Milhares de iranianos tomaram as ruas pedindo o fim do regime islâmico que tem governado o Irã pela força por quase quatro décadas.
O que começou na semana passada, quando os protestos se focavam nas dificuldades econômicas enfrentadas pelo país, rapidamente se transformou em manifestações contra o regime de seu líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei.
Entre as poucas imagens e vídeos que emergiram do Irã, alguns mostram mulheres que removeram o hijab islâmico, cujo uso foi tornado obrigatório desde a revolução islâmica em 1979.
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Numa dessas imagens, uma mulher jovem pode ser vista de pé numa plataforma numa rua em Teerã com a cabeça descoberta e agitando seu hijab preso na extremidade de um graveto.
Desde que a República Islâmica foi formada em 1979, as mulheres foram as mais suprimidas. Elas não têm permissão para deixar o país sem a autorização do esposo e, nos tribunais, seu testemunho vale apenas a metade do de um homem.
Em resposta aos protestos, as autoridades iranianas bloquearam a internet em partes do país na tentativa de acabar com a agitação.
O regime prometeu responder com “punho de ferro”.
De acordo com números oficiais, 21 pessoas foram mortas e 450 detidas. Devido ao rigoroso controle da informação pelas autoridades, acredita-se que os números reais sejam muito maiores.
Na sequência da fracassada “Revolução Verde” em 2009, que veio em resposta à reeleição contestada do líder iraniano Mahmoud Ahmadinejad como presidente, numerosos abusos dos direitos humanos foram revelados.
Manifestantes foram mortos e alguns dos presos foram torturados e violados sexualmente, de acordo com a Human Rights Watch.
O presidente estadunidense Donald Trump alertou o regime iraniano sobre os abusos dos direitos humanos contra os manifestantes.
“Os EUA estão observando muito de perto as violações dos direitos humanos!”, escreveu Trump no Twitter em 31 de dezembro.
The people of Iran are finally acting against the brutal and corrupt Iranian regime. All of the money that President Obama so foolishly gave them went into terrorism and into their “pockets.” The people have little food, big inflation and no human rights. The U.S. is watching!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) January 2, 2018
Ao contrário das manifestações pró-reforma de 2009, os últimos protestos aparentam ser mais espontâneos e não parecem ser orquestrados por líderes que possam ser identificados e encurralados pelas autoridades.
Embora haja uma variedade de demandas de diferentes classes da sociedade, os vídeos publicados nas mídias sociais sugerem que pessoas jovens da classe trabalhadora compõem a maioria.
Isso poderia ser mais perigoso para as autoridades porque elas consideravam que os menos favorecidos eram leais ao regime islâmico, ao contrário dos manifestantes mais associados com a classe média que foram às ruas nove anos atrás.
Segundo dados oficiais, 90% dos detidos eram menores de 25 anos. Muitos jovens estão muito mais interessados em empregos e mudanças do que no idealismo islâmico e no sentimento antiocidental aos quais a velha guarda se mantém apegada.
Alguns manifestantes gritaram “Reza Shah, abençoe sua alma”, uma referência ao governante iraniano de 1925 a 1941, e sua dinastia Pahlavi que foi derrotada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, o primeiro líder do regime islâmico.
Durante seu discurso perante a 72ª Assembleia das Nações Unidas em Nova York em setembro, Trump disse: “O mundo inteiro entende que o bom povo do Irã quer mudança.”
“Chegará o dia em que as pessoas enfrentarão uma escolha. Elas continuarão no caminho da pobreza, do derramamento de sangue e do terror. Ou o povo iraniano retornará às raízes orgulhosas da nação como um centro de civilização, cultura e riqueza, onde seu povo pode ser feliz e próspero mais uma vez”, disse Trump em suas declarações.
Tanto Trump quanto o vice-presidente Mike Pence mostraram seu apoio aos iranianos que protestam nas ruas.
Pence disse numa mensagem de Twitter, “A América não repetirá o erro vergonhoso de nosso passado quando outros fizeram pouco caso e ignoraram a resistência heroica do povo iraniano quando eles lutaram contra seu regime brutal.”
“Não devemos e não os decepcionaremos”, disse Pence.
As observações de Pence se referiram à resposta da gestão Obama à Revolução Verde em 2009.
Michael Mullen, que serviu como chefe do Estado Maior de 2009-2011 sob Obama, disse numa entrevista à ABC News em 31 de dezembro que, em 2009, a gestão Obama “escolheu não ser tão solidária quanto poderia ter sido na época”.
“Espero que possamos ser [solidários] agora para que o Irã possa continuar a evoluir… Eu acho que o apoio a eles e ao seu povo é absolutamente a coisa certa a fazer”, disse Mullen.
Em abril de 2009, a gestão Obama começou a estabelecer as bases para negociações com o Irã que resultariam no controverso acordo nuclear do Irã, oficialmente chamado de Plano Global de Ação Conjunta, formalizado em 2015.
Sob o acordo, o regime iraniano obteve acesso a mais de US$ 100 bilhões em ativos que foram congelados devido a sanções e também recebeu US$ 1,7 bilhão em dinheiro do governo dos EUA.
Trump anunciou em outubro que sua administração renegociará partes-chave do acordo, de modo que o programa de desenvolvimento de mísseis do Irã se torne parte do acordo, bem como o fim dos prazos nas principais disposições do acordo.
Os especialistas apontaram que, no âmbito do acordo atual, o Irã pode instalar milhares de centrífugas nucleares avançadas em 2026, colocando-os ao alcance de uma arma nuclear dentro de seis meses nesse ponto.
O Irã é oficialmente designado como patrocinador estatal do terror pelo Departamento de Estado dos EUA. Ele é um dos principais defensores do grupo terrorista Hezbollah que opera no Líbano, e também alimentou os conflitos na Síria e no Iraque.
“O regime iraniano gasta a riqueza de seu povo na propagação da militância e do terror no exterior, ao invés de garantir a prosperidade em casa. Os preços dos alimentos básicos e do combustível estão aumentando, enquanto os guardas revolucionários gastam a riqueza do país com grupos militantes estrangeiros e se enriquecem no processo”, disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Sarah Sanders, em 2 de janeiro.
“A América anseia pelo dia em que os iranianos assumirão seu lugar legítimo ao lado das pessoas livres do mundo”, disse ela.
Colaborou: Reuters