Somente os cidadãos americanos desfrutam de direitos de liberdade de expressão de acordo com a lei dos EUA, enquanto os cidadãos de outras nações ainda estão sujeitos às leis de sigilo dos EUA”, disse ele.

Ele argumentou que essa mudança colocou os jornalistas europeus e de outros países em risco de serem extraditados e processados por reportarem sobre as atividades do governo dos EUA.

“Os europeus devem obedecer às leis de sigilo dos EUA sem nenhuma defesa”, alertou.

Descrevendo seu caso como uma “repressão transnacional”, Assange causou alarme na Europa, onde a guerra na Ucrânia já criminalizou jornalistas na Rússia.

Assange advertiu que, sem salvaguardas sólidas, outras nações poderiam seguir o exemplo dos EUA ao visar jornalistas estrangeiros e restringir a liberdade de imprensa.

Ele também condenou os esforços do governo dos EUA para enfraquecer o papel do jornalismo investigativo.

“Fui condenado por uma potência estrangeira por receber e publicar informações verdadeiras enquanto estava na Europa. O jornalismo não é um crime”, declarou ele, alertando que a criminalização das atividades de coleta de notícias representa uma ameaça global à liberdade de imprensa.

Em seu discurso de encerramento, Assange fez um apelo às nações europeias para que tomem providências, declarando: “Se a Europa quiser ter um futuro em que a liberdade de falar e publicar a verdade não sejam privilégios, mas direitos, ela deve garantir que o que aconteceu comigo nunca mais aconteça.”

“Não me declarei culpado de nada além de jornalismo. Isso nunca foi apenas sobre mim – é sobre o direito de todo jornalista de fazer seu trabalho sem medo de retaliação.”