Japão e Coreia podem extremecer relações diante de processo judicial

Diplomatas japoneses se ofereceram para compensar diretamente os trabalhadores, mas os negociadores da República da Coreia solicitaram o pagamento ao governo do país para uso em obras públicas e outros projetos

05/12/2018 23:42 Atualizado: 05/12/2018 23:42

Por Cory Evans, Baruch College

Em 30 de outubro, a Suprema Corte da República da Coreia confirmou uma decisão anterior em um processo judicial contra a empresa japonesa Nippon Steel & Sumitomo Metal Corp., que pode danificar catastroficamente a relação entre o Japão e a República da Coreia, dois aliados próximos dos Estados Unidos.

O Japão ocupou a Coreia de 1910 a 1945. Durante todo o período colonial, as empresas japonesas empregaram trabalhadores coreanos. Esses trabalhadores foram informados que receberiam um salário de acordo com um valor previsto. No entanto, alguns desses salários não foram pagos, especialmente depois que o governo do Japão ordenou que as empresas enviassem o pagamento para um fundo central.

O Japão se rendeu incondicionalmente às potências aliadas em 1945. O Japão foi então ocupado pelos Estados Unidos. Essa ocupação terminou com o Tratado de Paz de São Francisco de 1951. Desde 1951, o Japão mantém uma aliança com os Estados Unidos. No entanto, o Japão e a Coreia não normalizaram imediatamente as relações diplomáticas, em parte por causa das questões remanescentes da ocupação japonesa e em parte por causa da Guerra da Coreia, que levou a uma divisão entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul.

Assentamento de 1965

O acordo diplomático que normalizou as relações entre o Japão e a República da Coreia foi o Tratado de 1965 sobre Relações Básicas entre o Japão e a República da Coreia. Como a maioria dos acordos diplomáticos complexos, o tratado cobria uma série de questões. Uma questão discutida longamente foi a dos salários não pagos para trabalhadores coreanos recrutados.

Devido à importância de se chegar a uma solução para questões relacionadas ao trabalho, o Japão e a Coreia concordaram com um protocolo separado, o Acordo sobre a Solução de Problemas Relativos a Propriedades e Reivindicações sobre a Cooperação Econômica entre o Japão e a República da Coreia.

Sob os termos do acordo de 1965, o Japão concordou em pagar US$ 300 milhões para a Coreia, junto com US$ 200 milhões em empréstimos preferenciais. O dinheiro tinha vários propósitos, um dos quais era “resolver completamente e finalmente” (AII, seção 1) reivindicações pendentes de trabalho não pago de trabalhadores coreanos contra corporações japonesas. Ambas as partes concordaram que “nenhuma contenção será feita” em relação a outras reivindicações (AII, seção 3).

Inicialmente, os diplomatas japoneses se ofereceram para compensar diretamente os trabalhadores, mas os negociadores da República da Coreia solicitaram o pagamento ao governo do país para uso em obras públicas e outros projetos. O Japão fez esse pagamento no prazo e integralmente.

Inicialmente, o governo da República da Coreia não distribuiu nenhum dinheiro aos trabalhadores. Mas, em 1971 e 1974, a República da Coreia estabeleceu fundos para reembolsar os trabalhadores. No entanto, muitos trabalhadores ainda não receberam o pagamento integral.

Batalha nos tribunais

O caso da Nippon Steel começou em 2001, quando quatro ex-trabalhadores coreanos processaram a Nippon Steel & Sumitomo Metal Corp. na Califórnia por salários não pagos. O tribunal da Califórnia rejeitou o caso, sustentando que o acordo de 1965 claramente excluía quaisquer novos processos em nome desses demandantes, uma vez que finalmente resolveu quaisquer reclamações trabalhistas pendentes no caso legal de setembro de 2001 referentes ao Trabalho Forçado pelo Japão na Segunda Guerra Mundial.

Insatisfeitos com a decisão da Califórnia, os demandantes relacionados entraram com uma ação separada em Tóquio. Um tribunal de Tóquio decidiu contra os queixosos em 2003, concluindo também que o acordo de 1965 impedia a recuperação. Ainda não satisfeitos, os queixosos tentaram novamente no tribunal de Seul. Esse tribunal também decidiu contra os queixosos em 2005. Os queixosos recorreram ao Tribunal Superior de Seul, que afirmou a decisão. Como o Tribunal Superior de Seul baseou sua opinião diretamente no acordo de 1965, os autores apelaram para o Supremo Tribunal Federal pedindo que este decidisse sobre a constitucionalidade do acordo.

Em uma opinião surpreendente, o Supremo Tribunal Federal declarou em 2012 que o acordo de 1965 não impedia a recuperação individual de salários perdidos. O Supremo Tribunal Federal descobriu que o Japão não poderia ter providenciado remédio para esses trabalhadores, porque o Japão não aceita que a ocupação da Coreia tenha sido ilegal. Portanto, o Japão não tinha a intensão de pagar danos resultantes da ocupação.

O Supremo Tribunal Federal encaminhou o caso para o Supremo Tribunal Federal, que agora decidia pelos queixosos. Os réus recorreram ao Supremo Tribunal Federal, que afirmou em 30 de outubro. Neste último veredicto, o Supremo Tribunal Federa argumentou ainda que, mesmo se o tratado de 1965 impedisse reivindicações adicionais por salários atrasados, os demandantes ainda poderiam processar por danos devido à remoção para o Japão.

Confisco Potencial

De uma perspectiva legal, o argumento apresentado pelo Supremo Tribunal Federal parece claramente falso. Na verdade, é bastante comum para um réu resolver um processo sem admitir qualquer falha. Na verdade, em 1997, a própria Nippon Steel concordou em pagar US$ 163.000 a onze famílias em um assentamento privado. Essa resolução é obrigatória.

O tratado de 1965 representa um contrato entre o Japão e a República da Coreia. Se os indivíduos sentirem que a República da Coreia posteriormente não os compensou adequadamente, o seu recurso é processar a República da Coreia, e não a Nippon Steel. Por outro lado, se os indivíduos sentirem que devem receber um benefício separado devido à sua remoção do país, cabe a eles processarem o governo do Japão, e não empresas individuais.

A decisão da Nippon Steel irá prejudicar a confiança de outras nações na capacidade da República da Coreia de negociar acordos internacionais. Se a República da Coreia romper contratos vinculados com outros países quando isso for a seu favor, não há razão para outras nações fazerem compromissos e escolhas politicamente delicadas com o país. Além disso, devido ao precedente estabelecido pela Nippon Steel, milhares de reclamações poderiam ser apresentadas contra centenas de empresas japonesas e americanas. Os demandantes podem processar corporações e ganhar sob o precedente estabelecido pela Nippon Steel.

Depois de ganhar um julgamento, esses demandantes podem exigir pagamento. Se não houver, os demandantes podem pedir ao tribunal que faça valer a sua participação. O tribunal pode então apreender os ativos mantidos na República da Coreia para satisfazer o julgamento. Por causa do risco legal causado pela Nippon Steel, corporações japonesas e americanas que fazem negócios na República da Coreia podem ser forçadas a realocar ativos que seriam vulneráveis ​​à apreensão. Isso prejudicaria crucialmente um elo fundamental entre a sociedade civil japonesa e coreana.

A relação econômica e cultural entre cidadãos individuais dentro dos governos molda o futuro das relações bilaterais. Ao comprometer tanto a parceria econômica mutuamente benéfica entre o Japão e a Coreia, a Nippon Steel poderia catastroficamente perturbar o sistema de alianças americanas no leste da Ásia.

Cory Evans é professor assistente no Baruch College, da City University of New York. Sua pesquisa se concentra na lei e diplomacia japonesas no leste da Ásia.

As opiniões expressas neste artigo são as opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times.