Israel acredita que o Acnur, a agência da ONU para os refugiados, deveria substituir a UNRWA, cujo mandato se aplica exclusivamente aos refugiados palestinos no Oriente Médio, disse esta quarta-feira (30) o ministro dos Assuntos da Diáspora israelense, Amichai Chikli, defendendo as leis aprovadas na segunda pelo Parlamento para proibir o órgão.
“A UNRWA é parte do problema, não da solução”, disse o ministro em um encontro com a imprensa.
Em seu discurso, Chikli insistiu que a ONU já tem uma agência encarregada de prestar assistência aos refugiados no mundo, e que o status único dos refugiados palestinos, que se aplica àqueles que perderam suas casas e empregos após a criação do Estado de Israel em 1948 e seus descendentes, impede que o conflito seja resolvido, pois o número de pessoas sob seus cuidados só cresce.
Sua posição reflete o sentimento de grande parte da sociedade israelense, o que pode ajudar a explicar o apoio maciço obtido pelas duas leis aprovadas na segunda-feira para proibir as atividades da UNRWA em Israel e para impedir que os organismos públicos israelenses tenham contato com seus funcionários.
As normas obtiveram o apoio de todos os grupos parlamentares, exceto a esquerda e os árabes, ambas forças minoritárias em um Parlamento que é geralmente extremamente dividido.
Problemas envolvendo a UNRWA
Na base desta posição estão as acusações de imparcialidade e conluio com as milícias palestinas que as autoridades israelenses lançam constantemente à agência, em particular após os ataques do Hamas de 7 de outubro de 2023.
Em um documento preparado pelo escritório de Chikli, as autoridades israelenses identificam, por nome e apelido, 12 funcionários da UNRWA supostamente afiliados ao Hamas, embora o país afirme que mais de mil trabalhadores em Gaza têm ligações ao grupo.
A agência, que tem cerca de 30 mil funcionários em todo o mundo, já despediu dez dos doze trabalhadores inicialmente nomeados por Israel em janeiro (dois já estavam mortos) por supostamente terem participado nos ataques de 7 de outubro. Posteriormente, Israel acusou outros sete funcionários de participarem dos ataques.
Após uma investigação interna, a ONU concluiu que nove dos 19 identificados poderiam ter participado nos ataques, mas deixou claro que o escritório responsável pela investigação não poderia verificar de forma independente a maior parte da informação apresentada por Israel.
A agência, também, foi submetida a um processo de revisão independente dos seus mecanismos de neutralidade, liderado pela ex-ministra das Relações Exteriores francesa Catherine Colonna, que concluiu que a UNRWA tem um dos sistemas mais desenvolvidos entre as agências da ONU para manter sua neutralidade, embora tenha apresentado uma série de recomendações para escorá-lo.
“UNRWA é o Hamas”
As explicações foram inúteis e a linha oficial de Israel continua sendo a de que “UNRWA é o Hamas”, como disse recentemente à Agência EFE um porta-voz do governo israelense.
Neste sentido, Chikli defendeu em sua fala que a agência “faz parte do DNA palestino que nunca aceitou a legitimidade de um Estado judeu”.
Em seu site, a UNRWA explica que sua missão é “prestar serviços aos refugiados palestinos” até que haja uma solução acordada para o conflito palestino-israelense, mas que, ao contrário do ACNUR, não tem o poder de procurar soluções para o deslocamento de refugiados palestinos, como o repatriamento ou o regresso ao seu local de origem.
As missões de ambas as agências, explica o grupo, são fundamentalmente diferentes: a UNRWA fornece serviços diretos (principalmente educacionais e sanitários) na Cisjordânia, Jerusalém Oriental, Líbano, Jordânia e Síria, enquanto o ACNUR oferece assistência temporária para tentar integrar as pessoas que fogem da violência ou perseguição nos países anfitriões.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, foi claro: “Não há alternativa à UNRWA”, disse ontem em uma mensagem condenando as leis aprovadas no Parlamento.
Ainda assim, as autoridades israelenses têm toda a intenção de prosseguir com sua decisão de impedir o funcionamento da agência. “Acho que as leis serão implementadas, e espero que vejamos mais países seguirem na mesma direção”, disse Chikli, citando em particular os Estados Unidos.
Por enquanto, as contribuições dos EUA, principal doador da UNRWA, estão suspensas por lei até 2025.
Até então, o único presidente americano que cancelou contribuições à agência, em 2018, foi Donald Trump.