Inundações no deserto do Marrocos reavivam lago que estava seco há 50 anos

Por Fatima Zohra Bouaziz e efe
16/10/2024 22:31 Atualizado: 16/10/2024 22:31

As chuvas excepcionalmente fortes que assolaram o Saara no último mês criaram grandes acúmulos de água no meio das dunas do deserto de Merzouga, no Marrocos, e reavivaram um lago que estava seco há mais de 50 anos na província de Zagora.

As chuvas torrenciais do início de setembro, que causaram inundações e enchentes e deixaram 18 pessoas mortas no país, foram “excepcionais” e incomuns devido ao elevado índice pluviométrico, de entre 50 a 250 milímetros, registrado em um período muito curto de tempo.

Esse fenômeno sem precedentes causou o surgimento de vários lagos entre as dunas da localidade turística de Merzouga, que agora se tornaram uma atração para os visitantes, com palmeiras, em alguns casos, parcialmente submersas.

Água no deserto

A cerca de 300 quilômetros a sudoeste de Merzouga, em Zagora, uma região com 46% de dunas, as excepcionais chuvas e inundações que caíram entre 7 e 8 de setembro reavivaram o lago Iriqui, que é de grande importância ecológica para aves migratórias na rota entre Europa e África subsaariana.

Adel Mouman, pesquisador especializado em análise de satélites da Universidade Ibn Tofail, em Kenitra, disse à Agência EFE por telefone que descobriu a presença do lago em 9 de setembro, quando estava analisando o impacto das enchentes na região com imagens do satélite Sentinel.

“A última vez que esse lago teve água foi em 1968. Quando o vi, imediatamente entramos em contato com os nômades da região, que confirmaram que havia água. Então fomos até lá em 15 de setembro e, no dia 16, a universidade publicou a questão em seu site”, declarou Mouman.

Um dia depois, a Nasa publicou uma imagem de satélite feita em 10 de setembro mostrando esse lago e outros reservatórios de água na localidade, comparando a foto com outra tirada um ano antes, na qual não se vê água.

O pesquisador marroquino destacou que o lago tem 13 quilômetros de comprimento e 11 quilômetros de largura, uma superfície sem precedentes, como confirmado à EFE pela Agência Nacional para o Desenvolvimento das Áreas de Oásis e da Árvore de Argan (ANDZOA), já que no passado nunca havia coberto essa superfície.

Crustáceos “adormecidos” por meio século revivem

Mouman descreve a ressurreição do lago como “um fenômeno excepcional”. “Era quase impossível reviver o lago,/ porque o rio Draa (o mais longo do Marrocos), que costumava levar água para o lago no passado, desviou sua rota por causa da seca. O que aconteceu agora foi que a água chegou a Iriqui vinda do norte graças a outro rio, o Mhasser”, acrescentou.

“É todo um ecossistema que está revitalizando o lago”, disse Mouman, além de acrescentar que a água revitalizou os crustáceos chamados triops, cujos ovos podem durar até 70 anos em ambientes secos, e também permitirá que muitas aves migratórias retornem, já que o Iriqui já foi o local onde flamingos colocavam seus ovos.

Mustapha Faouzi, diretor territorial da ANDZOA em Zagora, disse à EFE por telefone que o lago agora reavivou “o valor ecológico” da região. Ele acrescentou que o seu desaparecimento causou uma diminuição na taxa de retorno das aves migratórias para a Europa, um fenômeno também destacado por ornitólogos espanhóis, segundo ele.

“A reabilitação do lago Iriqui é um dos nossos principais objetivos devido à sua importância ecológica e para o turismo científico, é como um paraíso científico, pois abrigava 130 espécies de plantas”, declarou Faouzi.

Ele também ressaltou que o lago tem um impacto positivo sobre a população da região, onde vivem nômades e pessoas semiassentadas, cuja principal atividade é o pastoreio.

O Iriqui, que fica em uma região desértica isolada, continuará sendo objeto de pesquisa de Mouman, que voltará ao local em alguns dias para verificar se as espécies de pássaros que não aparecem há 50 anos voltaram.