O Irã viveu neste sábado um dos dias mais intensos dos protestos desencadeados pela morte de Mahsa Amini, com confrontos em diversas cidades, greves e vaias ao presidente iraniano, Ebrahim Raisi, enquanto o país chega à quarta semana seguida de manifestações.
Amini, de 22 anos, morreu em 16 de setembro, três dias depois de ter sido detida pela chamada Polícia da Moral de Teerã, com o argumento de que estava usando o véu islâmico incorretamente.
Após três dias sem protestos – quarta-feira foi feriado e quinta e sexta-feira é final de semana no país – a semana iraniana começou com novos gritos de “mulheres, liberdade, vida” após universidades e ativistas convocarem manifestações.
Nos arredores da renomada Universidade Sharif, de Teerã, pequenos grupos de jovens e mulheres sem véu protestaram em meio a uma forte presença policial.
“Apoiem-nos, apoiem-nos, polícia!” uma mulher sem véu gritou nas proximidades do centro universitário à polícia de choque presente para se juntar aos manifestantes.
Em uma atmosfera tensa, algumas pessoas discutiram com agentes da polícia quando o primeiro gás lacrimogêneo começou a escurecer as ruas.
“Morte à República Islâmica”, gritou um grupo de jovens em uma rua lateral da universidade, acrescentando: “República Islâmica, nós não te queremos, nós não te queremos”. Um homem exclamou que os policiais “não têm honra”.
Também foram ouvidos tiros, mas não foi possível distinguir de que tipo. Na capital, os protestos se espalharam por diferentes partes da cidade.
Um morto
Em outras partes do país, houve protestos nas cidades de Shiraz, Isfahan, Gohardasht e Kerman, entre outras, de acordo com vídeos não verificados compartilhados em redes sociais por ativistas e jornalistas.
Os confrontos foram particularmente violentos no Curdistão iraniano, região de origem de Amini, onde a capital, Sanandaj, também viveu um dia de greve com lojas fechadas.
Em Sanandaj, um motorista foi morto a tiro, caso que o chefe da polícia provincial, general Ali Azadi, atribuiu às “forças contrarrevolucionárias”. A ONG Hengaw, sediada em Oslo, culpou as forças de segurança pelo incidente.
Diante dos fortes protestos, os serviços de internet móvel foram bloqueados, algo que não tinha acontecido nos últimos dias. Também foram adotadas restrições à internet residencial, cuja velocidade diminuiu significativamente.
Presidente vaiado
Enquanto isto acontecia, Raisi discursava na Universidade Alzahra de Tererã, exclusivamente feminina, onde disse que os estudantes iranianos não permitiriam que “os sonhos do inimigo se realizassem” e onde, de acordo com filmagens não verificadas de ativistas, foi vaiado.
“O inimigo pensou que poderia buscar seus objetivos na universidade, não percebendo que os estudantes e professores estão acordados e não permitirão que os falsos sonhos do inimigo se realizem”, argumentou.
Ao sair, um grupo de estudantes gritou: “Desapareça, desapareça”, de acordo com imagens de vídeo não verificadas.
O assessor de imprensa da universidade, Faride Haghbin, minimizou os gritos, dizendo que apenas cerca de 15 estudantes “com a instigação de alguns fatores externos (estrangeiros)” tinham gritado.
Doença prévia
O Instituto Médico Legal do Irã disse na sexta-feira que Amini morreu de uma doença prévia, e não de espancamentos policiais.
O relatório forense da entidade estatal determinou que a morte da jovem ocorreu devido à falência de múltiplos órgãos após hipóxia (esgotamento do oxigênio no cérebro) e não foi “causada por golpes na cabeça e nos órgãos vitais e membros do corpo”.
A morte de Amini provocou protestos que têm continuado desde então, com grandes mobilizações de mulheres que queimam véus sendo fortemente reprimidas pelas forças de segurança.
Esses confrontos causaram 41 mortes, de acordo com a contagem da televisão estatal na semana passada, mas a ONG Iran Human Rights, com sede em Oslo, contabiliza 92 óbitos.
Entre para nosso canal do Telegram
Assista também: