Japão se prepara para êxodo norte-coreano em caso de guerra

30/11/2017 14:25 Atualizado: 30/11/2017 14:25

O Japão está resgatando um plano de 1994 para lidar com um êxodo em massa de norte-coreanos em sua área costeira em caso de guerra na península coreana, de acordo com a mídia japonesa.

A mudança se dá após sucessivas ameaças nos últimos meses pela Coreia do Norte de destruir o Japão com armas nucleares. No início de outubro, a Coreia do Norte ameaçou o Japão com “nuvens nucleares”.

O governo japonês está buscando maneiras de limitar os perigos impostos por um enorme afluxo de refugiados norte-coreanos, pubilcou The Yomiuri Shimbun.

“Dezenas de milhares de evacuados da Coreia do Norte podem chegar ao litoral japonês por barcos de madeira e outros meios”, disse ao jornal uma fonte ligada ao governo japonês.

Agricultores norte-coreanos trabalham em campos fora da capital Pyongyang em 2008. Uma fome em meados da década de 1990 matou até 1 milhão de norte-coreanos. Hoje, as agências de ajuda alertam que o país, governado por um dos regimes mais repressivos do mundo, está à beira de outra crise extrema de alimentos (Mark Ralston/Getty Images)
Agricultores norte-coreanos trabalham em seus campos fora da capital Pyongyang em 2008. A atual falta de alimentos e dinheiro forçou os soldados da Coreia do Norte a saquearem plantações e fazendas para se alimentarem. (Mark Ralston/Getty Images)

De acordo com fontes governamentais, o governo japonês está preocupado que agentes e terroristas norte-coreanos possam se infiltrar entre os refugiados, colocando um risco de segurança que seria difícil de enfrentar.

Esses agentes ou terroristas poderiam focar infra-estrutura crítica, usinas de energia nuclear, bases militares dos Estados Unidos e instalações usadas pelas Forças de Autodefesa do Japão.

Para prevenir o risco, o governo está buscando reforçar o patrulhamento da Guarda Costeira do Japão em zonas costeiras no Mar do Japão e pedindo a barcos de pesca privados e residentes nas áreas costeiras para que se mantenham vigilantes.

Navios detectados e evacuados serão interceptados e os passageiros transferidos para os portos, onde policiais e outros oficiais realizarão checagens de antecedentes. Eles também verificarão registros criminais e qualquer pessoa que considerem um risco de segurança será deportada.

A Força de Autodefesa Marítima do Japão navega em formação durante exercícios navais fora da Baía de Sagami, Japão, em 22 de outubro de 2006 (Koichi Kamoshida/Getty Images)
A Força de Autodefesa Marítima do Japão navega em formação durante exercícios navais fora da Baía de Sagami, Japão, em 22 de outubro de 2006 (Koichi Kamoshida/Getty Images)

O jornal informa ainda que aqueles que podem ficar temporariamente passarão por procedimentos de registro no Escritório de Imigração e em estações de quarentena e serão abrigados em uma instalação de recepção provisória ─ provavelmente na terceira maior ilha do Japão, Kyushu, próximo à Península da Coreia.

O governo decidirá mais tarde se os evacuados podem permanecer além do período designado para sua estadia temporária. “Será dada uma atenção suficiente aos seus direitos humanos, fornecendo-lhes itens como comida e água”, informou The Yomiuri Shimbun.

Os navios de pesca norte-coreanos ocasionalmente enfrentam problemas no Mar do Japão. Em 16 de novembro, os três membros da tripulação sobreviventes de um barco de pesca norte-coreano virado foram resgatados pela Guarda Costeira japonesa. Conforme sua vontade, eles serão deportados à Coreia do Norte, informou The Japan Times.

Uma lancha da Guarda Costeira japonesa se aproxima de um barco de pesca norte-coreano virado no Mar do Japão, em 16 de novembro de 2017 (Guarda Costeira do Japão)
Uma lancha da Guarda Costeira japonesa se aproxima de um barco de pesca norte-coreano virado no Mar do Japão, em 16 de novembro de 2017 (Guarda Costeira do Japão)

Como os sul-coreanos também podem fugir para o Japão num conflito, outro planejamento seria organizado para suas necessidades, escreveu o jornal.

O plano, compilado de forma confidencial em 1994, quando os militares americanos estudavam a possibilidade de atacar a Coreia do Norte em caso de crise nuclear, está sendo revisado à medida que as tensões se aproximam da península coreana.

A notícia do plano de evacuação ocorre depois da recente visita do presidente Donald Trump ao Japão, onde se encontrou com o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, e discutiu questões relacionadas a comércio, segurança regional e Coreia do Norte.

Abe, que ecoou o apelo de Trump para se maximizar a pressão sobre a Coreia do Norte, anunciou sanções adicionais contra o regime de Kim Jong-Un durante a visita de Trump. Estas sanções unilaterais congelarão os ativos de 35 grupos e indivíduos norte-coreanos.

Os dois países realizaram exercícios militares em conjunto desde o sexto e maior teste nuclear subterrâneo da Coreia do Norte, em setembro.

O Japão e os Estados Unidos terminaram no dia 26 exercícios navais conjuntos anuais ao sul da península coreana próximo ao arquipélago de Okinawa. Os ensaios envolveram o USS Ronald Reagan e seu grupo de ataque de navios de guerra, aviões de combate e outras aeronaves, além de 14.000 oficiais dos EUA em três destroiers, em treinamentos de prontidão defensiva e interoperabilidade com as Forças de Autodefesa do Japão, de acordo com 7ª Frota da Marinha.

Marinheiros a bordo do destruidor de mísseis guiados classe Arleigh Burke USS Stethem conduzem procedimentos de reabastecimento de helicóptero em voo com um helicóptero SeaHawk MH-60R, parte do Grupo de Ataque Ronald Reagan, em 14 de novembro de 2017 (Jeremy Graham, especialista em comunicação de massa da Segunda Classe/Marinha dos EUA)
Marinheiros a bordo do destruidor de mísseis guiados classe Arleigh Burke USS Stethem conduzem procedimentos de reabastecimento de helicóptero em voo com um helicóptero SeaHawk MH-60R, parte do Grupo de Ataque Ronald Reagan, em 14 de novembro de 2017 (Jeremy Graham, especialista em comunicação de massa da Segunda Classe/Marinha dos EUA)

Na sequência da retirada temporária da 7ª Frota da Marinha dos EUA, que patrulha a região, a Coreia do Norte lançou um novo míssil balístico, a leste da província do Pyongai do Sul, segundo a agência de notícias sul-coreana Yonhap, rompendo uma pausa de 74 dias.

Na próxima semana, as Forças Aéreas americanas e sul-coreanas participarão de um enorme exercício militar sem precedentes na Península da Coreia.

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