Irã se junta ao bloco eurasiano liderado por China e Rússia

Por Adam Morrow
08/07/2023 22:43 Atualizado: 08/07/2023 22:43

O Irã tornou-se um membro de pleno direito da Organização de Cooperação de Xangai (SCO), um bloco de estados da Eurásia liderado por Moscou e Pequim.

A acessão de Teerã à SCO foi formalizada em uma cúpula virtual em 4 de julho organizada pela Índia, membro da SCO, que atualmente detém a presidência rotativa da organização.

Ao se dirigir aos participantes, o líder iraniano, Ebrahim Raisi, expressou esperança de que a adesão à SCO forneça a seu país uma “plataforma para garantir a segurança coletiva” e uma “ oportunidade para o desenvolvimento econômico de longo prazo”.

“Paz e estabilidade duradouras só são possíveis quando os países da região [eurasiana] confiam em ideais comuns decorrentes de sua cultura e civilização”, declarou.

O Irã já compartilha laços significativos com os principais estados membros da SCO. É um fornecedor primário de petróleo para a China e a Índia e tem uma “parceria estratégica” com a Rússia.

O processo formal de adesão do Irã à organização começou em março do ano passado. Em outubro passado, o parlamento iraniano aprovou a mudança.

Falando na cúpula, o líder russo, Vladimir Putin, deu as boas-vindas ao Irã, que, segundo ele, “agora participará de nossa organização em um formato de pleno Direto”.

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O presidente russo Vladimir Putin (E), o líder chinês Xi Jinping (C) e o presidente iraniano Hassan Rouhani (D) caminham enquanto participam de uma reunião do Conselho de Chefes de Estado da Organização de Cooperação de Xangai (SCO) em Bishkek, Quirguistão, em junho 14, 2019. (Vyacheslav Oseledko/AFP/Getty Images)

Desdolarização lidera agenda

Em uma declaração conjunta emitida na conclusão da cúpula, os Estados membros enfatizaram seu desejo compartilhado por “uma ordem mundial multipolar mais representativa”.

A declaração também pediu uma cooperação intensificada entre os Estados membros nas áreas de política e segurança, comércio, economia, finanças e investimentos, [e] laços culturais e humanitários”.

Continuou afirmando que a SCO “não era dirigida contra outros estados e organizações internacionais e está aberta a uma ampla cooperação … de acordo com os objetivos e princípios da Carta da ONU, da Carta da SCO e do direito internacional”.

No entanto, a cúpula viu repetidos apelos aos Estados membros para realizar transações financeiras em moedas diferentes do dólar americano.

“A hegemonia do dólar facilita a hegemonia ocidental”, disse Raisi aos participantes.

“É preciso abandonar [o dólar] e usar as moedas nacionais nos acordos entre países para criar um novo sistema econômico.”

A afirmação foi repetida por Putin e pelo líder chinês Xi Jinping, ambos exortando os estados membros da SCO a realizar transações em suas próprias moedas nacionais.

De acordo com o Sr. Putin, mais de 80% do comércio Rússia-China está sendo conduzido em rublos e yuans.

Combatendo o Ocidente

A SCO foi fundada por Moscou e Pequim em 2001 para combater a influência ocidental percebida na Eurásia. Os membros fundadores também incluem Cazaquistão, Uzbequistão, Tadjiquistão e Quirguistão.

Em 2017, a Índia e o Paquistão se juntaram ao bloco – apesar de sua rivalidade de longa data – como membros de pleno Direito, elevando para quatro o número de potências nucleares afiliadas à SCO.

A Bielorrússia, um importante aliado da Rússia, também está a caminho de se tornar um membro pleno da organização ainda este ano.

A SCO coordena suas atividades com a Organização do Tratado de Segurança Coletiva, uma aliança militar liderada por Moscou de seis países da Eurásia.

Em agosto, os estados membros da SCO devem participar de exercícios conjuntos de segurança na região centro-oeste de Chelyabinsk, na Rússia.

Junto com o Sr. Raisi e o Sr. Putin, a cúpula desta semana contou com a presença dos líderes da Índia, China, Paquistão e das quatro repúblicas da Ásia Central.

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O presidente russo, Vladimir Putin, participa de uma reunião do Conselho de Chefes de Estado da Organização de Cooperação de Xangai por meio de uma videoconferência no Kremlin em Moscou em 4 de julho de 2023. (Alexander Kazakov/SPUTNIK/AFP via Getty Images)

Putin tranquiliza aliados

O conflito em curso entre a Rússia e a Ucrânia quase não foi discutido no evento.

No entanto, Putin aproveitou a oportunidade para tranquilizar seus colegas líderes sobre a estabilidade de seu país após a rebelião, abortada no mês passado, do líder do Grupo Wagner da Rússia.

“O povo russo está consolidado como nunca antes”, disse ele. “Os círculos políticos russos e toda a sociedade… responderam como uma frente unida contra a tentativa de motim armado.”

Em 24 de junho, o chefe do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, liderou uma rebelião de curta duração ameaçando lideranças do alto escalão de Moscou. Como uma empresa militar privada, foi o Grupo Wagner que realizou grande parte da linha de frente dos combates na Ucrânia.

Durante o motim, os líderes de vários estados membros da SCO – incluindo China, Irã, Cazaquistão e Uzbequistão – contataram o Sr. Putin para expressar seu apoio.

Putin agradeceu aos membros da SCO que, segundo ele, expressaram apoio aos esforços de Moscou para “salvaguardar a ordem constitucional e a vida e a segurança dos cidadãos”.

‘Força muito séria’

Com sede em Pequim, a SCO é o maior bloco regional do mundo em termos de população e abrangência geográfica. Seus membros representam coletivamente 40% da população mundial, 60% da massa terrestre da Eurásia e um terço do PIB global.

Em março, a Arábia Saudita – um importante aliado dos EUA no Oriente Médio – formalmente se inscreveu para ingressar na SCO como “parceiro de diálogo”. A mudança é amplamente considerada como um primeiro passo para a adesão plena.

Notavelmente, a mudança ocorreu logo depois que Teerã e Riad concordaram em restaurar os laços diplomáticos – após anos de hostilidade – em um acordo mediado pela China.

A Arábia Saudita não é o único aliado dos EUA que busca ser membro da SCO. No ano passado, o Egito e o Catar também se juntaram ao bloco eurasiano como parceiros de diálogo.

“A Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, as Maldivas, Mianmar, Nepal e assim por diante juntaram-se à lista de parceiros de diálogo da SCO”, disse Bakhtiyer Khakimov, enviado especial de Moscou para assuntos da SCO, em 5 de julho.

“Há um total de 26 estados membros e parceiros de diálogo”, disse Khakimov, segundo a agência de notícias russa TASS . “É uma força muito séria.”

No mesmo dia, o Ministério das Relações Exteriores do Afeganistão expressou seu desejo de participar das próximas cúpulas da SCO.

“O Emirado Islâmico do Afeganistão saúda tais reuniões … para garantir a segurança e o desenvolvimento regional … e considera a participação do Afeganistão em tais reuniões dentro de seus direitos legítimos”, disse o ministério via Twitter.

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