O mercado de exportações de anime tem um valor anual de 4,7 trilhões de ienes (28.907 milhões de euros) para o Japão, que, diante do crescimento internacional desse conteúdo, pretende duplicar esse valor até 2028 e quadruplicá-lo até 2033.
O crescente interesse global pelo anime — um gênero de animação originário do Japão — faz com que o país seja o líder mundial em receitas de “streaming” de conteúdos em língua não inglesa de 2021 a 2024, seguido pela Coreia do Sul e a Índia. Globalmente, o anime representa 6% do volume econômico gerado por transmissões audiovisuais online.
A plataforma de “streaming” que mais contribui para o negócio do anime no mundo é a Netflix, que representa 2,1 bilhões de dólares (2,02 bilhões de euros) do total.
No entanto, a maior parte da receita gerada pela indústria do anime não retorna ao Japão. Esse sucesso “tem sido mais acidental do que intencional”, razão pela qual o governo japonês deveria seguir o exemplo da indústria do K-pop sul-coreano para aproveitar ao máximo o conteúdo japonês, explicou Douglas Montgomery, CEO da Global Connects Media, em uma coletiva de imprensa sobre o sucesso do anime.
Por que o anime faz tanto sucesso?
“Não sei por que o anime japonês está se tornando tão famoso no mundo, mas posso dar uma pista de por que ele é tão popular no Japão”, disse Makoto Tezuka, diretor de cinema e especialista em visuais.
O anime tem uma relação muito estreita com o manga em um país onde existe uma cultura muito estabelecida de leitura desse gênero, e muitas histórias, já conhecidas por meio dos livros, são posteriormente produzidas como animações.
Para Tezuka, a resposta é simples no caso do Japão: “Temos Osamu Tezuka”, seu pai, um mangaká e animador japonês conhecido no país como “o deus do manga”, pois graças à sua obra, Tezuka expandiu e difundiu massivamente a leitura e o consumo de manga e, posteriormente, de anime.
Além disso, ressaltou a importância das emoções dos personagens, tanto no manga, onde suas expressões faciais são essenciais para transmitir o que sentem, quanto no anime, em que, além das expressões faciais, o movimento e a ação permitem uma conexão ainda maior com suas emoções e uma apresentação mais eficaz.
Isso tem um grande impacto econômico, pois “as pessoas que descobrem as histórias ao ler o manga, depois querem ver o anime, e quem descobre o anime primeiro, quer ler o manga”, destacou o diretor de cinema.
Em 2028, será comemorado o centenário do nascimento de Osamu Tezuka, por isso o objetivo é “expandir o anime e o manga por todo o mundo nos próximos quatro anos”, concluiu.
A chegada da inteligência artificial ao mundo do manga e do anime
A irrupção da inteligência artificial em diversos setores tecnológicos e criativos já afeta o manga e o anime.
Do ponto de vista do negócio, ela é muito útil, porque “graças aos dados, cada vez é mais fácil saber o que atrai e o que não atrai o público e tomar decisões”, respondeu Montgomery, que reconheceu que os criadores podem não gostar tanto da chegada da inteligência artificial.
Tezuka, por sua vez, afirmou que, no momento, “é complicado” e que é necessário pensar em uma forma de usá-la. Para isso, é essencial contratar alguém especializado em inteligência artificial e treinar os criadores de anime para que façam uso parcial dela.
Além disso, apesar das questões que a inteligência artificial pode gerar em termos de direitos autorais, algo que deve ser regulamentado, também são evidentes suas limitações, pois “ela não é boa em criar emoções e ainda não consegue gerar animações completas”, contou Tozuka.
“O texto pode ser corrigido, mas é muito difícil modificar as animações”, concluiu.