Insultos, exigências e concessões: assim foi a negociação entre Prigozhin e Lukashenko

Por Agência de Notícias
27/06/2023 18:19 Atualizado: 27/06/2023 18:19

Insultos, exigências e concessões foram a tônica das negociações entre o chefe do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, e o presidente da Bielorrússia, Aleksandr Lukashenko, para pôr fim ao levante do grupo paramilitar russo contra o comando militar da Rússia.

Em discurso a militares bielorrussos durante uma cerimônia de entrega de patentes, Lukashenko ofereceu um cronograma desses eventos ao longo do último sábado:

8h (hora local, 2h de Brasília): “Começam a chegar informações alarmantes sobre a situação na Rússia”, segundo Lukashenko, que foi informado pelo Serviço Federal de Segurança e pelo Comitê de Segurança do Estado que o líder russo, Vladimir Putin, queria falar com ele.

10h10 (4h10): Putin relata “exaustivamente sobre a situação que ocorre na Rússia”, indicou Lukashenko, que pediu ao seu homólogo russo para “não se apressar”, já que se mostrava disposto a “esmagar” os rebeldes. Lukashenko o convence a entrar em negociações com Prigozhin.

O chefe do Kremlin comenta, no entanto, que o chefe do Wagner não atendeu o telefone e não queria falar com ninguém.

11h (5h): O presidente bielorrusso pergunta a Putin como se comunicar com Prigozhin e estabelece três canais de comunicação com o chefe do Wagner por volta do meio-dia: “Ele respondeu imediatamente”, afirmou

Prigozhin expressa então suas exigências de forma bastante exaltada: “A primeira rodada de conversas durou 30 minutos, exclusivamente xingamentos. Foram dez vezes mais palavrões do que léxico normal”, disse Lukashenko.

O chefe do Wagner exigia a entrega do ministro da Defesa, Serguei Choigu, e do chefe do Estado-Maior, Valeri Gerasimov, a quem acusa de ter traído a Rússia e de serem responsáveis pela morte de milhares de soldados na Ucrânia.

Além disso, pediu um encontro com Putin.

Lukashenko responde que “ninguém entregará Choigu ou Gerasimov nessas condições”.

“Você conhece Putin tão bem quanto eu, ele não vai se encontrar com você ou responder ao telefone nessas circunstâncias”, declarou.

Após duas rodadas de negociações, Lukashenko entende que Prigozhin está pronto para desistir de suas demandas e o alerta que, se pelo menos um civil morrer, eles encerrarão as negociações imediatamente.

Além disso, alertou-o de que, se o avanço do Wagner em direção a Moscou continuasse, Minsk enviaria uma brigada para defender a capital russa, “como em 1941”, em referência à Segunda Guerra Mundial.

Enquanto isso, as forças regulares russas preparam várias linhas de defesa com mais de 10.000 soldados para defender Moscou.

Lukashenko avisa o chefe do Wagner que o levante pode causar derramamento de sangue e que a Rússia tem forças suficientes para “esmagá-lo como um inseto”, apesar do fato de o Exército russo “estar ocupado no front” com a Ucrânia.

16h (10h): Prigozhin diz a Lukashenko que está disposto a aceitar as condições e pede seu conselho sobre como evitar um ataque das forças regulares russas contra a coluna de mercenários, já a 200 quilômetros de Moscou.

O presidente bielorrusso estabelece contato com o diretor do Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB, ex-KGB), Alexandr Bortnikov, para coordenar a retirada dos homens do Wagner.

Também oferece “garantias totais de segurança” ao chefe do Wagner, que inclui a transferência para Bielorrússia tanto dele como de seus combatentes.

20h (14h): As negociações terminam. Prigozhin coordena com Bortnikov a retirada de seus homens. A coluna do grupo Wagner dá meia-volta e inicia o retorno às suas bases deixando Moscou e a cidade de Rostov do Don, no sul da Rússia, que até então estava sob seu controle.

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